O
Curso de Licenciatura em História: Realidade e Utopia (ou simplesmente “Ecos da
Segunda Oficina de História”)
Por: Lino António Guirrungo*
No dia 18 de Dezembro de 2015
participei da „2ª Oficina de História‟, que teve lugar na Sala de Leitura do
Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), subordinada ao tema „Como arranjar
emprego em História?‟. O evento foi organizado pela “Oficina de História (Moçambique)”,
um movimento criado por jovens estudantes do Departamento de História da
Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e da Universidade Pedagógica (UP).
A singularidade do evento está no
facto de ter conseguido reunir um painel de jovens recém-licenciados (dr.
Herman Tinosse & dr. Maider Mavie), que singraram no mercado laboral,
associados a um professor já com larga experiência (Prof. Dr. Eléusio dos
Prazeres Viegas). Para além disso, a „2ª Oficina de História‟ foi notavelmente
transversal ao campo do Curso de História ao conseguir atrair diferentes grupos
de pessoas, muitos deles formados em áreas alheias àquela ciência social.
Do que se pôde depreender da
cerimónia, não existe uma, fórmula mágica‟ que garanta que todos os formados em
História possam automaticamente conseguir um emprego. Ainda assim, num olhar
mais optimista do problema, os intervenientes concordaram que é possível criar
diferentes soluções que proporcionam maiores possibilidades de sucesso no ramo
laboral. Na minha opinião, as soluções apresentadas podem ser sintetizadas de
duas maneiras: i) soluções estruturais e ii) soluções conjunturais.
O primeiro grupo de soluções
aponta para o melhoramento do currículo do Curso de Licenciatura em História.
Nesta perspectiva, decepcionante para aqueles que já fizeram a formação dado
que não seriam afectados pela solução, o Curso de História, particularmente
leccionado na UEM, deve ser reelaborado no sentido de permitir que o mesmo
esteja mais próximo das exigências do mercado. Pelo que notei dos participantes,
os estudantes formados em História na maior universidade pública do país, ainda
mesmo no ingresso na universidade, ficam a saber que o seu curso é uma espécie
de „limbo‟, isto é, um curso que não permite indicar de forma certa em que
áreas poderão actuar (tal como ocorre com os formados, por exemplo, em
Contabilidade ou Direito).
Se,
por um lado, os estudantes formados na Universidade Eduardo Mondlane não podem
ser considerados
professores por excelência, uma vez que a Universidade Pedagógica já oferece aquela
especialidade, ou ainda, por outro lado, documentalistas ou arquivistas, dado
que existem
também escolas de formação que se dedicam exclusivamente nessas áreas, estes ficam
no vazio alimentado apenas pela retórica de que «o formado em História pode
trabalhar em qualquer lugar».
É
por isso que falo da condição de limbo na qual os estudantes de História da UEM
estão inseridos. Eles podem actuar em qualquer sector (ou seja, nada está
„prédefinido‟), desde que se reinventem nesse sentido. Creio que esta
característica da História é bastante vantajosa dado que permite aos seus formados
encontrarem um enquadramento em diferentes sectores laborais. A prova disso pode
se encontrar nos próprios oradores da „2ª Oficina de História‟, já que dois
deles actuam em áreas indirectamente distanciadas da História. No entanto,
considero perigoso que os estudantes em História se acomodem aos
lugares-comuns, como indicado pela frase citada no parágrafo anterior.
É
preciso uma reinvenção curricular do Curso de Licenciatura em História que
indique de forma relativamente clara e realista em que áreas poderão actuar os
seus formados. Obviamente que não se pode esperar que isso ocorra da mesma
forma como decorre com os estudantes de Veterinária, Contabilidade ou Direito. Não
obstante, contrariamente ao apontado por um dos intervenientes do evento, não
acredito que o facto de eu estudar a História da Logística em Moçambique ou a
História das Transacções Comerciais faz de mim um especialista em gestão ou
contabilidade. Não me parece realístico colocar as coisas dessa
forma.
O
segundo grupo de soluções aponta para a criatividade individual na busca pelo
emprego. Como
mencionado no evento, o desemprego é um problema geral mas também apresenta especificidades
para os formados em História (por algumas razões já acima indicadas). Neste sentido,
foi apelado que os estudantes (ou os já formados) estejam bem claros daquilo
que querem
dos seus futuros profissionais de modo que criem soluções inovadoras na busca
pelas oportunidades
de emprego.
A solicitação apresentada na
cerimónia é bastante salutar porque incentivou que os estudantes (ou formados)
em História procurem criar projectos de pesquisas que mostrem viabilidades para
a mudança social. Além disso, dada a transversalidade ou „omnipresença‟ (como
sarcasticamente cunhada por um dos intervenientes do evento) da História, foi
dito que era possível os formados em História trabalharem em áreas que de
antemão fogem da sua zona de conforto (pesquisa, documentação/arquivística,
ensino). Ainda nesta segunda perspectiva
de soluções, acredito que os intervenientes da „2ª Oficina de História‟ tenham
ignorado ou deixado de enfatizar alguns aspectos na solução do problema em
questão.
O primeiro aspecto que importante
é o apoio que os formados em História devem receber, tanto institucional como
de particulares. Por apoio institucional refiro-me à criação de estágios
profissionais para os estudantes do Curso de Licenciatura em História,
organizados por parcerias da própria Universidade (ou do departamento que
tutela o curso) com as empresas. O apoio de particulares, dependente das
relações sociais que os estudantes criam ao longo da formação, está ligado ao
apadrinhamento por parte de professores ou outras individualidades aos estudantes
tidos como esforçados.
Entretanto, reconhecendo a
dificuldade de implementar as soluções acima, é preciso que os formados
aprendam com urgência a fazer os documentos necessários na busca por
oportunidades de trabalho (CV‟s, cartas de apresentação, cartas de pedido de
estágios, etc.). Em caso de desconhecimento, hoje em dia, a internet é uma
excelente plataforma para iniciar as primeiras buscas. Ou, como indicado por um
dos participantes da cerimónia, os formados devem procurar obter as informações
sobre como redigir tais documentos em pessoas mais experientes. Em virtude da
pouca experiência que os formados possuem, é essencial que estes participem de
grupos voluntários ou de formações gratuitas ou monetariamente acessíveis como
forma de enriquecer os seus currículos.
É igualmente importante que os
formados em História não se desesperem mas que permaneçam firmes e convictos na
busca por oportunidades de trabalho. Até porque aqueles que não concebem
utopias as quais se agarrem, facilmente temem o futuro ou vivem de remorsos do
seu passado.
* (Licenciado em História pela
Universidade Eduardo Mondlane [UEM])