A Crítica ao Verificacionismo; O
Pensamento Epistemológico de Karl Popper
Resumo: O
presente trabalho pretende apresentar o pensamento epistemológico de Karl
Popper, tendo em conta a crítica ao Verificacionismo proposta pelo autor. O trabalho divide-se em quatro partes
que compreendem a seguinte sequência: um breve historial sobre a evolução do
método científico, o conceito e a história do surgimento da epistemologia como ciência
e a importância do Círculo de Viena no pensamento epistemológico.
Palavras-chave: Epistemologia, Verificacionismo,
Falsificacionismo e Neopositivismo
1.Introdução
A
partir da Época Moderna, através de Galileu[1], é introduzido o método empírico na classificação
dos enunciados científicos. A ciência, outrora abstracta, especulativa e contemplativa,
ganha um carácter prático, preocupando-se em estabelecer um conhecimento
fundado na experiência sensível.
Com
o passar dos séculos, já na época contemporânea, surge a epistemologia. A mesma,
portanto, nasce precisamente no século XX, no momento áureo da Revolução Científica.
Esta nova ciência pretende julgar os critérios de cientificidade de uma teoria,
analisando seu método, julgando sua validade e definindo seu objecto de estudo.
O
Círculo de Viena, organizada entre 1924 a 1930, foi responsável pela reformulação
do pensamento positivista, que propõe o verificacionismo como condição sine qua
non para validar uma preposição.
Karl
Popper, filosofo austríaco nascido na primeira década do século passado, é um
dos primeiros e mais importantes críticos ao verificacionismo. A crítica de Popper
pretende, por tal, substituir o verificacionismo neopostista por um falsificacionismo racionalista cíitico.
Popper acreditava que o método indutivo, que parte de observações particulares
para inferências gerais, não provava na totalidade a aplicabilidade universal
de uma teoria.
A
instituição do Verificacionismo pelos neopositivistas suscitou muitos debates sobre
a epistemologia no século XX. As premissas do Neopostivismo, além de refutar à
metafísica e exigir procedimentos lógicos e matemáticos nas abordagens em todas
esferas do conhecimento, consideravam a experiência como a condição para
aceitar uma preposição como realmente verídica. Popper, em sentido contrário,
assume se como responsável pela morte do verificacionismo ao instituir o
falcificacionismo.
1.1
Objectivos
1.1.1
Objectivo Geral
ü - Analisar
o pensamento epistemológico crítico de Karl Popper
1.1.2
Objectivo Específicos
ü -Apresentar
o Contexto Histórico do Surgimento da Epistemologia
ü - Identificar
a Importância do Círculo de Viena
ü - Definir
o falsificacionismo como oposição ao Verificacionismo
2. Contextualização; Origem da Epistemologia
As bases para Revolução Científica iniciaram no século XV, consistindo na valorização
de um conhecimento mais estruturado e prático, desenvolvendo formas empíricas de se constatar os
fatos. Até a Idade Média[2], o conhecimento humano
estava muito atrelado ao modo de concepção da vida que a religiosidade
propagava. A ciência, por sua vez, estava muito atrelada à filosofia e
possuía um cárter abstracto e especulativo. Entretanto, o florescer de novas
concepções a partir do século XV permitiu uma reformulação no modo de se
constatar os fenómenos. A nova forma de pensar, comprovar e, principalmente,
fazer ciência começava a surgir.
Diversos movimentos sociais, culturais e
religiosas prestaram suas valiosas contribuições para o incremento da Revolução
Científica. Aquele era o período do Renascimento[3],
uma fase que pregava a volta da cultura
Greco-romana e propagava a mudança de orientação do teocentrismo para o antropocentrismo.
Outra característica era o humanismo,
uma corrente de pensamento interessada em um pensamento
mais crítico e, principalmente, valorizava mais os homens.
Tais abordagens mudaram muito o pensamento humano da época.
A ciência ganhou muitas novas ferramentas.
Passou a ser mais aceita e vista como importante para um novo tipo de sociedade
que nascia. As comprovações empíricas ganharam espaço e reduziram as
interferências das influências místicas da Idade Média.
2.Surgimento da Epistemologia
2.1 História da Epistemologia
Já
no século XX surge a epistemologia, como resultado do momento áureo da
Revolução Científica que vinha sendo operada. A epistemologia, portanto, surge da
necessidade de reflectir sobre as ciências, especificamente a física. Com a
pretensão de determinar a o valor do discurso científico, a mesma irá focalizar-se
nas ciências físico-matemáticas, num primeiro momento. Mesmo assim, importa
realçar, a epistemologia não está, no seu desenvolvimento, somente preocupada como
as ciências naturais. A mesma está preocupada em conferir critérios de
cientificidade a todo tipo de ciências, tanto sociais como naturais.
2.2 Definição; Etnológica e Geral
O termo Epistemologia provem do grego episteme, que significa ciência, e logos, que é tratado ou estudo. É
o ramo da filosofia
que trata da natureza,
das origens e da validade do conhecimento. Relaciona-se com a metafísica, a
lógica e
a filosofia
da ciência, pois, em uma de suas vertentes, avalia a consistência
lógica de teorias e suas credenciais científicas.
Os
anglófonos, na sua definição, concebem a epistemologia como teoria de
conhecimento. Por seu turno, os francófonos compreendem a epistemologia como
reflexão sobre o conhecimento especificamente científico. A mesma pode ser
concebida como uma disciplina que visa fundamentar, caracterizar e sobretudo,
julgar o seu valor, conferindo-lhe o estatuto de conhecimento certo e
automaticamente justificado.
2.3 Características da Epistemologia
Sendo
a epistemologia uma ciência que interroga a natureza e o valor dos princípios,
conceitos, métodos e resultados das
ciências, são visíveis duas principais
característica:
ü É um discurso reflexivo (fundamentado à volta
das próprias ciências)
ü É
um discurso crítico (não pretende simplesmente descrever a ciência, mas pretende,
principalmente, julga-la)
3.
Karl Popper e a Crítica ao Neopostivismo
O
pensamento epistemológico de Popper é, em parte, uma crítica à epistemologia neopostivismo
do Círculo de Viena. Portanto, é imperioso, antes mesmo de apresentarmos a
epistemologia Popper, contextualizarmos o neopostivismo, identificando suas
principais premissas.
3.1 Círculo de Viena e a Fundação
do Verificacionismo
Segundo
explicam os historiadores da filosofia Geovane Reale e Dario Antiseri, o
Círculo de Viena foi, oficialmente, formado em 1924, quando estúdios vienenses,
nomeadamente Moritz Schlik, Herbert Feigl e Friedrich Waismann reuniram um
grupo de intelectuais para discutir ciência.
Segundo
Reale e Antisiri (2006), o pensamento do
Círculo de Viena fundava-se numa perspectiva positivista ,uma reformulação do pensamento de Augusto Comte
sobre a abordagem experimental que as ciências deviam adoptar. Neste contexto,
afirmam os autores, postulava-se o Neopostivismo.
“O
princípio fundamental do Neopostivismo é o princípio de verifição, segundo o
qua1 tem sentido apenas as proposições que podem empiricamente ser verificadas,
ou seja, apenas as proposições que podem se reduzir ou traduzir na linguagem
"coisificada" da física.” (REALE e ANTISERI, 2006: 113)
3.1.2
Prioridade do Neopostivismo
A
teoria Neopostivismo apresentava quatros principais premissas:
ü -Aspiração
de fundamentar o conhecimento a partir de bases rigorosamente empíricas por
meio de uma linguagem unificada
ü -O
Verificacionismo (segundo o qual, uma preposição é significativa se for
possível sua verificação empírica)
ü -O
repúdio pela metafísica (Pois é preciso considera-la um conjunto de preposições
sem sentido)
ü -A utilização de técnicas de análise provenientes
da lógica matemática
3.2
Substituição do Verificacionismo pelo Falsificacionismo de Popper
Segundo
Reale e Antiseri (2006), a ideia de que Popper fez parte do Círculo de Viena é
uma lenda literária, no entanto, em sua autobiografia, ele assume a responsabilidade
pelo fim do neopostivismo.
Os
historiadores observam que “ Popper substituiu o princípio de verificacionismo
(que um principio de significância) pelo critério de falsificabilidade (que é
um critério de demarcação entre ciência e não ciência); substituiu a velha e venerável,
mas, em sua opinião, impotente teoria da indução, pelo método dedutivo da
prova; deu uma interpretação diferente da interpretação de alguns membros do
Círculo de Viena a respeito dos fundamentos empíricos da ciência”. (REALE e
ANTISERI, 2006:141)
O
falsificacionismo de Popper, portanto, observa que a força de uma preposição
não baseia-se em suas repetições empíricas ou experimentais, mas sim na solidez
que a mesma preposição apresenta quando submetida às críticas e refutações.
Popper,
segundo os autores, “ deu uma interpretação diferente da interpretação de
alguns membros do Círculo de Viena a respeito dos fundamentos empíricos da
ciência, afirmando que os protocolos de natureza absoluta e definitiva;
reinterpretou a probabilidade, sustentando que as melhores teorias científicas
(enquanto implicam mais e podem ser mais bem verificadas) são as menos prováveis,
rejeitou a antimetafisica dos vienenses, considerando-a simples exclamação, e,
entre outras coisas, defendeu a metafísica como progenitora de teorias científicas”.
(REALE e ANTISERI, 2006:142)
3.3 Crítica de Popper à Indução
Segundo
Popper, citado por Reale e Antiseri, “já foi resolvido um problema filos6fico
fundamental: o problema da indução. Essa solução tem sido extremamente fecunda
e tem-me permitido resolver grande número de outros problemas filos6ficos”.
(REALE e ANTISERI, 2006: 143)
A
indução, portanto, observa Popper, não existe. Por conseguinte, não pode
fundamentar nada, e, consequentemente, não existem todos conhecimentos baseados
em meras rotinas. E é um erro pensar que a ciência empírica proceda com métodos
indutivos.
“Normalmente,
afirma-se que uma inferência indutiva quando procede a partir de assertivas
particulares, como os relatórios dos resultados de observações ou de experimentos,
para chegar a asserções universais, como hipótese ou teorias”. (ibidem:144)
Segundo
observa David Papineau (2012), em seu artigo o Falsificacionismo de Karl
Popper, o pensamento de Popper olha para a prática da ciência para nos mostrar
como lidar com o problema. Segundo o autor, Popper observa que para começar a
ciência não se baseia na indução. Popper nega que os cientistas começam com
observações e inferem depois uma teoria geral. Em vez disso, primeiro propõem
uma teoria, apresentando-a como uma conjectura inicialmente não corroborada, e
depois comparam as suas previsões com observações para ver se ela resiste aos
testes.
Portanto, segundo Popper, não existe
procedimento indutivo, e a ideia da mente como tabula rasa, como observam os
empiristas, é um mito.
3.4
Popper entre Problema e as Hipóteses
Para Popper, segundo afirmam Reale e
Antiseri, “ a pesquisa não parte de observações, mas sempre de problemas, de
problemas práticos ou de urna teoria que se chocou com dificuldades, ou seja,
que despertou expectativas e depois as desiludiu”.
(REALE e ANTISERI, 2006: 143)
A pesquisa, segundo afirmam Popper, inicia-se
com os problemas; buscamos precisamente a solução dos problemas. E para resolver
os problemas, é necessária a imaginação criadora de hipóteses ou conjecturas;
precisamos de criatividade.
“A pesquisa inicia pelos problemas. Para
resolver os problemas, é preciso elaborar hipóteses como tentativas de solução.
Uma vez propostas, as hipóteses devem ser provadas. E essa prova se dá
extraindo-se consequências das hipóteses e vendo se tais consequências se
confirmam ou não”. (REALE e ANTISERI, 2006: 143)
Segundo Popper, para que seja verdadeira,
urna teoria deve ser provável ou verificave1 em princípio. Em outras palavras,
deve ser falsificável, ou seja, deve ser tal que dela sejam extraíveis
consequências que possam ser refutadas, isto é, falsificadas pelos fatos.
Bibliografia:
REALE, Giovanni,
ANTISERI, Dario , Historia da Filosofia: de Freud à actualidade, v. 7,
São Paulo, 2006
PAPINEAU, David, Falsificacionismo
de Karl Popper, disponível em: http:waww.aartedepensar.com/leit_falsificacionismo.html
( consultado a 04 de Outubro de 2014)
[1] (1564-1642), Físico, matemático, astrónomo
italiano, considerado um dos precursores do método cinético moderno.
[2] Período da história entre 476
d.C. e 1453 d.C., época dominada por um pensamento teocêntrico. A esfera
política, religiosa e científica estava entregue ao poder eclesiástico da
igreja católica. É um período, afirmam os historiadores da ciência da
modernidade (476-1789), um tempo de estagnação cientifica, época das
trevas.
[3]
Período da história europeia caracterizado por um
renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua
arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a
Europa, durante os séculos XV e XVI
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