O
Diálogo Cultural como Solução para o Paradigma Ético Contemporâneo
Autor: Estêvão Azarias Chavisso
Autor: Estêvão Azarias Chavisso
Estevaochavissohb@gmail.com
Comummente, em quase todo lado, os debates sobre a questão ética e moral já são um hábito. Acompanhados de redundantes discursos de intelectuais de "esquina", teorias sobre a questão ética e moral actual são, de forma especulativa, atreladas à crise de valores que assombra a época contemporânea – o que até certo ponto corresponde a verdade. Nas academias o cenário é catastrófico. A ética foi cunhada meramente como uma cadeira didáctica, abstida da prática por parte dos estudantes.
Temendo analogias com intelectuais de "esquinas", é imperioso que antes de mais definamos os conceitos básicos do artigo em causa; ética e moral. O que é a ética? E o que é a moral?
Henrique C. de Lima Vaz, em sua obra denominada Introdução a Ética Filosófica, demonstra a deterioração semântica do termo ética na sua migração incessante por tantas formas diferentes de linguagem, isto no contexto contemporâneo. Portanto, para uma concisa definição de ambos conceitos, importa voltar à época clássica para buscar a figura de Aristóteles, considerado o primeiro definir com precisão o termo ética.
Para Aristóteles o termo “ethos” pode
ser traduzido como exercício constante das virtudes morais, ou seja, como um
exercício da investigação sobre os costumes. A moral, por sua vez, é de origem
latina, mas, tem como base etimológica o termo “mores” oriunda da palavra grega
“ethos”. É na esteira disto que se pode concluir que ambos termos tiveram
sempre algo em comum no que concerne a sua etimologia, de tal modo que por
muito tempo foram indissociáveis.
A tendência de separar a ética da moral,
afirma Lima Vaz, surge na época contemporânea. A ética passa a designar o
estudo do agir humano social, a moral, por sua vez, é conotada como estudo do
agir humano individual. Assistimos a morte do cidadão para o nascimento do indivíduo.
O protótipo de homem clássico está
extremamente ligado à sociedade. Deseja, antes de mais, o bem colectivo e não o
bem individual, é por excelência cidadão. Em contra partida, o protótipo do
homem moderno não mais apresenta estas características, pelo contrário, este
move-se pelo interesse individual, buscando a satisfação do seu “Ego” e não da sua comunidade, é por
excelência indivíduo.
Neste contexto, a ética contemporânea
posiciona-se contra variedade de tendências morais derivadas do pluralismo
cultural. No seio de uma mesma sociedade, encontramos correntes morais
diferentes que se formam a partir de juízos de valores recebidos por cada
sujeito em seu ciclo de convivência. A imparcialidade exigida na ética faz com
que nenhuma dessas “vertentes” morais seja aceite como melhor.
Luta, outrora, travada por Sócrates,
Platão e Aristóteles contra a sofística – que consistia em estabelecer um Bem Universal
a “Eudaimonia”, em contra posição ao relativismo
sofista que acreditava que o bem variava de região por região – volta a ser
ponto fulcral de pensadores contemporâneos.
Hans Kung – filósofo, teólogo e
escritor suíço – propõem-nos o projecto “ethos mundial”, um espaço para o
encontro de pessoas de diferentes culturas, religiões e origem étnica num mundo
globalizado. Kung acredita que os valores fundamentais devem ajudar a resolver
problemas globais, para além das diferenças culturais, nacionais e religiosas.
Kung estrutura a sua linha de pensamento em três temáticas; não se pode pensar
numa sobrevivência condigna sem “ethos mundial”, não haverá paz no mundo sem
diálogo entre as religiões, e sem paz entre as religiões não haverá diálogo
entre as mesmas.
A proposta de Kung parece, até certo
ponto, mera utopia, mas quando analisada profundamente observa-se quão
importante a mesma pode ser no paradigma actual. Estabelecer um diálogo entre
as diferentes culturas, religiões e etnias pode constituir a pedra filosofal na
luta contra a crise de valores que apoquenta a época contemporânea.
Entretanto, para a realização do tão aclamado
diálogo é necessário que haja, acima de tudo, respeito entre as culturas,
religiões e etnias. É primordial que se abandone, a caduca e deteriorada, ideia
da superioridade de algumas culturas, religiões e etnias sobre as outras.
Não existem culturas, religiões e nem
etnias mais importantes que as outras. Pelo contrário, se por um instante
respeitássemos a única dádiva que nos diferencia dos outros animais – que é a
capacidade de raciocínio – perceberíamos que no fundo todas as diferentes
culturas, religiões, e etnias tendem ao mesmo fim – estabelecer valores,
princípios e uma identidade no homem. Portanto, uma união entre as mesmas seria
a base para a satisfação dos seus tão aclamados intentos.
Bibliografia:
LIMA VAZ, Henrique Cláudio, Introdução a Ética Filosófica, 4 ed. Belo Horizonte, 1999
VAZQUZ,
Adolfo Sanchez, Ética, Civilização
Brasileira, 2000
KUTY, Grisault, 50 autores chaves da filosofia, 2 ed. São Paulo, editora Vozes, 2012
KUNG, Hans, Projeto de Ética Mundial. Uma
Moral Ecumênica em Vista da Sobrevivência Humana. São Paulo, Paulinas, 1993. ISBN 85.05. ( Título original: Projekt Weltethos, 1990.)