Banalização do Símbolo Norte-americano no Leviathan, de
Paul Auster
Harold Broom, um dos maiores críticos literário dos
nossos tempos e que criara polémica ao ridicularizar a narrativa sobre Harry
Potter e o escritor Stephen King, já se referia à genialidade de Auster. Para
Bloom, o autor de “Timbuktu” e “Música do Acaso” consta da lista dos escritores
contemporâneos que deve ser lido, ou seja, é aconselhável que um amante de
literatura o conheça. Desta feita, no presente artigo, pretendemos argumentar
sobre uma das suas criações literárias.
A obra intitulada Leviathan, da autoria desse escritor americano,
reintroduz-nos ao conceito de puzzle, como se de um romance policial se
tratasse. Na verdade, cabe ao leitor rotula-la, sendo que a mesma parece estar
preocupada em se debruçar sobre diversos assuntos, mas, principalmente, sobre
as relações humanas - a forma com que as pessoas lidam umas com as outras.
Nesta obra, com recurso à uma escrita simples mas introspectiva,
Auster, autor traduzido em mais de trinta línguas, raciocina sobre amizade,
fidelidade, amor, digressão, traição e morte. No que toca à morte, logo nas
primeiras página da narrativa, o vencedor do prémio Príncipe das Astúrias de
Literatura 2006, brinda-nos com uma prolepse, que constitui fio condutor da
diegese no seu todo, pois quando se busca compreender a morte do personagem,
surgem mais questões.
“Há seis dias, um homem foi morto por uma explosão na berma de uma estrada
algures do Wisconsin […] junto ao seu carro, quando a bomba que estava a montar
explodiu acidentalmente”, assim
inicia a narrativa, com ingredientes básicos para hipnotizar o leitor, seja ele
assíduo ou não.
Na obra, são-nos apresentadas personagens redondas e extremamente
inusitadas, como é o caso de Sachs (o homem morto) – revoltado consigo mesmo,
bem como com a sua sociedade, aliás, chamá-lo-emos “antipatriota” por se
rebelar contra os símbolos americanos, a Estátua da Liberdade. Para este,
aquele símbolo não tem nada que ver com a liberdade senão com a exibição da
“supremacia” da democracia norte-americana.
É sabido que
Auster, nas suas obras, nos traz sempre reflexões atinentes à sua paixão
desenfreada pela escrita e literatura e, neste livro, não será diferente, dado
que Sachs, preso e condenado dezassete anos por se recusar a combater na Guerra
de Vietname, escreve um romance subversivo, que o intitula The New colossus.
“Tendo em conta que a guerra grassava no Vietname e que Sachs fora preso
por causa dela, não era difícil perceber de onde lhe viera essa raiva”, conta o narrador.
Provavelmente, essa é uma crítica ao ideal americano de
ser “o berço da democracia”, sendo que Sachs é demasiado descontente com o sistema
e todas suas acções colocam em causa a integridade da “grande nação”.
Sob o ponto de vista biográfico, o protagonista chega a ter
traços semelhantes que os do autor, na medida em que é também escritor e
tradutor, regressado da França. Talvez seja uma manifestação do um ulter ego. Ao observarmos atentamente, a
ideia de ulter ego pode ser sustentada nas passagens em que o protagonista
esbanja comentários sobre os autores que o teriam influenciado no seu processo
de escrita; e tais autores são os mesmos que Auster dá referência em suas
entrevistas: Mark Twain, Nathaniel Hawtron e Fiódor Dostoiéviski.
Em linhas gerais, ao nos debruçarmos sobre Levithan é
inadmissível contornarmos ao código ideológico que nos faz constatar que o
autor nesta obra, através das acções levadas a cabo pelas suas personagens,
tinha como pretensão questionar o sistema político vigente nos Estados Unidos e
“matar” a ideia de se ser nacionalista.
Autor: Alberto Massango
Autor: Alberto Massango
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