It’s all Fucked
Autor: Albert Massango

Não conseguia pensar em mais outra coisa senão no
passado, presente e futuro, três tempos com idades diferentes, um mais velho
que o outro. Conhece-se o passado através da mente, aliás, o pretérito é um
caminho que nos guia ao presente e o futuro, por seu turno, constitui um
mistério se não uma incógnita complexa e indecifrável.
Ergui-me aos poucos, entretanto sem ideia de o que fazer.
Daí que matutei e a primeira ideia que me surgiu foi dirigir-me ao livro que
lia, O Ladrão que Estudava Espinosa, de Lawrence Block.
Já estava com o
livro nas mãos, lendo a página que me introduzia ao quarto capítulo, quando
repentinamente constatei que não fazia sentido prosseguir com a leitura porque
me faltava atenção, (quando dei por mim estava a repetir o mesmo parágrafo pela
quarta vez).
Descobres que a vida faz pouco sentido quando estás
sozinho enclausurado em pensamentos que te escravizam e que te levam a pensar
na própria existência – às vezes me dava vontade de parar de pensar no que
realmente me tirava atenção e o sono mas, damn,
eu era incapaz.
Atirei o livro ao chão, tendo, de imediato, ficado
deitado de costas pensando em todo aquele cenário que na minha mente se
projectava criando uma frustração, uma espécie de imagens e vozes que me
perseguiam mesmo quando tentava me distrair.
Porque não sabia se tinha de me levantar ou continuar a
dormir, optei em ficar de cócoras no centro da cama, absorto em pensamentos
indecifráveis. (até agora, sou incapaz de te dizer o que me teria passado pela
mente, para além dos três tempos)
Notando que uma dor de cabeça e um sentimento de solidão
me invadiam, pego no celular para falar com alguém, à procura de um antídoto,
mas esta simplesmente não responde à chamada.
‘Estou
simplesmente cansado. Estou farto do trabalho, da faculdade e dos abraços
fervorosos’, passou esta frase pela cabeça, para significar que estou farto de
ser parte destas falsas relações – que me enchem de abraços fervorosos mas, no
fundo, vazios.
Talvez faça sentido ser um ser único. Daí distancio-me do
celular, tento cobrir-me com os lençóis mas sinto um calor infernal, que me
cria uma macabra vertigem. Fecho os olhos, vejo uma escuridão, volto a abri-los
e o brilho da lâmpada causa-me uma outra vertigem.
‘O que faço nesta solidão dolorida?’- questiono-me,
entretanto, a resposta não me vem. Talvez a solidão faça sentido, pois nascemos
e morreremos sós. Aliás, não vou conseguir viver assim por muito tempo.