O
FILOSOFAR NA FÉ:
Uma
breve História da Filosofia “Cristã” Medieval
Autor: Estêvão Azarias Chavisso
estevaohamurabi@gmail.com
“Eu não tento, senhor, mergulhar em teus
mistérios,
pois minha mente não é adequada, desejo,
porém,
entender
um pouco da tua verdade, que meu coração
já crê e ama. Não procuro compreender-te
para crer, mas creio para compreender.”
Anselmo de Aosta[1]
1.Contextualização
Para que se compreenda os pendores do
pensamento medieval é necessário que antes se compreenda, mesmo que de forma
prévia, o contexto histórico, civilizacional e cultural em que os mesmos se
encontram. Sendo assim, surge a necessidade de uma pequena contextualização
para uma fácil compreensão deste original e distinto período da história.
Posteriormente, de forma clara e resumida, abordarmos a patrística e a figura
de Agostinho de Hipona, que é ponto fulcral da primeira fase desta nossa
pequena incursão ao pensamento medieval.
1.2 Ideia Geral da Idade Média
A época histórica conhecida por Idade
Média recebeu esta designação a partir do contexto epocal renascentista[2]. A
mesma tem seu início, para alguns historiadores, em 476 d.C., com a queda do
Império Romano do Ocidente, para outros, ela inicia em 313 d.C. com Edito de
Milão – proclamado por Constantino, concedendo aos cristãos a liberdade de
culto.
Para Jorge Cautinho, “ o termo “Média”
tem um significado cronológico, cultural e valorativo. Implica, entre si mesmo,
um juízo de valor, formulado na base de um critério classicista.” (COUTINHO,
1997 :3)
Para os renascentistas, a Idade Média
significa um atraso, uma interrupção do desenvolvimento intelectual que já
vinha sendo catapultado pela Antiguidade Clássica. Os homens renascentistas,
amantes dos valores clássicos greco-latinos, promovem o renascimento do ideal
clássico. Para eles, a idade Média seria o milénio que mediava entre antigo
classicismo e o que na época despontava no horizonte da história – o
renascimento.
Se não tivesse acontecido todo conjunto
de factores que fez emergir a Idade Média – pensavam eles – a história deveria
ter continuado a desenvolver-se num sentido efectivamente progressivo. Sendo
assim, para o homem renascentista a Idade Média representa mil anos de um
atraso, mil anos de trevas.
Segundo Jorge Coutinho, “esta
perspectiva sobre a Idade Média está na origem de toda uma tradição de juízos
de valor negativos ou depreciativos que, ao longo dos tempos modernos, se vêm
fazendo sobre ela. Eles tiveram particular acentuação no iluminismo do século
XVIII, tendente a considerar a época um momento das trevas, contraponto
essencial da idade das luzes.” (Ibid:4)
1.3
Emergência da Idade Média
A Idade Média emerge como resultado de
três factores:
ü O
declínio do mundo clássico antigo
ü A barbarização do espaço europeu
ü O
advento e difusão do cristianismo
a)
O Declínio do Mundo Clássico Antigo
O surgimento de um novo período
histórico supõe sempre um processo de decadência da época que procede. Implica
sempre uma transformação ou metamorfose cultural, política e económica. Assim
aconteceu na passagem do mundo clássico para o mundo Medieval. A idade média é
o resultado, antes de mais, do declínio do Império Romano do Ocidente e
civilização e cultura clássicas. Contudo, uma nova idade é sempre herdada da
que estava arruinada ou envelhecida. Não há rupturas absolutas na história.
b)
A Barbarização do Espaço Europeu
Os povos bárbaros que entre o século III
d.C. e V d.C. invadiram e ocuparam o espaço do Império Romano do Ocidente
arrastaram consigo três principais consequências, por um lado apressaram a
ruína do império, já decadente por razões internas. Por outro, estabeleceram
uma nova ordem e uma nova organização políticas. E por fim, de forma efectiva,
fundiram na civilização greco-latina o seu espírito bárbaro ou seu
primitivismo.
c)
O Advento e Difusão do Cristianismo
A influência do Cristianismo na
emergência da Idade Média exerceu-se progressivamente desde a sua aparição no
mundo. Podemos, no entanto, distinguir três momentos decisivos. O primeiro é o
da afirmação face ao paganismo antigo. O cristianismo vai progressivamente
substituindo o humanismo pagão por um humanismo cristão. O segundo momento
decisivo, por nós já referido, acontece com a paz de Constantino, outorgada
pelo Edito de Milão em 313. A partir daí, a igreja sai da clandestinidade e da
marginalidade e começa a sua afirmação no plano da organização social, jurídica
e administrativa. O último momento dá-se no século V, quando a presença do
Cristianismo converge com a presença dos bárbaros e destrói o império. Neste
momento o Cristianismo apresenta-se como a única força espiritual capaz de
salvar a história de um retrocesso total no sentido do primitivismo cultural e
civilizacional, como entende Coutinho.
2.
Uma Filosofia Medieval
Os pensadores dos primeiros a séculos da
Época Moderna têm uma visão redutiva e pejorativa da Época Medieval. Os mesmos
são da opinião de que ela foi um atraso em todos campos do saber. Ambicionam,
portanto, sobre as ruínas de um mundo medieval, reconstruir um antropocentrismo
com substratos da antiguidade clássica – vista por eles como uma época
majestosa. Não obstante, pensadores como Hegel negam categoricamente a
existência de uma filosofia medieval pela dependência da teologia que a
filosofia medieval apresenta.
Segundo o pensador contemporâneo
Henrique Cláudio Lima Vaz, “Essa negação da existência de uma Filosofia
Medieval, ratificada pela figura incontornável de Hegel, deveria ter como
consequência a eliminação ou, pelo menos, a drástica redução do capítulo sobre
a filosofia medieval, na historiografia filosófica, que conhecia no século XIX
rápido progresso. No entanto, não foi esse o destino da história da filosofia
medieval. Ao contrário, o estudo e interpretação dos pensadores e da filosofia
passou a ocupar lugar cada vez mais importante na historiografia filosófica, se
tornando hoje um dos campos mais activos de pesquisa… ” (LIMA VAZ, 2000:406)
A historiografia filosófica medieval, no
seu verdadeiro sentido, teve início no fim da idade moderna – precisamente
século XVIII. O alemão Jocob Brucker é considerado o iniciador da moderna
historiografia, posteriormente fora cultivada pelos dominicanos Charles René
Billuart e Antonio Goudin. Todavia, mesmo no seio do ensino eclesiástico,
nota-se um desinteresse pela filosofia medieval. Entretanto, com tempo o estudo
da Filosofia Medieval vai a ganhar importância. John Inglis, historiador da filosofia,
faz uma apreciação crítica da filosofia moderna. Em sua obra Spheres of
Philosophical and the Historiography of Medieval Philosophy, John ressurge com a questão: é possível a
filosofia na Idade Média – tendo em conta inspiração cristã? A resposta
negativa assume duas posições: a primeira defendia por Tertuliano¹[3] afirmando incompatibilidade entre a doutrina
cristã e a filosofia.
Tertuliano chega a afirmar que,“ em seu
conjunto, não há semelhança entre o
filósofo e o cristão, entre o discípulo da Grécia e o candidato ao céu, entre o
traficante da fama terrena aquele que faz questão a vida, entre o vendedor de
palavras e o realizador de obras, entre quem constrói sobre rochas e quem
destrói, entre que altera e quem tutela a verdade, entre ladrão e guardião da
verdade” (REALE 2005:72). A segunda nasce da visão racionalista absoluta da
filosofia como área autónoma. Deste modo não aceitando também a possibilidade
de uma conciliação.
2.2
A Idade Média entre a Razão e a Fé
Feita, mesmos que em linhas gerais, uma
breve contextualização para melhor compreensão deste vasto período, passemos
para a fase fulcral deste nosso pequeno tratado. A relação existente entre a
razão e a fé (Filosofia e o cristianismo) na Idade Média.
Antes de mais, é importante que se
perceba que a Filosofia Medieval acompanha a história geral da Idade. Peso
embora, numa primeira fase, a filosofia é tida como inimiga do Cristianismo,
posteriormente o próprio Cristianismo se apoderará da filosofia para defender
os seus preceitos. Sobre um Império Romano do Ocidente em declínio, jaze um
fundo cultural grego que contribui para o nascimento dos filósofos pagãos.
Estes, movidos pela justificação lógica e racional, tornam-se os principais
inimigos do Cristianismo. Entretanto, os primeiros movimentos apologética
cristã serão em contra-ofensiva aos ataques dos filósofos pagãos.
Sendo assim, se pode concluir que a
Filosofia Medieval tem seu início antes mesmo do advento da idade Média, na
própria eclosão do pensamento cristão no primeiro século da nossa era. E essa é
a nascente do pensamento, embora com substratos platónicos, originalmente
medieval.
A Filosofia Medieval pode ser dividida
em duas grandes fases: a Patrística (II-VIII) e a Escolástica (XI-XV).
Entretanto, para uma fase preliminar trataremos de Patrística e seu apogeu com
Santo Agostinho.
1.Patrística
A
designação patrística indica quer a época quer uma teologia, a filosofia e a
cultura em geral ligados aos chamados padres da igreja. Esta conserva aqui
significado originário do termo latino Patres (pais). É a era dos pais da
teologia ou da fé cristã racionalmente elaborada.
Abrangendo os primeiros oito séculos da
era cristã, a patrística acompanha a grande curvatura da transição da idade
antiga para a Idade Média. Como já afirmamos, desde o século I a.C. o
Cristianismo vai se afirmando e se consolidando. Desde o século III os bárbaros
invasores vão impondo a sua presença. Progressivamente arruinando o Império
Romano do ocidente vai-se arruinado até chegar ao seu termo em 476. Toda
patrística vive, contudo, ainda sob a base da cultura clássica greco-romana, em
decadência nos primeiros tempos, em ruína nos últimos. Entretanto, este é o
tempo do declínio do espírito pagão e de progressiva afirmação do espírito
cristão.
Para Coutinho “ está é a era de ouro da
elaboração da teologia patrística, uma teologia muito mais positiva e
hermenêutica que especulativa ou filosofante.” (COUTINHO 1997 :33)
A patrística vai rejeitar
sistematicamente muitas das correntes gregas consideradas incompatíveis ao
Cristianismo. Caso nítido do Epicurismo[4] e cepticismo[5]. Nesta fase
Aristóteles, pela abordagem realista que seu pensamento apresenta, vai ser
rejeitado – pelos menos até a chegada da Escolástica e de Tomás de Aquino que
revaloriza, através das primeiras traduções de Aristóteles, o mesmos em várias vertentes. Segundo o
critério cronológico a patrística pode ser dividida em três principais fases:
- Patrística incipiente (I-III)
- Apogeu da Patrística (IV-V)
- Patrística tardia (VI-VIII)
1.2
O apogeu da patrística com Aurélio Agostinho de Hipona (IV-V)
“Em verdade vos digo: ninguém pode
atravessar
o
mar do século se não for carregado pelaCruz de Cristo”
Na primeira fase da patrística os
primeiros padres, anteriores a Agostinho, foram geralmente muito pouco atraídos
pela filosofia. Pelo contrário, interpretaram-na como inimiga dos princípios
cristãos. Notamos, nesta fase, a primeira confrontação entre razão pagã e a fé
cristã. Estamos perante uma época em que o paganismo ainda tem grande
vitalidade, entretanto, é notável uma ascensão e difusão do Cristianismo pelo
mundo. Os pensadores vêem-se obrigados a procurar compreender e definir o
estatuto epistemológico de cada uma, a relação entre uma outra e,
particularmente, a função da filosofia relativamente ao saber da fé.
Na segunda fase da patrística as coisa
parecem tomar outro rumo, os filósofos medievais começam a auxiliar-se da
dialéctica filosófica para defenderem os ideais cristãos. O ponto extremo desta
fase é Aurélio Agostinho, um itinerante em busca da verdade.
a) Vida e Obra de Aurélio Agostinho
Agostinho nasce em África, na cidade de
Tagasta; actual Souk-Aras da Argélia, em 354. A sua busca pelo conhecimento e
certezas começa com o início de sua vida no ensino de retórica em Cartago, Roma
e Milão. Embora tenha vivido sempre dentro do cristianismo ensinado por sua mãe
Mónica, entrega-se ao ambiente de professores e companheiros, vivendo
intensamente tudo o que a licenciosidade poderia lhe dar. Envolve-se com uma
mulher, nascendo seu filho Adeodato. Em Milão tem contacto com o pregador
Ambrósio, conhecendo a filosofia de Plotino[6].
Como um itinerante em busca da verdade,
sua busca a leva do maniqueísmo[7] ao cepticismo para depois posteriormente
chegar ao cristianismo eclesiástico. Converte-se dois anos após seu baptismo
cristão, que ele faz juntamente com seu filho Adeodato, ele tem por objecto um
diálogo com Adeodato, que faleceria pouco depois.
b) O filosofar na fé em Aurélio Agostinho
A filosofia de Plotino mudou
extremamente o modo de pensar de Agostinho, tais mudanças culminariam no
rompimento com o seu conceito maniqueísta da realidade substancial do mal. Com
isto, Agostinho começa a observar o mundo e os homens com outros olhos. Porém,
foi a conversão e a fé em Cristo que efectivamente mudaram a sua vida por
completo. A fé tornou-se substância de vida e pensamento. Assim, estimulado
pela fé, seu pensamento adquiriu nova essência. Doravante, com Agostinho nascia
o filosofar na fé, nascia a filosofia “cristã”, amplamente defendida pela
patrística, mas que teria seu amadurecimento com Agostinho.
Com efeito, com base na essência do
pensamento de Agostinho, uma má leitura pode confundir este filosofar na fé com
fideísmo[8] irracional. Porém, Agostinho está bem distante de fideísmo
irracional. Em agostinho, a fé não substitui e nem elimina a inteligência, pelo
contrário, a fé estimula e promove a inteligência.
“A fé é um modo de pensar assentindo;
por isso, sem pensamento não haveria fé. E analogamente, por seu torno, a
inteligência não elimina a fé, mas fortalece e, e de certo modo, a clarifica.
Em suma: a fé e razão são complementares. ( REALE, 2005:88)
A origem desta visão encontra-se em
Isaías (7,9 na versão grega dos setenta), onde se lê: Se não tiveres fé, não
podereis entender” ao que, em Agostinho corresponde a precisa afirmação: “ a
inteligência é recompensa da fé.
c) Descoberta do mestre interior, a verdade e
a iluminação
Para Agostinho, Deus coincide com a
verdade, ou seja, Deus é a verdade suprema. Assim sendo, o homem deve busca-lo
excessivamente. Porém, esta busca não pode ser feita fora do próprio homem, mas
sim na sua interioridade mais profunda. Pois, na concepção agostiniana, Deus −
que é composto pelas três pessoas em sua unidade substancial “trindade divina”
– se espelha na alma do homem. Assim, diferente da filosofia grega, para
agostinho não é indagando o mundo que encontra-se a verdade, mas é escavando a
alma que se encontra Deus, a verdade por excelência.
Assim sendo, surge a necessidade de se
amor a Deus, e, portanto, estar-se-ia a amar a verdade. Porém, em sua obra
Confissões escrita em 400, Agostinho questiona-se: “o que eu amo efectivamente
amando a Deus? Ele mesmo responde: não amo uma beleza corpórea, não um encanto
transitório, não um fulgor como o da luz, que agrada estes olhos, não doces
melodias de cantos de todo tipo, não o suave perfume das flores, não membros
desfrutando o amplexo carnal. Não são essas coisa que eu amo, amando Deus. E,
no entanto, por assim dizer, amo uma luz, voz, perfume, amplexo do homem
interior que está em mim, onde resplandece em minha alma uma luz que não se
dissipa no lugar, onde ressoa uma voz que o tempo não rouba, onde exala um
perfume que o vento não dispersa, onde provo um sabor que voracidade não reduz,
onde me aperta um complexo que a sociedade jamais dissolve, é isso que eu amo
quando amo Deus”.(REALE, 2005:92)
d) Trindade Divina
Para Agostinho Deus é aquele que é,
porém, essencialmente é trindade. A lógica de Agostinho, que é actualmente a
lógica cristã, a Trindade implica que: Pai, Filho, e Espírito Santo têm
justamente uma substancial igualdade e não sejam hierarquicamente distinguíveis.
Deus, portanto, em sentido absoluto é tanto Pai, como Filho e como Espírito
Santo. Assim, eles são inseparáveis no Ser e actuam inseparavelmente.
Portanto, não havendo diferença
substancial e hierárquica, a igualdade absoluta destas três pessoas implica que
a trindade seja o único e verdadeiro Deus. Contudo, Agostinho demonstra uma distinção entre as pessoas com base no
conceito de ralação. O que significa que para Agostinho cada uma das pessoas é
distinta das outras, mas não ontologicamente (substancialmente) diversa. Ou
seja, o Pai tem o Filho mas não é Filho, o filho tem o Pai mais não é Pai; e o
mesmo se diga do Espírito Santo.
Agostinho reflectiu bastante para chegar
esta complexa conclusão no que concerne a Trindade Divina. Reza uma antiga lenda
que: Um dia enquanto Agostinho passeava na praia, pensando no complexo mistério
da Trindade (no qual estava preparando uma obra), encontrou um menino que,
tendo cavado um buraco na areia, com uma colher queria colocar toda agua do
mar, quando Agostinho disse que era impossível pôr num buraco com uma colher
toda agua do mar, o menino, sob cujas aparências eram de um anjo, respondeu:
seria mais fácil para mim derramar com esta colher toda agua do mar neste
buraco, do que para ti resolver inserir num livro o mistério da trindade.
e) O Que Fazia Deus Antes de Criar O Mundo?
Esta questão leva Agostinho à uma
análise do tempo e da eternidade. Estas análises levariam o pensamento cristão
a soluções geniais. Antes de Deus criar o céu e a terra não havia tempo.
Portanto, não se pode falar de uma antes da criação do tempo. O tempo é criação
de Deus por isso a pergunta proposta, na lógica agostiniana, é descabida. Esta
categoria – o tempo – vale apenas para a criatura – o homem – e não para o
criador – Deus. Assim, a categoria própria de Deus é eternidade, e o tempo é
categoria humana.
O tempo implica passado, presente e
futuro. Porém, o passado não é mais e o futuro não é ainda. E o presente, se
existisse sempre e não transcorresse no passado, não seria mais tempo, mas
eternidade. Na realidade o presente é um contínuo deixar de ser.
Agostinho é um dos mais preeminentes
pensadores cristãos, seu pensamento foi usado para construir e cimentar os
preceitos cristãos durante a época medieval e posteriormente também. Os
próprios movimentos de reforma da igreja tiveram suas bases assentes no
pensamento de Agostinho e Tomás de Aquino. O filosofar na fé não é abandonar a
razão, abraçando um fideísmo irracional, mas é apoderar-se da razão para
fortificar cada vez mais a nossa fé e construir argumentos coerentes capazes de
defender as nossas posições. Como Agostinho diria: Creio para entender, e entendo para crer.
Referências
Bibliografias:
AGOSTINHO, Santo. O Mestre. Tradução:
António Soares Ribeiro. São Paulo, SP: Landy, 2006
COUTINHO; Jorge, Elementos da História
da Filosofia Medieval, Lisboa, [SE],2ª ed. 1997
ABAGNANO; Nicola, História da Filosofia:
tradução de António Coelho, Lisboa, 5ªed.[SE], 1999
AGOSTINHO, Aurelio; Confissões: tradução
de Joao Beata e Maria Cristina, Lisboa, INCM, 2ªed. 2004
REALE; Geovane, História da Filosofia;
Patrística e Escolástica São Paulo, Paulinas, 2 ª ed. 2005
Versão
Preliminar
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[1] Teólogo e filósofo italiano. Foi
prior do Mosteiro Beneditino de Bec, na Normandia. Escreveu o Monologium (1077)
onde, por influência de Agostinho de Hipona, apresentou Deus como o mais
supremo dos seres. Em 1078, escreveu o Proslogium onde formulou o que, no
século XVIII, ficou conhecido como prova ontológico da existência de Deus.
Nesta argumentação, Anselmo sustentava que, mesmo os cépticos, teriam de
reconhecer que, na dúvida, está implícita a possibilidade da existência de
Deus. Em 1093 foi nomeado arcebispo de Canterbury. Em 1720 Anselmo recebeu o
título de Doutor da Igreja.
[2] Período da história europeia
caracterizado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico,
especialmente pela sua arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e
difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI.
[3]
Século (II-III) foi um cristão africano, natural de Cartago – zona da
actual África branca. Tinha um carácter rigorista e extremista. Tertuliano
defende a auto-suficiência da fé e rejeita qualquer recurso a filosofia por
parte dos cristãos
[4] Sistema de filosofia baseada em
Epicuro. (341 a.C.-270 a.C.) A doutrina epicurista mais conhecida é a de que o
prazer constitui o bem supremo e a meta mais importante da vida. Os prazeres
intelectuais são preferíveis aos sensuais. A verdadeira felicidade consiste na
serenidade que resulta do domínio do medo, quer dizer, dos deuses, da morte e
da vida futura. O fim último é a supressão destes temores.
[5] Que nega a possibilidade de alcançar
o conhecimento da realidade, como é em si mesma. Por extensão, também significa
dúvida do que, geralmente, é aceito como verdade. Todo o cepticismo filosófico
está baseado na Epistemologia.
[6] (205-270 d.C.), Filósofo romano.
Fundador do neoplatonismo, um sistema de pensamento baseado nas ideias de
Platão. Plotino aceitava a doutrina da emanação que supõe a transmissão
constante das forças do ser absoluto através de diferentes agentes. Suas obras
compreendem 54 tratados em grego, as Eneadas, em uma adaptação feita por seu
aluno Porfírio.
[7] Antiga religião que recebeu o nome
de seu fundador, o sábio persa Mani (c. 216-c. 276). Ele acreditava que um anjo
lhe havia aparecido e o nomeara profeta de uma nova e última revelação. Pregou
por todo Império persa, inclusive enviou missionários ao Império romano. O
maniqueísmo baseia-se em uma divisão dualista do Universo, na luta entre o bem
(Deus) e o mal (Satã). Esses dois âmbitos estavam separados, porém a escuridão
invadiu a luz e se mesclaram. A espécie humana é o produto desta luta. Com o
tempo, poder-se-ia resgatar todos os fragmentos da luz divina e o mundo se
destruiria; depois disso, a luz e a escuridão estariam novamente separadas para
sempre.
[8] Doutrina emancipadora de uma fé
excessiva que “descarte”, até certo ponto, a coerência e a racionalidade
humana.