quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Opinião/ Política: Quintas Eleições Gerais de Moçambique




                                  Quintas Eleições Gerais de Moçambique

                                            Por: Albert Massango

Há quem afirma categoricamente que as quintas eleições gerais havidas em Moçambique foram “justas, livres e transparentes”, inclusive algumas organizações da comunidade internacional, nomeadamente, a União Europeia (UE), União Africana (UA) e África Austral (SADC) validaram o processo. A minha indignação é maior porque no decorrer do processo, houve uma série de irregularidades que até cegos e surdos puderam acompanhar através dos meios de comunicação social e não  só.

Tais irregularidades, na minha opinião, contribuíram de forma significativa para deterioração de todo o processo eleitoral. Aliás, devido a estas irregularidades que foram propositadas, as eleições deviam ser invalidadas.

O Boletim publicado pelo Centro de Integridade Pública (CIP), no dia 15 de Outubro, revelando a troca de cadernos, falta de pessoal nas mesas de voto e a troca de números nas assembleias de votos nas Escolas Secundarias da Manga e da Macunte, na Cidade da Beira, demonstra claramente uma desorganização propositada.

Entretanto, os órgãos deliberativos no processo, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), preferiram ignorar esse aspecto, votando a favor da validação dos resultados eleitorais de 15 de Outubro passado, que beneficiam o partido no poder (Frelimo) .

Segundo reporta o CIP, na Província de Nampula, “o STAE falhou a emissão de credenciais para mais de 400 observadores do Observatório Eleitoral (OE), que depois foram impedidos de acompanhar o processo”.

Com toda estes indícios de desorganização, a questão que surge é seguinte: até que ponto podemos credibilizar a votação, pelo menos, naquela província? Sabendo que um grande número de observadores foi impedido de acompanhar o processo por incompetência do STAE.                 

No que diz respeito as organizações africanas, muito em particular a SADC, essa posição não é surpreendente. É bem sabido por muitos que, a nível dos países da África Austral, esta organização nunca mostrou uma opinião contrária a posição dos partidos de no poder ao nível da SADC.

 No que tange a UE, a afirmação de que as eleições foram credíveis é assustadora pois maior parte da população, pelo menos a atenta, esperava que esta organização invalidasse o processo eleitoral, tendo em conta o incumprimento da lei que, segundo o economista, João Mosca, manchou todo processo de eleições.

Se prestarmos atenção, podemos notar unanimemente que, mais uma vez, as Forças de Intervenção Rápida (FIR) e a Polícia da República de Moçambique (PRM), fortemente armadas, interferiram directamente no processo de votação, fazendo com que alguns eleitores não se sentissem livres para exercer o seu direito cívico.

Além da intervenção directa das forças de segurança, o início tardio da votação em algumas assembleias de voto demonstra uma irregularidade propositada e falta de seriedade por parte dos órgãos eleitorais.

 Esse facto deu-se, por exemplo, num dos bairros da Cidade de Maputo, concretamente no Estádio de Zimpeto, na Escola Primária Completa Manga Loforte, na Cidade da Beira e em outras zonas. Aliás, se esse facto aconteceu em zonas urbanas, é bem possível que tenha ocorrido em algumas zonas de difícil acesso em que órgãos de informação chegam com maior dificuldade para noticiar os acontecimentos.

 Visto que somos possuidores duma das maiores fontes de energia a nível de África, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, é inadmissível que num momento de festa eleitoral em algumas zonas como, na Cidade da Beira, no Bairro da Munhava, houve apagão tempos depois da votação. É certo que acidentes são normais, mas como essa não é primeira vez que as “luzes se desligam” num momento de votação, faz-me concluir que a CNE e o STAE, pelo menos nas eleições autárquicas do ano passado e nas gerais de Outubro último, não estavam devidamente preparados para conduzir o processo.



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