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Por:Estêvão Azarias Chavisso, Maputo
TAIWAN: UM PARCEIRO AUSENTE EM MOÇAMBIQUE
Por:Estêvão Azarias Chavisso, Maputo
A inexistência de relações diplomáticas entre Moçambique e
Taiwan afasta a ilha nacionalista dos negócios do país da África
Austral. Mas especialistas ouvidos pelo Plataforma Macau consideram que,
apesar disso e da China, as duas partes podem ter maior intercâmbio
económico.
O maior parceiro comercial e grande aliado político de Moçambique é a
China e só esse facto basta para explicar a quase ausência de negócios
de Taiwan no país lusófono do sul de África. Os poucos números que se
conhecem dessas trocas comerciais são reduzidos, e Taiwan continua fora
do pelotão de asiáticos que investem fortemente em Moçambique: China,
Japão, Coreia do Sul, Vietname, Tailândia e Índia.
Para o empresário moçambicano Dino Foi, que viveu e estudou na
Formosa, a “culpa” é da geopolítica, leia-se da rivalidade entre China e
Taiwan, e da “falta de vontade” do governo moçambicano em estabelecer
relações comerciais com a ilha.
“ Na verdade, o Estado moçambicano receia um eventual desentendimento
com a China. No emntanto, a partir do momento em que assumimos Taiwan
como uma província chinesa, Moçambique pode efectivamente manter
relações comercias com Taiwan sem problemas. Existem vários ministros e
diretores nacionais africanos que, apesar de manterem relações
diplomáticas com a China Popular, já estiveram em Taiwan à procura de
oportunidades de negócio”, disse Dino Foi, entrevistado em Maputo pelo
Plataforma.
Também para Maria Gustava, responsável pela Direção da Ásia/Oceânia
do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, a inexistência de
relações diplomáticas não condiciona as relações comerciais. “Não há
problema nenhum em mantermos relações comerciais com Taiwan, tanto que
existem empresários taiwaneses a investirem em Moçambique”, disse Maria
Gustava, ao Plataforma.
A diretora afirmou que Moçambique não pode ter relações diplomáticas com Taiwan pois a Formosa não é reconhecida pela ONU.
“Nós não reconhecemos Taiwan como um Estado, por isso não podemos ter
relações diplomáticas com o mesmo. A nossa constituição é guiada pelos
princípios da ONU, se a ONU não reconhece Taiwan como um Estado, nós
também não o faremos”, realçou.
A diretora defende ainda que não é verdade que Moçambique não mantém
relações económicas com Taiwan devido ao receio de um eventual
desentendimento com a China. “Nós somos um Estado soberano, as nossas
decisões são autónomas. Não é verdade que haja um temor por eventual
desentendimento com a China”, disse a diplomata. Questionada sobre os
níveis de investimento taiwanês em Moçambique, Maria Guistava admitiu
disse que o governo não tinha dados pois não existe uma entidade estatal
que monitore o número do investimento nos dois Estados.
Segundo Foi, ainda em 2013, as autoridades moçambicanas travaram
ajuda humanitária enviada pela Formosa, por altura de grandes cheias no
país. “Os taiwaneses mandaram uma equipa com 16 médicos, 39 enfermeiros e
dois contentores de medicamentos para ajudar os moçambicanos afectados
pelas cheias. No entanto, os médicos taiwaneses não foram autorizados a
trabalhar e tiveram de voltar. As pessoas vieram ter comigo a
questionar, e eu fiquei sem saber o que fazer ou que dizer”, disse Foi,
presidente da companhia Foi Strategic Group.
GRANDES OPORTUNIDADES
DE NEGÓCIO
Apesar dessa situação, Foi acredita que há um grande espaço para
Moçambique e Taiwan desenvolverem relações mais estreitas na economia.
“Atualmente, Taiwan é, talvez, a 19º economia mundial, com um PIB per
capita de cerca de 22 mil dólares, com salário mínimo de cerca de 700
dólares e com nível zero de analfabetismo. Taiwan tem em reservas
líquidas de moeda estrangeira cerca de 300 mil milhões de dólares
americanos. Em contrapartida, o mesmo tem relações diplomáticas com
menos de 23 países. Taiwan tem uma economia altamente robusta. É um
verdadeiro tigre asiático que a própria China não pode ignorar, então
quem somos nós para ignorar? Moçambique não devia desprezar um Estado
nesta posição”, frisou.
E o empresário, que dirige a fundação taiwanesa Tsu Chi Foundation,
de ajuda humanitária, em Moçambique considera que as caraterísticas do
investimento de Taipé no estrangeiro são diferentes das de Pequim.
“A China depende muito do carvão, Taiwan não. Para Taiwan, o carvão é
uma alternativa que talvez até os próximos 10 anos vai terminar. Taiwan
não importa madeira não processada, nem castanha não processada. Para
Taiwan, o que interessa é a presença e a eficácia do empresariado
taiwanês em África”, afirmou.
E deu um exemplo: “Obviamente, quando Taiwan quer fazer uma relação
comercial tem puxado, até de uma forma forçosa, a parte diplomática.
Mas, Taiwan sabe que não tem condições favoráveis para forçar relações
diplomáticas com qualquer Estado africano, tanto mais que neste momento
China e Taiwan mantêm relações muito boas. Então, a Formosa contenta-se
com relações comerciais, por exemplo, Taiwan tem relações comerciais com
a África do Sul, muito embora África do Sul tenha relações diplomáticas
com a China”.
O mesmo ponto de vista foi acolhido por Lourenço Sambo, diretor geral
do Centro de Promoção de Investimentos (CPI) de Moçambique, que defende
que o facto de Moçambique não manter relações diplomáticas com Taiwan
não afeta as relações comerciais entre as duas partes.
“A nível geral, posso afirmar que existem relações comerciais entre
moçambique e Taiwan, apesar de não existirem relações diplomáticas. Uma
coisa é comércio, outra coisa totalmente diferente é política”, disse,
ao Plataforma. “ É verdade que não existe nenhuma delegação comercial
moçambicana em Taiwan, e muito menos uma delegação taiwanesa em
Moçambique. O que existe são empresários taiwaneses que investem em
Moçambique. Nós recebemos empresários do Taiwan sem problemas, por
exemplo, agora vai um grupo de empresários moçambicanos para Taiwan
interessados em investir na área do turismo, não há problema nenhum”,
firmou Sambo.
APROVEITAR A SUAZILÂNDIA
Dino Foi considera que seria “fácil” incrementar as relações
comerciais com os dois países, sob uma fórmula muito utilizada pela
Formosa. “Taiwan tem um modelo de atuação muito interessante, que
consiste na instalação de uma autoridade de exportação e importação, o
que facilita o processo de interação comercial. Seria uma boa ideia para
implementar em Moçambique”, defendeu, propondo a criação de uma câmara
de comércio bilateral.
“Não precisaríamos, num primeiro momento, de uma intervenção do
Estado moçambicano como tal. Mais tarde, poderia ser criada uma espécie
de representação comercial que não precisa ser demasiadamente
burocrática. Este seria um mecanismo para estabelecer relações
comerciais” defendeu.
De acordo com o empresário moçambicano, numa primeira fase, a
embaixada de Moçambique na vizinha Suazilândia, poderia ser importante
pois as duas partes têm relações com esse reino da África Austral.
“A situação em que nos encontramos é complicada. Eu, até certo ponto,
tenho jogado o papel de embaixador de Moçambique em Taiwan, mesmo sem
credenciais do Estado moçambicano. Em Taiwan, ninguém faz um movimento a
nível comercial ou diplomático com Moçambique sem me procurar, no
entanto, é necessário que o Estado moçambicano comece a preocupar-se com
isso. Neste exacto momento, por exemplo, eu estou a namorar um grupo de
empresários taiwaneses dispostos a investir em Moçambique na área da
agricultura, desde que haja abertura”, assegurou.