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Emblemática banda moçambicana Rockfellers prepara regresso nove anos depois
Estêvão Azarias Chavisso, da agência LusaMaputo, 26 jun (Lusa) – Os Rockfellers, emblemática banda que dominou o rock moçambicano nos finais da década de 1990, preparam-se para pôr fim a nove anos de pausa e Maputo foi o palco escolhido para o regresso dos autores da “Vida de Cão”.
“Trata-se, na verdade, de um regresso às origens”, disse, em entrevista à Lusa, Xavier Machiana, vocalista e guitarrista da banda, acrescentando que, na nova temporada, valorizar elementos locais na criação musical é a palavra de ordem.
Considerada, por muitos, a principal banda de rock em Moçambique, mais do que um grupo de cinco jovens “apaixonados pela música”, os Rockfellers foram um símbolo para a dinâmica juventude da década de 1990, com temáticas que refletiam os desejos e as frustrações da época.
Com temas que aludiam à revolta contra o tédio gerado pela falta de perspetivas dos jovens, as letras da banda, que abarrotou, por várias vezes, o Centro Cultural Franco-Moçambicano, conquistaram o público moçambicano rapidamente, num tempo em que a musicalmente conservadora Maputo estranhava o rock, visto como “coisa do ocidente” e ligada às drogas.
“A nossa missão sempre foi usar a música para mudar as pessoas”, declara Xavier Machiana, observando que os preconceitos que o grupo enfrentou, devido à visão errada que as pessoas tinham do rock não foram fortes o suficiente para apagar “a paixão pela música”.
O desaparecimento da banda em 2008 significou o ocaso de um grupo que “só funciona na presença de todos” e que, por motivos profissionais, obrigou os membros a seguirem caminhos diferentes para dar seguimento às suas carreiras fora da música.
“Apesar de amarmos a música, nós eramos pais, estudantes e profissionais e tínhamos de seguir com as nossas vidas”, justifica o vocalista, admitindo, no entanto, que a vontade de voltar sempre dominou o seu coração.
Os 16 anos de carreira, entre estrada, poeira, guitarra, bateria e microfone resultaram em dois álbuns bem recebidos pela crítica, nomeadamente “Vida Dura”, de 1999, e “Tempo”, de 2000.
“Foi uma novidade para nós ver que a nossa música foi aceite e assumida como música local”, refere o vocalista, admitindo, no entanto, que a longa passagem por Lisboa teve muita influência no seu estilo musical.
Passados nove anos sem a banda, Xavier Machiana entende que pouco mudou no panorama musical moçambicano e o rock continua a ser um estilo ostracizado.
Para o vocalista, a tendência ortodoxa de afastar o rock do 'mainstream' musical obriga as bandas moçambicanas deste estilo a assumir a missão de desmistificar a falsa ideia que o associa às drogas e ao vandalismo.
“Isolar o rock e fazer dele uma ilha é uma ideia ignorante”, declarou o artista moçambicano, acrescentando que a música deve procurar ir ao encontro do contexto e dos anseios locais.
O vocalista diz que o grupo “está a afinar as cordas” e revela que os primeiros concertos estão agendados para setembro e novembro em Maputo, a cidade onde “tudo começou”.
Quanto a um novo álbum, Xavier Machiana prefere não avançar detalhes, mas garante que em 2017 o grupo voltará ao estúdio.
“Isto é o mesmo que reunir a família”, refere o artista, prometendo “muito rock” para os amantes do estilo e para os fãs incondicionais da banda, que “nunca vai morrer”.
EYAC // EL
Lusa/Fim
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