quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Opinião/Educaçao: Educação em Moçambique



                         
                                                       Educação em Moçambique                   
 
                                       
                                            Autora: Faustina Fortuna
Nos últimos anos o problema da educação em Moçambique tem se acentuado com mais gravidade. As frequentes reprovações massivas dos estudantes da 10ᵃ e 12ᵃ classes têm se alastrado um pouco por todo país, tal fenómeno demonstra que estamos perante um problema estrutural. 

Dados oficiais do Ministério da Educação, publicados a 27 de Novembro de 2013 pelo Jornal Notícias, davam conta de que, até a época, cerca de 80% de alunos das 10ᵃ e 12ᵃ classes reprovaram nos exames da primeira época em todo país. Facto este que não só está a preocupar aos pais e encarregados de educação dos alunos como também as autoridades responsáveis pela educação no país.

A educação em Moçambique, segundo o filósofo moçambicano Severino Ngoenha (2000), é um projecto que precisa ser repensado na sua globalidade, no panorama das condições concretas moçambicanas, com vista a identificar os momentos disfuncionais do actual sistema  em relação à realidade social.

Ngoenha advoga ainda que a educação em Moçambique deveria ser estudada a partir de várias realidades moçambicanas, em consonância com cultura, economia e política. Entretanto, a reflexão actual sobre a educação encontram-se ligados estreitamente ao Governo e aos doadores internacionais, que intervêm directamente no modelo ensino adoptado por Moçambique desconhecendo a realidade social do país. 

Há quem acha que o fracasso estrutural da educação em Moçambique é causado pela obsolescência do ensino primário, principalmente pela inexistência de um ensino pré-primária para as crianças, que pudesse ensina-las questões básicas antes de ingressarem para as primeiras classes escolares. Em resposta, o Ministro de Educação, Augusto Jone, citado pelo Jornal @Verdade, na edição do dia 21 de Agosto de 2010,  disse que a educação pré-primária faz parte do plano estratégico da educação de 2012-2016, que inclui a construção de mais centros infantis de ensino pré-primário com vista a dinamizar o processo.

O ministro acredita que a valorização do ensino pré-primário será uma das formas eficazes para combater a deterioração do ensino em Moçambique, particularmente do ensino primário onde muitos alunos têm dificuldades para ler, escrever e fazer cálculos básicos.

Entretanto, não basta só criar estratégias ou até mesmo construir centros infantis, planos esses que na maioria têm caído em círculos viciosos pois não passam de discursos eleitorais para o alcance de interesses partidários, é necessário que se olhe também nos aspectos que farão com que este plano funcione e traga efeitos práticos desejados. 

Para melhor qualidade da educação em Moçambique vários aspectos devem ser destacados, nomeadamente a questão da valorização dos professores no seu ambiente de trabalho - salários justos e a qualificação adequadas, os métodos devem corresponder às condições sociais moçambicanas e as circunstâncias na qual as crianças são educadas devem ser minimamente apropriadas.

De acordo com o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, sigla em inglês) de 2014, sobre a situação das crianças em Moçambique, a boa qualidade de educação em Moçambique vai desde o professor, na adopção de métodos interactivos de ensino, fornecimento de material escolar de boa qualidade, a construção de fundos de água potável, até a triagem regular da saúde das crianças.

Em Moçambique, dentre todos os factores mencionados pela UNICEF, apenas um aspecto é respeitado, a construção da própria instituição de ensino. No entanto, em muitos casos, tais instituições não têm equipamentos necessários para seu bom funcionamento e, portanto, surge a questão; é possível dentro destas condições atingir ao nível de educação desejado?

Não se pode negar que a ideia da construção de centros infantís servirá  para combater esta fase desastrosa da educação em Moçambique, mas devem ter em conta que os edifícios só não servem, é necessário que se criem condições  para que estes funcionem condignamente.

Sendo assim, antes de construir milhares de centros infantís em todo o país, o Governo deveria pensar em todos os aspectos que vão complementar os mesmos, pelo que Severino Ngoenha afirmara que “a educação não pode ser um objecto de estudo fechado nele mesmo, e inscreve-se nas realidades culturais, económicas e políticas que devem ser tomadas em conta o campo educativo é, pois, estruturalmente condicionado por estas dimensões que, sem a constituírem completamente, a influenciam” (NGOENHA, 2000: 199).

O Ministro da Educação deveria procurar interagir com outros órgãos de educação de outros locais do mundo para trocar experiências, discutir a questão da educação, como esta funciona em seus países e o que é feito para superar casos como este que Moçambique está a enfrentar. Tendo todas essas informações e experiências, o Governo poderá ter bases fixas para desenhar projectos concisos e adequados para a realidade moçambicana. Só assim, poderemos começar a pensar num Moçambique forte no que diz respeito a educação, desde o ensino pré-primário até o superior.


Bibliografia consultada:

NGOENHA, Severino Elias, Axiologia da Educação em Moçambique, paradigmático questionamento da Missão Suíça, Livraria Universitária, UEM, 2000 p 199-200      

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, Faustina. Meu nome é Mauro Souza (Mó) e sou um artista plástico brasileiro. Gostaria de te mostrar algumas obras minhas e conversar sobre assuntos deste nosso Mundo. Meu e mail é mauroaltinosouza@hotmail.com e se puderes me dar um toque, à vontade. Um abraço.

    ResponderExcluir

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO Créditos : AS por:Lino A. Guirrungo (Jan, 2019) Eu nasci pouco depois que...