A Tomada do
Frelimigrado
CHOQUE!
Essa é palavra que corre o mundo nesta manhã para descrever o que aconteceu
ontem em Moçambique. E não poderia ser outra. Foi com choque que li as notícias.
Dediquei-me a dois artigos de dois jornais nacionais. “Revolução ou Golpe de Estado? A tomada do Frelimigrado” questionava-se
um deles na capa, enquanto o outro, num longo artigo de opinião, proclamava “O Povo no Poder: Caiu o reino do batuque e da
maçaroca”.
Em pouco menos de 24
horas, o país mudou de regime, tem novo um Presidente Interino, metade dos
governantes estão presos e a quase toda outra metade fugiu para o estrangeiro.
Ninguém sabia ao certo explicar como tudo aconteceu tão rapidamente, mas havia
certeza de como tudo havia começado. A mensagem estopim foi espalhada por
telemóveis.
Juraria ainda ontem
que ia ser mais uma dessas promessas de marchas e protestos que nunca chegavam
de acontecer. Agora não consigo parar de rir com ironia ao lembrar de um trecho
de uma dessas músicas do rapper Azagaia “se
fosse o 25 de Junho, nem ias à Machava”. O novo 25 de Junho havia
acontecido e eu não participei do processo.
Tudo começou no
início da noite quando foram descobertos 7 carros contendo boletins de voto. Ninguém
sabe ao certo a que partido político os boletins favoreciam. No entanto, quando
os primeiros resultados eleitorais foram anunciados indicando uma onda vermelha
em mais um ano eleitoral, parece que as pessoas perderam sono e não quiseram
dormir.
As mensagens começaram a ser partilhadas nessa altura. Dizia a mensagem
do texto: “Povo no poder! Mandemos todos
eles correr. Que venha connosco o corajoso que puder. Do Norte. Do Centro. Do
Sul. De Todo Moçambique para todas praças e gabinetes.” De repente. A
mensagem já estava no Whatsapp, Twitter e Facebook.
Enquanto eu me
distraía na TV vendo diversão escapista Hollywodiana ignorando as mensagens de
texto, o estopim havia sido ateado. As pessoas inundaram praças, entraram nas
assembleias provinciais, invadiram esquadras e quartéis e, para a surpresa
geral, os soldados e polícias reagiram como se fossem os mesmos da Rússia em
1917. Não houve gás lacrimogénio, alguns membros da FIR protestantes foram neutralizados.
À meia-noite parece
que metade do governo havia fugido para o estrangeiro. Foi aí que último
bastião foi tomado: a capital. Tal como na luta de libertação, a capital era o
destino final da revolta. Marchantes de Manhiça, Marracuene, Matola, Magoanine,
Maxaquene e até Sommerschield saíram de casa e foram a marcha. E tomaram tudo.
Nossos políticos na
valem nada e porque não sabem se comemos antes de dormir, não devem falar por
nós. Ontem todo moçambicano subitamente reconhecia isso e fizeram uma
revolução. Aliás, todos menos eu, pois a meia-noite eu já dormia.
Lino A. Guirrungo
(Julho, 2018)
Muito boa comunicação literária em narração do rumo político que caracteriza os dias que correm nao só em Moçambique mas também um pouco em todo canto do mundo. O texto relembra que as revoluções só adormeceram por uns tempos mas não desapareceram!
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