segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Ciência/ Filosofia: Epistemologia Contemporânea



                                                                                          

A Crítica ao Verificacionismo; O Pensamento Epistemológico de Karl Popper  
  
                                                        Autores:    Estêvão Azarias Chavisso e Carla Chilengue 
                                                                                                       

Resumo: O presente trabalho pretende apresentar o pensamento epistemológico de Karl Popper, tendo em conta a crítica ao Verificacionismo proposta pelo autor. O trabalho divide-se em quatro partes que compreendem a seguinte sequência: um breve historial sobre a evolução do método científico, o conceito e a história do surgimento da epistemologia como ciência e a importância do Círculo de Viena no pensamento epistemológico.         

Palavras-chave: Epistemologia, Verificacionismo, Falsificacionismo e Neopositivismo   

1.Introdução
A  partir da Época Moderna, através de Galileu[1],  é introduzido o método empírico na classificação dos enunciados científicos. A ciência, outrora abstracta, especulativa e contemplativa, ganha um carácter prático, preocupando-se em estabelecer um conhecimento fundado na experiência sensível.     

Com o passar dos séculos, já na época contemporânea, surge a epistemologia. A mesma, portanto, nasce precisamente no século XX, no momento áureo da Revolução Científica. Esta nova ciência pretende julgar os critérios de cientificidade de uma teoria, analisando seu método, julgando sua validade e definindo seu objecto de estudo.

O Círculo de Viena, organizada entre 1924 a 1930, foi responsável pela reformulação do pensamento positivista, que propõe o verificacionismo como condição sine qua non para validar uma preposição.

Karl Popper, filosofo austríaco nascido na primeira década do século passado, é um dos primeiros e mais importantes críticos ao verificacionismo. A crítica de Popper pretende, por tal, substituir o verificacionismo neopostista  por um falsificacionismo racionalista cíitico. Popper acreditava que o método indutivo, que parte de observações particulares para inferências gerais, não provava na totalidade a aplicabilidade universal de uma teoria.           
   
A instituição do Verificacionismo pelos neopositivistas suscitou muitos debates sobre a epistemologia no século XX. As premissas do Neopostivismo, além de refutar à metafísica e exigir procedimentos lógicos e matemáticos nas abordagens em todas esferas do conhecimento, consideravam a experiência como a condição para aceitar uma preposição como realmente verídica. Popper, em sentido contrário, assume se como responsável pela morte do verificacionismo ao instituir o falcificacionismo.

1.1 Objectivos 

1.1.1 Objectivo Geral

ü  - Analisar o pensamento epistemológico crítico de Karl Popper 

1.1.2 Objectivo Específicos

ü  -Apresentar o Contexto Histórico do Surgimento da Epistemologia
ü  -  Identificar a Importância do Círculo de Viena
üDefinir o falsificacionismo como oposição ao Verificacionismo      


2. Contextualização; Origem da Epistemologia  



As bases para Revolução Científica iniciaram no século XV, consistindo na valorização de um conhecimento mais estruturado e prático, desenvolvendo formas empíricas de se constatar os fatos. Até a Idade Média[2], o conhecimento humano estava muito atrelado ao modo de concepção da vida que a religiosidade propagava. A ciência, por sua vez, estava muito atrelada à  filosofia e possuía um cárter abstracto e especulativo. Entretanto, o florescer de novas concepções a partir do século XV permitiu uma reformulação no modo de se constatar os fenómenos. A nova forma de pensar, comprovar e, principalmente, fazer ciência começava a surgir.

Diversos movimentos sociais, culturais e religiosas prestaram suas valiosas contribuições para o incremento da Revolução Científica. Aquele era o período do Renascimento[3], uma fase que pregava a volta da cultura Greco-romana e propagava a mudança de orientação do teocentrismo para o antropocentrismo. Outra característica era o humanismo, uma corrente de pensamento interessada em um pensamento mais crítico  e, principalmente, valorizava mais os homens. Tais abordagens mudaram muito o pensamento humano da época.

A ciência ganhou muitas novas ferramentas. Passou a ser mais aceita e vista como importante para um novo tipo de sociedade que nascia. As comprovações empíricas ganharam espaço e reduziram as interferências das influências místicas da Idade Média.

2.Surgimento da Epistemologia

2.1 História da Epistemologia


Já no século XX surge a epistemologia, como resultado do momento áureo da Revolução Científica que vinha sendo operada. A epistemologia, portanto, surge da necessidade de reflectir sobre as ciências, especificamente a física. Com a pretensão de determinar a o valor do discurso científico, a mesma irá focalizar-se nas ciências físico-matemáticas, num primeiro momento. Mesmo assim, importa realçar, a epistemologia não está, no seu desenvolvimento, somente preocupada como as ciências naturais. A mesma está preocupada em conferir critérios de cientificidade a todo tipo de ciências, tanto sociais como naturais.

2.2 Definição; Etnológica e Geral  

O termo Epistemologia provem do grego episteme, que significa ciência, e  logos, que é tratado ou estudo. É o ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento. Relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência, pois, em uma de suas vertentes, avalia a consistência lógica de teorias e suas credenciais científicas.

Os anglófonos, na sua definição, concebem a epistemologia como teoria de conhecimento. Por seu turno, os francófonos compreendem a epistemologia como reflexão sobre o conhecimento especificamente científico. A mesma pode ser concebida como uma disciplina que visa fundamentar, caracterizar e sobretudo, julgar o seu valor, conferindo-lhe o estatuto de conhecimento certo e automaticamente justificado.
  

2.3 Características da Epistemologia

Sendo a epistemologia uma ciência que interroga a natureza e o valor dos princípios, conceitos, métodos e  resultados das ciências, são  visíveis duas principais característica:
ü   É um discurso reflexivo (fundamentado à volta das próprias ciências)
ü  É um discurso crítico (não pretende simplesmente descrever a ciência, mas pretende, principalmente, julga-la) 

3. Karl Popper e a Crítica ao Neopostivismo
O pensamento epistemológico de Popper é, em parte, uma crítica à epistemologia neopostivismo do Círculo de Viena. Portanto, é imperioso, antes mesmo de apresentarmos a epistemologia Popper, contextualizarmos o neopostivismo, identificando suas principais premissas.  

3.1 Círculo de Viena e a Fundação do Verificacionismo  
Segundo explicam os historiadores da filosofia Geovane Reale e Dario Antiseri, o Círculo de Viena foi, oficialmente, formado em 1924, quando estúdios vienenses, nomeadamente Moritz Schlik, Herbert Feigl e Friedrich Waismann reuniram um grupo de intelectuais para discutir ciência.

Segundo  Reale e Antisiri (2006), o pensamento do Círculo de Viena fundava-se numa perspectiva positivista ,uma  reformulação do pensamento de Augusto Comte sobre a abordagem experimental que as ciências deviam adoptar. Neste contexto, afirmam os autores, postulava-se o Neopostivismo.

“O princípio fundamental do Neopostivismo é o princípio de verifição, segundo o qua1 tem sentido apenas as proposições que podem empiricamente ser verificadas, ou seja, apenas as proposições que podem se reduzir ou traduzir na linguagem "coisificada" da física.” (REALE e ANTISERI, 2006: 113)

3.1.2 Prioridade do Neopostivismo 

A teoria Neopostivismo apresentava quatros principais premissas: 

ü  -Aspiração de fundamentar o conhecimento a partir de bases rigorosamente empíricas por meio de uma linguagem unificada 

ü  -O Verificacionismo (segundo o qual, uma preposição é significativa se for possível sua verificação empírica)

ü  -O repúdio pela metafísica (Pois é preciso considera-la um conjunto de preposições sem sentido)  

ü   -A utilização de técnicas de análise provenientes da lógica matemática


3.2 Substituição do Verificacionismo pelo Falsificacionismo de Popper  
Segundo Reale e Antiseri (2006), a ideia de que Popper fez parte do Círculo de Viena é uma lenda literária, no entanto, em sua autobiografia, ele assume a responsabilidade pelo fim do neopostivismo.

Os historiadores observam que “ Popper substituiu o princípio de verificacionismo (que um principio de significância) pelo critério de falsificabilidade (que é um critério de demarcação entre ciência e não ciência); substituiu a velha e venerável, mas, em sua opinião, impotente teoria da indução, pelo método dedutivo da prova; deu uma interpretação diferente da interpretação de alguns membros do Círculo de Viena a respeito dos fundamentos empíricos da ciência”. (REALE e ANTISERI, 2006:141)

O falsificacionismo de Popper, portanto, observa que a força de uma preposição não baseia-se em suas repetições empíricas ou experimentais, mas sim na solidez que a mesma preposição apresenta quando submetida às críticas e refutações.

Popper, segundo os autores, “ deu uma interpretação diferente da interpretação de alguns membros do Círculo de Viena a respeito dos fundamentos empíricos da ciência, afirmando que os protocolos de natureza absoluta e definitiva; reinterpretou a probabilidade, sustentando que as melhores teorias científicas (enquanto implicam mais e podem ser mais bem verificadas) são as menos prováveis, rejeitou a antimetafisica dos vienenses, considerando-a simples exclamação, e, entre outras coisas, defendeu a metafísica como progenitora de teorias científicas”. (REALE e ANTISERI, 2006:142)

3.3 Crítica de Popper à Indução  
Segundo Popper, citado por Reale e Antiseri, “já foi resolvido um problema filos6fico fundamental: o problema da indução. Essa solução tem sido extremamente fecunda e tem-me permitido resolver grande número de outros problemas filos6ficos”. (REALE e ANTISERI, 2006: 143)

A indução, portanto, observa Popper, não existe. Por conseguinte, não pode fundamentar nada, e, consequentemente, não existem todos conhecimentos baseados em meras rotinas. E é um erro pensar que a ciência empírica proceda com métodos indutivos.

“Normalmente, afirma-se que uma inferência indutiva quando procede a partir de assertivas particulares, como os relatórios dos resultados de observações ou de experimentos, para chegar a asserções universais, como hipótese ou teorias”. (ibidem:144)  

Segundo observa David Papineau (2012), em seu artigo o Falsificacionismo de Karl Popper, o pensamento de Popper olha para a prática da ciência para nos mostrar como lidar com o problema. Segundo o autor, Popper observa que para começar a ciência não se baseia na indução. Popper nega que os cientistas começam com observações e inferem depois uma teoria geral. Em vez disso, primeiro propõem uma teoria, apresentando-a como uma conjectura inicialmente não corroborada, e depois comparam as suas previsões com observações para ver se ela resiste aos testes.

Portanto, segundo Popper, não existe procedimento indutivo, e a ideia da mente como tabula rasa, como observam os empiristas, é um mito.

3.4 Popper entre Problema e as Hipóteses   
Para Popper, segundo afirmam Reale e Antiseri, “ a pesquisa não parte de observações, mas sempre de problemas, de problemas práticos ou de urna teoria que se chocou com dificuldades, ou seja, que despertou expectativas e depois as desiludiu”. (REALE e ANTISERI, 2006: 143)

A pesquisa, segundo afirmam Popper, inicia-se com os problemas; buscamos precisamente a solução dos problemas. E para resolver os problemas, é necessária a imaginação criadora de hipóteses ou conjecturas; precisamos de criatividade.

“A pesquisa inicia pelos problemas. Para resolver os problemas, é preciso elaborar hipóteses como tentativas de solução. Uma vez propostas, as hipóteses devem ser provadas. E essa prova se dá extraindo-se consequências das hipóteses e vendo se tais consequências se confirmam ou não”. (REALE e ANTISERI, 2006: 143)


Segundo Popper, para que seja verdadeira, urna teoria deve ser provável ou verificave1 em princípio. Em outras palavras, deve ser falsificável, ou seja, deve ser tal que dela sejam extraíveis consequências que possam ser refutadas, isto é, falsificadas pelos fatos.



Bibliografia:

REALE, Giovanni,  ANTISERI, Dario , Historia da Filosofia: de Freud  à actualidade, v. 7, São Paulo,  2006


PAPINEAU, David, Falsificacionismo de Karl Popper, disponível  em: http:waww.aartedepensar.com/leit_falsificacionismo.html ( consultado a 04 de Outubro de 2014)


[1]  (1564-1642), Físico, matemático, astrónomo italiano, considerado um dos precursores do método cinético moderno.     

[2] Período da história entre 476 d.C. e 1453 d.C., época dominada por um pensamento teocêntrico. A esfera política, religiosa e científica estava entregue ao poder eclesiástico da igreja católica. É um período, afirmam os historiadores da ciência da modernidade (476-1789), um tempo de estagnação cientifica, época das trevas.   
    
[3] Período da história europeia caracterizado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO Créditos : AS por:Lino A. Guirrungo (Jan, 2019) Eu nasci pouco depois que...