A Política de não Política na Escola de Jornalismo
Qualquer
governo que se preze sabe que a educação é um ponto de extrema importância para
desenvolvimento de um país. As consequências de um sistema de educação
deteriorado não são de imediato sentidas, todavia, condicionam o
desenvolvimento futuro da própria nação. Em outros termos, se hipoteca o futuro
deste mesmo povo. Sendo Moçambique um estado ainda muito jovem (com menos de 40
anos de independência), os problemas que o sector da educação apresenta são
muitas vezes atrelados a este factor. Por outro lado, facto do país pertencer a
lista dos mais pobres do mundo (o terceiro mundo) é também apontado como causa
para a existência de um sistema educacional deteriorado.
São vários os problemas que o
sector da educação nacional apresenta, dentre os quais podem ser apontados como
os mais nocivos os seguintes: a falta de escolas secundárias em determinadas
zonas rurais, a falta de condições mínimas para o processo de aprendizagem
(salas condignas e material de estudo), a qualidade do próprio ensino e a incapacidade
de desenvolver a visão crítica e interventiva do estudante aos paradigmas da sociedade.
No entanto, para uma abordagem profícua pretendemos pegar apenas no último
ponto e dilacera-lo ao máximo. Para tal, é necessário que o nosso pequeno
estudo apresente a objectividade exigida para estudos do género. Sendo assim, o
mais recomendável é fragmentar a análise, pegando numa instituição de ensino
nacional à título de exemplo. Com efeito, tomemos a Escola de Jornalismo como “objecto
de análise ” – visto que os problemas da mesma afectam-nos directamente.
A Escola de Jornalismo é uma
instituição de formação em comunicação, ela lecciona os cursos de Jornalismo,
Publicidade e Marketing e Relações Públicas. Presume-se que os agentes da
comunicação por esta formados, respondam, imparcialmente, às demandas da
sociedade moçambicana. Porém, a formação destes agentes da comunicação no seio
da Escola de Jornalismo é de índole duvidosa.
O regulamento “ditatorial” desta
instituição está a degradar o pensamento crítico do estudante. De acordo com as
regras internas, os estudantes não podem em nenhum momento escrever sobre
política no jornal interno (ABC). Porquê e Como? Se homem, como bem dizia
grande estagirita “Aristóteles”, é um
animal político por natureza. Com regimes do género não estaríamos a agredir um
dos princípios maiores, a liberdade de expressão?
Alicerçados por este tipo de
regime, apenas estar-se-ão a formar jornalistas que tendem a ser passivos em
todas as acções governamentais. Jornalista parciais, que, ao invés de defender
com unhas e garras a profissão, vergam-se aos pequenos trocados que lhes são
oferecidos pelo governo com vista a ofuscar actos macabros por este perpetuados.
Ao se instituir a “política de não política”
na Escola de Jornalismo, esta a se assumir tecnicamente que os jornalistas que
são formados nesta instituição de ensino não devem em nenhum momento expor o
seu descontentamento em relação aos problemas política nacionais. Sendo assim,
se desde a formação isso não lhes é permitido, é
claro que mesmo na vida profissional enfrentarão vários problemas.
Conhecer as técnicas do LEAD, assim como dominar a terceira
pessoa gramatical, não fazem de alguém um jornalista sério. É com capacidade de
discutir pontos de carácter crítico que se molda um bom jornalista. Jornalismo é
uma área que deve por natureza ser de carácter “contra-ofensivo” – por isso a denominação
“contra-poder”.
É certo que é
preciso difundir a notícia, reportagem e publicidades, porém, e o artigo de
opinião? É indubitável que um jornalista passivo e limitado de ter um pensamento
crítico − como o que é
formado na Escola de Jornalismo, terá problemas sérios em trazer-nos uma abordagem
interessante neste tipo de texto jornalístico.
Como o caro leitor pode
constatar, nossa posição é contrária ao regime vigente na Escola de Jornalismo - pelo menos quanto a política da não
política. A liberdade de expressão é a base para qualquer sistema democrático.
É inconcebível que um jornalista seja incapaz de fazer uma leitura concisa do
panorama político nacional. A posição da Escola de jornalismo, quanto a
política da não política, reflecte deterioração progressiva do sistema nacional
de educação. Entretanto, o jornalista não deve assistir ao funeral do
jornalismo imparcial de braços cruzados, há necessidade de se manifestar contra
este tipo de regime ditatorial.
Autor: Jeremias
Chemane