Secretária da Associação Moçambicana de Fotografia, Manuela Balate, denúncia negligência administrativa no seio da agremiação.
Fundada a 21 de
Fevereiro de 1981 pelo primeiro presidente de Moçambique independente, Samora
Moisés Machel, Associação Moçambicana de Fotografia é uma coligação de
fotógrafos nacionais com objectivo de promover e valorizar a artes plásticas e
fotográficas em Moçambique. A mesma é, actualmente, composta por 150 sócios –
fotógrafos, sendo presidente o fotógrafo João Costa. A associação encontra-se situada na
Av. Júlios Nherere prédio 612 rés-do-chão.
Esta galeria fora, outrora, a catedral do fotojornalismo moçambicano, chegando a expor obras de personalidades desta arena. Caso nítido de Ricardo Rangel, Kok Nan, José Cabral, Sérgio Santimane, Naita Ussene, Joel Chisiane, entre outros.
Esta galeria fora, outrora, a catedral do fotojornalismo moçambicano, chegando a expor obras de personalidades desta arena. Caso nítido de Ricardo Rangel, Kok Nan, José Cabral, Sérgio Santimane, Naita Ussene, Joel Chisiane, entre outros.
Entretanto, a mesma encontra‐se
actualmente num estado deplorável, esquecida e mal conservada, segundo afirma Manuela Balate, secretária da galeria há 4 anos. A AMF sobrevive do
pouco subsídio extraído do aluguer da própria galeria. Manuela Balate sente‐se abandonada e sem condições mínimas de trabalho.
A secretária aceitou conceder ao grupo do F.I uma entrevista em que, durante algumas horas, falou abertamente dos problemas que A.M.F enfrenta. Veja a entrevista em discurso directo.
A secretária aceitou conceder ao grupo do F.I uma entrevista em que, durante algumas horas, falou abertamente dos problemas que A.M.F enfrenta. Veja a entrevista em discurso directo.
Foto: Cau
Fontes
Fórum Ímpar: Manuela, qual é estado da Associação Moçambicana
de Fotografia?
Manuela Balate: O
estado da Associação Moçambicana De Fotografia é mau, de associação resta-nos o
nome pois ele já não tem aquela união de outrora. Dos mais de 100 fotógrafos
que compõem a A.M.F apenas o secretário-geral faz-se, de vez enquanto, à
galeria. Os outros já não dão as caras, talvez porque a tecnologia, que anda
muito avançada, contribui. Hoje cada um tem seu material em casa, é só uma
questão da pessoa ir á rua, fazer as fotos e edita-las em casa.
Porém, isto acaba destruindo o próprio sentido que uma associação deve ter. Entre os fotógrafos internos não acontece nada, aliás, para além da falta de união, é notável muita intriga entre eles. Pois quando há exposições colectivas o responsável pela A.M.F (João Costa) tende a chamar os fotógrafos mais próximos, o que aborrece os outros fotógrafos.
Porém, isto acaba destruindo o próprio sentido que uma associação deve ter. Entre os fotógrafos internos não acontece nada, aliás, para além da falta de união, é notável muita intriga entre eles. Pois quando há exposições colectivas o responsável pela A.M.F (João Costa) tende a chamar os fotógrafos mais próximos, o que aborrece os outros fotógrafos.
A associação
enfrenta muitas dificuldades actualmente, como podem ver, as paredes degradadas
dão péssimo aspecto ao recinto. Dos quatro computadores que temos apenas funciona
um, que até semana passada não funcionava, eu é que tive de repara-lo com
fundos próprios. A iluminação, como podem notar, é precária. Ela, que foi por
mim improvisada, não é própria de uma Galeria. E sempre que singulares vêm
alugar a galeria para uma exposição, reclamam pela iluminação e eu fico sem
muito a dizer.
Primeiro, porque
não sou eu quem responde pela galeria, a única coisa pela qual sou responsável,
quando a pessoa quer alugar o espaço, é de fazer a cotação e a factura. Sendo
assim, a pessoa traz o cheque e eu vou depositar o dinheiro na conta. Não tenho
legitimidade para ir assinar um cheque para obtenção de novas lâmpadas.
Contudo, a
associação conhece muito bem todas dificuldades por nós enfrentadas, mas
mantém-se indiferente. E a pergunta sem resposta é a seguinte: para quê serve o
dinheiro que está na conta desta associação? As próprias paredes desgastadas
revelam negligência por parte da administração, não que não haja dinheiro para
uma nova pintura, simplesmente ninguém mais se importa com isto.
F.I: Tendo em
conta que a própria galeria sofre este tipo de problemas, quais as condições de
trabalho que a Manuela encontra?
Manuela Balate: São
várias as atrocidades que sofro, por exemplo, eu trabalho sem contracto. São 4
anos servindo a A.M.F sem contracto algum. E eu mantenho-me calada, porém, não
falta-me vontade de apresentar esta questão ao Ministério do Trabalho.Por
vezes trabalho encima da hora, e sem horas extras. Não há aqui subsídios de
nada, recebo apenas o valor estipulado e nem se quer tenho direito ao décimo
terceiro salário. São alguns pontos que me fazem “detestar” trabalhar na A.M.F.
Foto: Cau
Fontes
F.I: Tendo em
conta todas estas atrocidades, o que é que prende a Manuela a A.M.F?
Manuela Balate: A
falta de opção, não posso abandonar o trabalho e ficar em casa desempregada. E
no fundo existe ainda aquela esperança de um dia as coisas mudarem a nível da
associação, melhorarem e ganhar-se a consciência e o respeito pelas pessoas.
F.I: A falta de união que a associação enfrenta não
acaba atrapalhando o desenvolvimento de projectos ou dos planos pela associação
desenhados? Aliás, existe algum planeamento?
Manuela Balate: Do
momento não, mais cá entre nós, eu estou aqui a 4 anos e não me lembro de ter
presenciado uma reunião entre eles. Não há aqui discussões sobre assuntos
inerentes a própria galeria. Eu, em particular, gostaria imenso que houvesse
mais empenho e entrega por parte dos fotógrafos que fazem parte da associação.
Esta galeria é muito bonita para ser desvalorizada deste jeito, existem tantas
pessoas que querem alugar este recinto para fazer bancos, lojas etc. Mas, por
pertencer a associação não se pode fazer isso, então, não faz sentido mantermos
uma galeria desta forma.
F.I: Qual é período laboral desta galeria?
Manuela Balate:
Esta galeria esta aberta de segunda a sexta das 8 as 17h, isto quando não há
exposição. Porém, quando há exposição da associação, sendo eu a única pessoa
que fica aqui, ela esta aberta das 10 as 19h.
F.I: Na ausência da Manuela a galeria fecha?
Manuela Balate: Quando
me quero ausentar, aviso o secretário, porém, ele está disponível somente de
manhã. Logo, se eu tiver de sair de tarde a galeria estará fechada.
F.I: Quanto a questões de segurança das obras de
arte?
Manuela Balate: Bem,
temos 3 guardas que fazem a segurança do recinto. Também porque desde a sua
criação a associação nunca registou nenhum tipo de assalto a esta galeria. Os
moçambicanos parecem não dar muito valor a esta arte, muitos até nem se
quer conhecem a localização da própria A.M.F.
Foto: Cau
Fontes
F.I: Partindo do pressuposto que para manter uma
associação são necessários custos, de onde vem o valor que mantém a A.M.F?
Manuela Balate: É
obrigatório que cada membro da associação participe com uma cota mensal, por
sua vez, este mesmo valor seria usado para manter a associação. Porém, dos 150
sócios da A.M.F apenas 5 tem as suas cotas em dia, os restantes não mais
contribuem. Se dependesse apenas dos sócios já teria falido. Então, a A.M.F
sobrevive do aluguer da galeria. Tudo que é cá feito é custeado por este valor,
o pagamento dos salários, a luz e a manutenção – que nem é lá grande coisa.
Sem o aluguer a mesma já teria fechado suas portas. Não temos nenhum doador, Não há financiamento algum. Antigamente a FUNDAC ajudava-nos com um montante de 100 mil meticais que no final do ano este valor tinha de ser justificado. O tempo passou e a mesma teve de passar a dar-nos 50 mil, porém, ano passado a mesma acabou parando – e não se sabe porquê.
Sem o aluguer a mesma já teria fechado suas portas. Não temos nenhum doador, Não há financiamento algum. Antigamente a FUNDAC ajudava-nos com um montante de 100 mil meticais que no final do ano este valor tinha de ser justificado. O tempo passou e a mesma teve de passar a dar-nos 50 mil, porém, ano passado a mesma acabou parando – e não se sabe porquê.
F.I: Das poucas vezes que visitamos a galeria
percebemos que a mesma andava fraca em termo de adesão – no que concerne ao público.
O que está a falhar?
Manuela Balate: O
problema da pouca adesão está na
publicidade. Quando a exposição é da A.M.F, sem sombra de dúvidas, o que
compromete a própria exposição é a pouca publicidade. As pessoas só descobrem
por acaso que há uma nova exposição quando passam de frente a galeria, não se
faz aquela promoção da exposição como deve ser. Diferentemente de quando é uma
exposição de alguém de fora que simplesmente aluga a galeria, estas pessoas
publicitam muito mais. Consequentemente, tem maior aderência.
F.I: A Manuela esta aqui a 4 anos, No âmbito geral,
em que áreas notaram-se progressões de lá para cá?
Manuela Balate: Desde
que cá estou a A.M.F nunca mudou nada. Segundo eles – os administradores – de
dois em dois anos deve ser eleito um novo presidente e um novo secretário.
Contudo, eu estou aqui a 4 anos, porém, eles ainda são os mesmos. E a as mesmas
pessoas – desculpa dizer – são cabeças quadradas, ou seja, não têm visão alguma.
Por exemplo, nos anos anteriores – falo-vos de 5, 6 anos atrás – tínhamos
Workshops e exposições com o intuito de promover não só a A.M.F mais também a
própria galeria. Actualmente, existem até exposições, entretanto perdeu-se o
sentido da união. Então, isso também depende da pessoa que está no comando. Na
verdade, este espaço só está aberta porque ele pertence, de facto, a A.M.F,
porque se fosse alugado tenho certeza que já estaria fechado.
Autor
(a):
Equipa de Redacção do
Fórum Ímpar
Artur
Linda Júnior
Dércia Ndjindje
Estêvão Azarias Chavisso
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