Maldito Boletim!
por: Assuçênia Macuácua
Meia noite é , exactamente, a hora
que os ponteiros do meu relόgio marcam. Estou aqui, como
sempre, escutando minhas “estranhices”. Até chega a ser
divertido ser estranha, pois todo mundo
quer ser considerado normal, então, porquê ser
normal?
Prefiro ser estranha mesmo, por preguiça,
dá uma trabalheira enorme ter de convencer a sociedade
que sigo as regras para ser politicamente
aceite. Mas o que seria ser normal? Bem, na
verdade, nem pretendo falar disso, pouco me importa mesmo, talvez
numa outra altura, se disse lembrar . Vamos ao
que interessa!
Encontro-me deitada de barriga, lendo o autor de
que tanto gosto e do qual não me dispo: Auster. Tenho
como harmonia perfeita para acompanhar a
minha leitura a tão dócil voz de
Birdy, cantora, compositora britânica, interpretando o
seu primeiro álbum, cujo título é o seu próprio nome.
Continuo viajando a convite de Auster na sua obra: “ O
Homem na Escuridão”, um dos seus memoráveis
trabalhos, até que, repentinamente, pauso. Fecho
o livro e o atiro-me à cama, pois o
sono começara a apoquentar-me.
Mas, antes de me deitar ponho-me
sentada em frente ao computador e com o objectivo
de fazer nada, senão um comportamento estranho
repetitivo que tenho e calho com um boletim científico que
levara, há semanas, num amigo com o objectivo de,
nas horas vagas, lê-lo.
Por uns 20 ou 25 minutos, não me lembro
precisamente e não preciso: Prendi a atenção
na leitura do mesmo e pus-me a conversar sozinha
com o meu intelecto sobre o que se
discutia no mesmo. O boletim defendia a
despenalização do aborto por Ergimino Mucale.
Antes que eu me esqueça, eu
“era” contra a posição de Mucale porque
do meu ponto de vista fazer aborto é
um crime e tal.Novamente, o sono voltou a atormentar-me
e, dessa vez, não resisti e me rendi
saindo do computador e com o frio a
tocar no meu corpo sem excepções , uma vez
que vesti uma roupa leve para dormir.
Atirei-me à cama e enrolei-me como uma
cobra no meu cobertor e, sem mais
nem menos, apaguei, sim, caí no sono. Entrei para o mundo do além,
sim, falo dos sonhos. Lá estava eu
e, desta vez, foi-me tão nítido que
decidi contar o que me acontecera nos
sonhos: É assim, repentinamente, eu me
encontrava grávida junto da minha amiga
Laurinda e lá estávamos nós desesperadas,
pois não estava dentro dos planos de
nenhuma de nós engravidar sem terminarmos
a nossa licenciatura e, o facto mais
incrível é que nenhuma de nós tinha o
conhecimento dos pais destas crianças que carregávamos.
Obviamente, estávamos fustradas e sem saber o
que fazer e a quem recorrer, pois
nas nossas famílias essa notícia não seria
de bom agrado e, principalmente, para o
meu pai que apostou tudo em mim e na minha
formação.
Nunca se pode recordar tudo
que acontece num sonho, mas o que me
marcou e não ficou nos sonhos é que eu
me encontrava, junto da minha amiga,
na fila de um hospital pronta para
fazer um aborto.
Chegou a minha vez na
fila e a drª Joana, uma médica-chefe
e amiga da minha mãe desde a época
das suas gravidezes, estava ali pronta
para fazer o aborto, mas, exactamente,
na hora em que ela ia começar
com os procedimentos senti o meu
ventre a doer e, afinal de
contas, era a minha bexiga já a
reclamar e logo despertei correndo para casa
de banho aliviar a minha bexiga.
Ainda continuava desnorteada e quase
chorava, mas depois apalpei a minha
barriga e percebi que aquilo fora um
pesadelo. Pocha! Nunca mais leio coisas
dessas antes de dormir - disse eu
respirando de alívio.
Mas agora surge a questão: afinal,
qual é a
minha real posição sobre o aborto? Pois
estive a ponto de
fazê-lo no desespero
de um sonho.
Fim