domingo, 9 de fevereiro de 2014

A História do Movimento Romântico





            O espírito romântico dos finais do século XVIII 

                                                             por: Estêvão Azarias Chavisso

1. Ideia Geral 

É, indubitavelmente, um dos períodos mais lendários da história, a sua evolução esteve extremamente ligado ao contexto histórico e político que caracterizava a Europa nos finais do século XVIII e início do século XIX. A filosofia, a pintura, escrita, a e as diversas formas de arte caracterizavam-se por uma abordagem imaginativa e subjectiva, carregadas de emoção e carácter visionário ou onírico. 

No compito geral, o Romantismo será tido como a fase da eclosão de um o movimento artístico e intelectual europeu, marcado pela subjectividade imaginativa do ser humano. Se, por um lado, os movimentos filosóficos, literários e artísticos do período clássico (civilização greco-romano) e neoclássico (época das luzes) eram delicados, claros e completos, o movimento romântica, por sua vez, caracteriza-se por um esforçar exacerbada na expressão o estado mais profundo da alma e sentimentos intensos ou místicos, evitando claridade e a definição. 

O presente resumo ambiciona, de forma clara e objectiva, debruçar-se sobre do movimento romântico europeu, com especial enfoque para o Romantismo literário. Todavia, para uma abordagem mais exaustiva, será necessário abordar, mesmo que em linhas prévias, o contexto histórico e civilizacional do surgimento do próprio Romantismo. 

No primeiro capítulo, buscar-se-á analisar a génese do Romantismo no seu todo, ou seja, observar-se-á o romantismo não só como um movimento literário, mas também intelectual e artístico etc. No mesmo capítulo, contextualizar-se-á o romantismo, buscando perceber os seus antecedentes.

No capítulo subsequente, tratar-se-á do ponto fulcral do resumo em causa, o romantismo literário. Na senda deste capítulo, abordar-se-á a essência do espírito romântico para, posteriormente, trazer-se as características deste movimento literário europeu. O último capítulo está reservado ao romantismo literário português, onde trar-se-á, de forma resumida, as divisões do movimento romântico literário português e as suas características.

2.Génese do Romantismo  

2.1 Contextualização 

Numa Europa ocidental, caracterizada pelo desenvolvimento das forças produtivas, sociais, económicas, ideológicas e morais, desperta um movimento artístico, intelectual e autónomo designado Romantismo. Este movimento, segundo Alberto Ferreira, “surge numa situação revolucionária geral provocada simultaneamente pela rebelião da burguesia contra a ordem monárquica-feudal, por um lado, por outro, pela revolta contra os compromissos das revoluções burguesas que não alcançaram os resultados implícitos nas suas premissas políticas e ideológicas”. (FERREIRA, 1979 p.10) Sendo assim, o Romantismo literário será antecedido por uma tumultuosa fase de fermentação, o que vai originar uma série de autores que chamados de pré-românticos. Estes são detentores de um substrato de um iluminismo[1] emancipador dos valores clássicos. Alguns autores, com base nesta distinção entre os pré-românticos e os românticos, chegam a afirmar que existe uma tradicional oposição entre os clássicos e românticos. Porém, Alberto Ferreira acredita que “é difícil sustentar a tese acima, pois, em bom sentido hermenêutico, nem Rousseau[2] e nem Forster[3], escritores de formação iluminista, são clássicos no verdadeiro sentido da razão filosófica setecentos. (Ibid. P.12)

As profundas transformações psicológicas e sociais incutidas pela revolução renovam certamente os dados propostos pelo iluminismo, entretanto, uma parte dos românticos nem os nega nem os dissolve. Alberto Ferreira observa que “a queda da revolução e do império alterou o espírito iluminista. Às grandes esperanças sucede uma época de desilusão e esperanças desiludidas”. (Ibid. p.12) 

Com efeito, importa realçar que há os que, sem abandonarem a suas posições iluministas, têm uma nova maneira de sentir. Porém, segundo Ferreira, “esta atitude geral, que promove sobretudo o domínio da sensibilidade afectiva e da moral não serve para integrar a arte nem justificar a posição frontal ao clássico”. (Ibid. p.11)   

Admite-se que os centros maternos do romantismo tenham sido especificadamente a Inglaterra, a França, a Escócia e a Alemanha. Entretanto, são sobre tudo os alemães que melhor caracterizaram e definiram genericamente o romantismo.

2.3 Definição do Romantismo

O escritor alemão Ernst Hoffmann[4] definiu a essência do romantismo como a “infinita saudade”. Na escolha dos temas, os artistas do movimento romântico mostraram grande afinidade com a natureza — especialmente em seu aspecto selvagem e misterioso — assuntos exóticos, melancólicos, melodramáticos e que produzem medo ou paixão. Prova disto é obra que se segue de um dos mais célebres pintores românticos da história, Eugène Delacroix[5]

Bridgeman Art Library, London/New York
A Liberdade guiando o povo
A Liberdade guiando o povo (1830, Louvre, Paris) é uma das obras mais nitidamente românticas e célebres de Delacroix. A tela, comprada pelo governo francês, mas considerada excessivamente incitadora, só foi exposta em 1848.

Alberto Ferreira, citando Baudeilare, define o romantismo como “uma maneira de sentir” (Ibid. p.10). A subjectividade e o espiritualismo, aqui já referidos, revelam-se características básicas deste movimento.



 3. Romantismo Literário
 
Até finais do século XVIII, os gostos literários na Alemanha e na França separaram-se progressivamente das tendências clássicas e neoclássicas. Os autores românticos encontram sua primeira fonte de inspiração na obra de grandes pensadores europeus: o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau e o escritor alemão Johann Wolfangvon Goethe[6]. O romantismo literário surge como uma escrita literário caracterizado por sua entrega à imaginação e à subjectividade. Com efeito, este ideal literário vai emancipar a liberdade de pensamento, de expressão e da idealização da natureza. 

Para alguns autores o romantismo nasceu em oposição ao classicismo,  e representa a estética e os anseios da classe burguesa em ascensão. Peso embora tenha sido definido com exactidão na Alemanha, como bem afirmou-se, foi somente na França, após a revolução burguesa de 1789 que o movimento se expandiu.

3.1 O Espírito Romântico

Foi Rousseau quem estabeleceu o culto ao indivíduo e celebrou a liberdade do espírito humano ao afirmar: “Sinto antes de pensar”. Goethe e outros alemães incidiram em aspectos mais formais, ao exaltar o espírito romântico manifestado nas canções populares alemãs, na arquitectura gótica e nas obras do inglês Shakespeare. Goethe, inclusive, se propôs a imitar a liberdade estilística de Shakespeare em sua obra Götzvon Berlichingen[7], um drama histórico que justifica a insurreição contra a autoridade política, inaugurando o movimento literário conhecido como SturmundDrang[8]
                                             
Com a difusão do movimento romântico aos demais países da Europa, certos temas e atitudes tornaram-se o centro das preocupações dos escritores do século XIX. Grande parte dos movimentos libertários e abolicionistas do final do século XVIII e princípio do século XIX originaram-se em conceitos da filosofia romântica. O desejo de libertar-se das convenções e da tirania, a valorização dos direitos e da dignidade do ser humano, a política e os temas sociais foram “temas-chaves” na poesia e na prosa românticas em todo o mundo ocidental.

3.3 Características do Romantismo Literário Europeia 

As principais características do romantismo foram: primeiro, sua preocupação com a natureza. Segundo, o prazer que proporcionam os lugares virgens e a presumível inocência dos habitantes do mundo rural. Para Alberto Ferreira, "uma das características do movimento romântico é colocar-se numa situação negadora de valores burgueses mesmo quando o artista romântico alinha pelas revoluções burguesas". (Ibid. p.11)

4. Romantismo Literário Português
Da ruptura com o neoclassicismo, o romantismo português enquadra-se no contexto evolutivo do próprio romantismo europeu. Este, por sua vez, desenrola-se ao longo do século XIX. Porém, é divido em três fases: pré-romântica, ultra-romântica e por fim a Terceira Geração. 


4.1 Fase pré-romântica 
Considera-se o ano de 1825 como o início efectivo do romantismo literário português com a publicação, em Paris, do poema Camões. Em 1826, foi publicado D. Branca, ambos da autoria de Almeida Garrett[9], Alexandre Herculano[10] e António Feliciano de Castilho[11].

Estes autores deram vida a primeira geração de escritores românticos que tinham como traços dominantes, além da religiosidade, um regresso ao passado medieval, um sentido regenerador, sentimentos nacionalistas moralizantes.

Exemplos Ilustrativos
Um trecho do romantismo português na fase pré-romântica, de Alexandre Herculano, Eurico, O Presbítero (1867):
“…Eurico era uma destas almas ricas de sublime poesia a que o mundo deu o nome de imaginações desregradas, porque não é para o mundo entenda-las. Desventurado, seu coração de fogo queimo-lhe o viço ao despertar dos sonhos do amor que o tinham embalado. A ingratidão de Hermengarda, que parecera ceder sem resistência a vontade de seu pai, e o orgulho insultuoso do velho prócere deram em terra com ânimo, e que o aspecto da morte não seria capaz de abater…”( http:WWW.Enciclopédia icrMosoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.( Consultado a 10 de Outubro de 2013 pelas 18:33)

4.2 Fase Ultra-romântica 
Os anos 40 do século XIX são assinalados pelo ultra-romantismo ou segunda geração romântica. O fantástico dos temas, o imaginário sombrio e o desencanto emocional atingem o auge. Camilo Castelo Branco[12] na ficção, Soares dos Passos e João de Lemos na poesia, são seus maiores representantes. Com a Geração de 1870 - e a profunda revolução literária e cultural iniciada, em 1865, com a polémica entre Antero de Quental e Castilho[13] - mais do que a negação do romantismo, o necessário passa a ser o reencontrar da totalidade romântica em uma perspectiva capaz de ultrapassar as fronteiras portuguesas e interligar a filosofia com a estética. 

A intenção era redescobrir os modelos do romantismo europeu, de Shakespeare[14] a Dickens,[15] de Goethe a Heine, além de outros, como Victor Hugo[16] ou Proudhon, articulando-os com as novas tendências do realismo-naturalista de Zola e o positivismo de Comte[17].

- Exemplo Ilustrativo, obra: Sonetos de Antero de Quintal segunda fase do romantismo português
                                                                    NIRVANA
Para além do Universo luminoso,
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,

À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.

Fonte: http://faroldasletras.no.sapo.pt/sonetos_antero_de_quental.htm (consultado a 10 de Outubro de 2013 pelas 19:40)

4.4 Terceira Geração do Romantismo Português
Na terceira geração do romantismo destacam-se nomes como os de Eça de Queirós[18], Teófilo Braga, Oliveira Martins, Batalha Reis e Adolfo Coelho, entre outros.Com Queirós, dar-se-á inicio a uma nova fase chamada realismo. Porém, importa apenas saber que o realismo, como um movimento literário artístico característico da terceira fase do romantismo, preocupa-se em mostrar o comportamento humano nas circunstâncias que o cercam ou representar figuras e objectos tal como actuam ou aparecem na vida quotidiana.


Bibliografia:
FERREIRA, Alberto, Perspectiva do Romantismo Português, Universidade do Wisconsin – Madison, Litexa Portugal, 3ª ed. 1979

FRANÇA, José Augusto, O romantismo em Portugal: estudo de factos socioculturais, Volume 6, Lisbioa Livros Horizonte,1974

http://faroldasletras.no.sapo.pt/sonetos_antero_de_quental.htm (consultado a 10 de Outubro de 2013 pelas 19:40)
http: //enciclopédia emcarte2001.pt.com (consultado a 5 de Dezembro de 2013)


http:Mosoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation(consultado a 8  de fevereiro  de 2014)





[1]Termo usado para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foram empregados pelos próprios escritores do período, convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e o respeito à humanidade.

[2]Rousseau, Jean-Jacques (1712-1778), filósofo francês, nascido em Genebra. Destacou-se como teórico político e social, músico, botânico e importante escritor do Século das Luzes. O espírito e as ideias de sua obra estão a meio caminho da Iluminismo do século XVIII — com sua defesa apaixonada da razão e direitos individuais.

[3]Forster, Edward Morgan (1879-1970), romancista e ensaísta inglês. Entre seus romances destacam-se Onde os anjos não se aventuram (1905), A viagem mais longa (1907), Uma sala com vista (1908), A mansão (1910), O caminho para a Índia (1924) e Maurice (1971).
[4] Hoffmann, Ernst Theodor Amadeus (1776-1822), escritor e compositor alemão, influenciou o romantismo da literatura alemã. São famosos os Contos de Hoffmann (1880) e as Fantasias à maneira de Callot (dois volumes, 1814-1815). Além do romance As drogas do diabo (1815-1816), compôs música religiosa, música para peças teatrais e a ópera Undine (1816).

[5]Pintor francês cuja obra constitui um dos expoentes do romantismo do século XIX. Sua técnica de aplicação da cor, em grandes contrastes, com pequenos golpes de pincel, criou um especial efeito de vibração, que teria grande influência nos impressionistas.


[6](1749-1832) Poeta, romancista, dramaturgo e cientista alemão. Sua poesia expressa uma nova concepção das relações da humanidade com a natureza, a história e a sociedade; seus dramas e seus romances reflectem um profundo conhecimento da individualidade humana. Sua influência na literatura da época é difícil de medir.

[7]Uma  tragédia Götzvon Berlichingen  de 1773 que inaugurou o importante movimento literário conhecido como SturmundDrangprecursor do romantismo alemão.

[8]SturmundDrang (em alemão “tormenta e impulso”), movimento literário alemão (c. 1765-1785) que surgiu como reação ao excessivo valor atribuído pelo Iluminismo ao intelecto, à razão e ao refinamento da civilização. Este movimento foi o prelúdio do romantismo.


[9]1799-1854), Poeta iniciador do movimento romântico em Portugal. Dramaturgo e estadista português, Almeida Garret  renovou a poesia, o teatro e a ficção sobre bases autenticamente lusitanas.

[10](1810-1877), Político, historiador, poeta e novelista português, liberal apaixonado ao longo de toda a sua vida. Além de importantes trabalhos históricos, como um estudo sobre a Inquisição (1854-1859) e de sua História de Portugal, escreveu romances como O monge de Cister (1848).

[11] Poeta português. Foi tradutor e pedagogo, criando o Método de Castilho para a aprendizagem das primeiras letras. Traduziu Píndaro, Virgílio, Anacreonte, Moliére, Shakespeare, Goethe e Cervantes.
[12](1825-1890), Romancista português, nascido em Lisboa. Ficou órfão muito cedo e teve uma juventude instável e boémia. Entrou para um seminário, mas passou lá poucos meses e, cansado da vida religiosa, abandonou-o e dedicou-se a escrever. Em 1885, foi nomeado visconde de Correia Botelho em reconhecimento a sua obra literária. Cinco anos mais tarde, cego e com problemas de saúde, suicidou-se.

[13](1842-1891), Poeta português. Muitos dos primeiros poemas de Antero de Quental pertencem à escola romântica, estilo que, mais tarde, abandonaria. Seus livros de poesia são Raios de extinta luz (1892), Primaveras românticas (1872) e Odes modernas (1865), obras com clara influência do socialismo utópico.

[14](1564-1616), Poeta e autor teatral inglês, considerado um dos melhores dramaturgos da literatura universal. Além de dramaturgo foi ator de teatro e suas primeiras obras — dois poemas eróticos segundo a moda da época, Venus and Adonis (1593) e Lucrece (1594), e seus sonetos — lhe valeram a reputação de brilhante poeta renascentista.


[15](1812-1870), Romancista inglês e um dos escritores mais conhecidos da literatura universal. Em sua extensa obra, combinou com maestria narrativa, humor, sentimento trágico e ironia com uma ácida crítica social e uma aguda descrição de pessoas e lugares, tanto reais como imaginários.
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[16] Hugo, Victor Marie (1802-1885), poeta, novelista e dramaturgo francês cujas volumosas obras deram grande impulso ao romantismo no seu país. Entre sua extensa e influente obra, destacam-se seus dramas Cromwell (1827), cujo prefácio acabou se transformando em manifesto do romantismo, e Hernani (1830). Como poeta, estreou com Odes et poésies diverses (1822) e publicou também, entre outras, Vozes interiores (1837), os poemas satíricos Os castigos (1853) e As contemplações (1856), o poema épico A lenda dos séculos (1859-1883) e A arte de ser avô (1877). Atingiu sua máxima popularidade com romances como Han d'Islande (1823), Bug-Jargal (1824), Nossa Senhora de Paris (1831) e Calude Gueux (1834).


[17] (1798-1857), filósofo positivista francês e um dos pioneiros da sociologia. Foi colaborador do conde de Saint-Simon. Afirmava que do estudo empírico do processo histórico dependia uma lei que denominou dos três estágios, ou fases, pelas quais deve passar cada ramo do saber.

[18](1845-1900), escritor português, introdutor do realismo em seu país. Com linguagem perfeita, seus livros observam a classe dominante de seu tempo de maneira irrepreensível e com um humor que, muitas vezes, beira a irreverência































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