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(geral), Sociedade, Crises
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Shot-B, um “contador” de histórias
urbanas nos murais de Maputo
Por: Estêvão Azarias Chavisso (Texto) e António Silva ( fotos), da agência Lusa
Maputo, 29 mai (Lusa) - Shot-B tem há 20 anos no grafiti uma
arma para denunciar as "febres sociais" da periferia de Maputo, num
exercício que, além da técnica e da concentração, exige "astúcia, coragem
e alma de sonhador".
Shot-B, nome artístico de Bruno Mateus, 33 anos, é, para
muitos, um símbolo da cultura urbana moçambicana, e que fez das garrafas de
'spray' uma arma para denunciar "as dores" e os mais profundos
problemas das comunidades pobres da periferia da capital moçambicana.
"Eu pinto o que sinto", declara à Lusa o autor de
peças que, além de denúncias, são verdadeiras obras de exaltação a cultura
urbana e ao movimento 'hip-hop'.
A simplicidade do filho de um arquiteto "educado pelas
ruas" esconde, na verdade, o talento e a magnitude do autor dos mais
admirados grafitis que decoram as entradas das principais zonas periféricas da
capital moçambicana.
Além da intensidade das cores, tristeza e alegria encontram,
ao mesmo tempo, espaço no cunho artístico de Shot-B, aludindo à complexidade de
uma arte que, mais do que talento, exige concentração.
"Eu tento transmitir as nossas febres socais das mais
diversificadas formas", diz o artista, que já teve vários projetos
internacionais, orgulhando-se de viver "simplesmente da arte",
quando, à semelhança da música 'rap', o grafiti em Moçambique ainda é
marginalizado e associado ao vandalismo.
A censura e a sabotagem são apontadas pelo artista como
outros desafios, principalmente quando o país atravessa um período turbulento a
nível político e económico.
Num momento em que a crise tende a agravar-se, com registo
de confrontações militares entre as forças dominantes, Shot-B viu a sua
principal peça, de temática política e num lugar de destaque da capital
moçambicana, destruída por desconhecidos.
A peça estava patente num mural de cerca de 300 metros na
avenida da União Africana e ilustrava uma jovem segurando um cartaz com a frase
"por favor, paz", um clamor comum nos últimos tempos em Moçambique.
"Esta foi uma forma que eu encontrei para expressar a
vontade de todos nós", refere Shot-B, observando que essa é a missão
social da arte e lamentando a atual crise política e militar em que o país está
mergulhado.
Uma parte da juventude da periferia da capital moçambicana
tem na música 'rap' e no grafiti meios para escapar do crime e dos altos níveis
de pobreza e, mesmo que de forma tímida, são frequentes iniciativas artísticas
que juntam jovens 'rappers', 'b-boys', 'dj' e artistas de grafiti no mesmo espaço.
Na ambição de ajudar estes jovens "a sonhar",
atualmente Shot-B também dá aulas de grafiti, um exercício que o artista
descreve como sendo "de coração" e para manter a cultura viva.
"Eu vivo de grafiti e é desta arte que eu consigo ter o
pão para sustentar a minha família", conclui o artista, com uma lata de
'spray' na mão, pronto para, mais uma fez, transformar uma superfície branca
numa obra para apreciar.
EYAC // EL
Lusa/Fim
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