domingo, 29 de novembro de 2015

Resumo:"Das Independências às Liberdades", de Severino Ngoenha

Um breve resumo de "Das Independências às Liberdades", de Severino  Ngoenha 



Introito:

Das Independências às Liberdades é uma obra do filósofo moçambicano Severino Elias Ngoenha. Num contexto em que urge a necessidade de uma reflexão sobre os conceitos Liberdade e Independência no panorama do pensamento africano, Severino Ngoenha discute a liberdade como a base da historicidade dos africanos, assinalando-a, também, como característica humana por excelência. O autor pretende, ao mesmo tempo, debater a questão do futuro nas sociedades africanas, num contexto em que os próprios africanos são chamados a ser mestres dos seus destinos,responsáveis pela construção de um futuro diferente. O autor enaltece o papel da filosofia num contextoincipiente como o das nações africanas, marcado ainda pela dependência ideológica e, sobretudo, económica.

Palavras-chave: Filosofia, Etnofilosofia, futuro, africano e utopia

O pensamento de Severino Elias Ngoenha enquadra-se, sem dúvida, no contexto em que o autor está inserido. Como a tradição filosófica hegeliana manda, Ngoenha é “filho do seu tempo” e, por tal, procurara discutir e, sobretudo, problematizar a sua realidade (Moçambicana, africana no geral), partindo de um contexto histórico marcado por um passado de colonização dos africanos.

Ciente da sua missão enquanto filósofo, logo na introdução, Ngoenhapostula a ideia de que cada sociedade tem a missão de definir seus objetivos, ambicionando legar à humanidade asua contribuição histórica no universo da existência humana.

“ À nossa geração incumbe a árdua tarefa de participar na elaboração de um futuro diferente do presente, que nos é dado viver e observar. Desde a meio século que vivemos o escândalo da fome, da ignorância, da mortalidade infantil da má nutrição de um nível de vida que não para de degradar” (NGOENHA, 2014:05)          

No contexto do desenvolvimento científico, várias teorias, de certa forma etnocêntricas, são desenvolvidas para legitimar a subjugação do negro, reafirmando sua posição inferior em relação ao branco.    
Ao analisar o primeiro meio século das independências dos países africanos, que começam, na sua maioria, na década 60, Ngoenha confronta-se com o problema da condição pouco evoluída da atualidade 

É que, segundo Ngoenha (2014), os países africanos optaram por variados modelos para o desenvolvimento social e económico, entretanto, pouco funcionou e, na sua maioria, os níveis de vida das sociedades que neles habitam ainda são muito baixos.     

1.Reformulação dos Projetos Africanos; Otimismo no Futuro

Num outro desenvolvimento, Ngoenha interrogar-se sobra a causa dos“insucesso” dos projetos africanos, levantando a questão: serão estes 50 anos um tempo perdido?

Na esteira desta ideia, o autor propõem uma rápida e urgente reformulação da nossa direção (enquanto moçambicanos, africanos no geral). Estendendo seu pensamento para o futuro, o autor convida-nos a olhar para o amanhã, depositando nele um certo optimismo.  

Para Ngoenha (2014), esta não é a primeira vez que o futuro torna-se o centro de debate. Mas, certamente, a primeira vez que ele é suscetível de ser encarado de maneira filosófica.

“De qualquer maneira, nossa missão é o futuro. E para que ele melhor se realize cada um é chamado a dar o melhor de si, no lugar onde se encontra” (NGOENHA, 2014: 06)




2.Eleição como a Escolha de um Futuro
Ngoenha entende que a reflexão sobre o futuro é demasiadamente complexa e nos chama a analisar possibilidade, tendo em conta a ideia da escola como um elemento para a introdução um código de ético e de cidadania, no processo da edificação da moçambicanidade.

É impossível pensarmos no futuro sem pensarmos nos projetos políticos que, a bom fim, regem a nossa existência enquanto sociedade, constata o autor.

Ngoenha entende que o momento da democracia é um momento de se confiar ao povo o poder, em termos teóricos, de decidirem pelo tipo de projeto político que querem, destacando também que a democracia é por excelência um problema do filosófico.

Para ao autor, quando em outubro de 1994 realizam-se as primeiras eleições em Moçambique levantava-se um aspeto importante, a questão da escolha adequada de um projeto político que norteasse o país.

“Assim, devemos julgar os partidos políticos em função dos projetos de sociedade que eles apresentam” (NGOENHA, 2014: 07)   

Para o autor, não escolhemos os governantes pela beleza que têm, pela cor das bandeiras dos seus partidos, mas, em princípio, por de trás de cada partido há ideias e propostas de um tipo de sociedade na conjuntura que estamos a trilhar.

Ngoenha entendeque quando damos o nosso voto a um partido significa que nós nos identificamos ou pensamos que, entre os projetos políticos que se nos apresentam sob forma de partido, aquele que escolhemos é o mais adequado para levar a, bom fim, as vontades do povo.

Ao interrogar-se sobre o valor das eleições de 1994 e, consequentemente, também sobre o valor de todos outros processos eleitorais que viriam a ser acompanhados por grandes transformações constitucionais em Moçambique, Ngoenha conclui que a crença num futuro melhor constitui uma forma de encarar a dura realidade da existência.

Citando Ray Bradbury, Ngoenha (2014) indica que ser capaz de fantasiar o futuro significa, em outros termos, ser capaz de sobreviver. Segundo o autor, os nossos sonhos estimulam, antecipam e favorecem a afirmação e o progresso da sociedade e é preciso e necessário reinventar o futuro para salvaguardamos a ideia de o amanhã ser diferente do passado. 

“O Futuro é o conjunto de projetos, de possíveis, de esperanças, de liberdade, porque temos de escolher entre os diferentes possíveis ou criar outros”( NGOENHA, 2014:10)  
             
Para o autor, a única forma que existe para que se garanta uma evolução na nossa vida enquanto sociedade e para que sejamos autores do nossa história, donos do nosso destino, é continuarmos a debater a nossa história, evitando, portanto, que ela seja apenas uma continuidade de um passado indesejado.

3. A Utopia, uma outra Forma de Pensar o Futuro

Ngoenha entende que a outra maneira de pensarmos o futuro é a utopia, que a considera-acapacidade de antecipar conteúdos concretos que se realizarão no futuro mais ou menos longínquo. É, de certa forma, uma fé racional, numa realidade não existente mas potencial, que representa um bem para quem a sustenta.

“A utopia é, sem dúvida, uma força fecunda da história, se for orientada e potenciada por uma verdadeira consciência humana. Isto pode justificar uma visão do homo utopicuscomo profeta do futuro, edo utopismo como uma corrente de pensamento que usa a esperança de maneira atenta e libertadora”.(NGOENHA,2014: 165) 

Para Ngoenha, a cidade utópica,assim como observaram, Platão, T. More, por exemplo, só pode acolher a fantasia política de um único utopista, porque só ele antevê a verdadeira forma de Estado e só ele encontrou a solução.

Assim sendo, acidade utópica é, na perspectiva de Ngoenha, o sonho de um só homem e seus habitantes carecem de uma dimensão histórica. Neste ponto, se pode avançar, encontramos uma certa debilidade da utopia. A mesma torna a história uma história sem nomes.

Ngoenha observa que os líderes nacionalistas africanos que lutavam pelas independências foram homens que tiveram sonhos ilustres e, sobretudo, tiveram a coragem de lutar para transformar os próprios sonhos em realidade.
Entretanto, após alcançadas as independências e no delírio de alcançar os seus sonhos, transformaram muitas vezes os próprios povos em instrumentos de realização das suas utopias.

E como na cidade utópica não se admite um segundo sonho, todos aqueles que ousarem sonhar diferente, pôr em dúvida a utopia dos dirigentes, foram vítimas da “ortodoxia utópica” dos primeiros, as revoluções tornaram-se opressões e os libertadores em opressores.

   Não obstante, Ngoenha destaca nossa responsabilidade como responsáveis da nossa história, fazedores do factos, pelo que responsáveis pelos contornos da nossa vida enquanto seres sociais.

“ A filosofia torna possível a vida do homem, porque lhe permite imaginar, projetar o futuro e enfrentá-lo. O pensamento, a filosofia, torna possível o amanhã. Mas, ao mesmo tempo, interroga-se sobre o tipo de amanhã”( NGOENHA, 2014: 11)

            O autor observa que a filosofia africana, por excelência, teve sempre esta preocupação com o futuro, tanto que muitas, segundo ele, das literaturas filosóficas africanas têm como denominador comum essa questão.

Aliás, mesmo as perspetivas críticas sobre a etnofilosofia de Towa e de Hountondji parecem ver no futuro a solução para superação desse conceito que, de certa forma, é pejorativo.       


Referências Bibliográfica:
NGOENHA, Severino. Das Independência às Liberdades, [S/E]. Maputo:Paulinas,2014




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Opinião/sociedade: O Fim do Amor Romântico

O Fim do Amor Romântico











A palavra amor é, provavelmente, uma das mais comuns no vocabulário das nossas sociedades. Em todo lado, sem nenhuma reflexão sistematizada, dizemos “eu amo X” e/ou “eu não amo Y”. Do dia para noite, tornou-se simples rotular as nossas relações afetivas, principalmente as conjugais, com base neste termo, um conceito que é, deveras, vazio e abstrato.

Vivemos o que Zygmunt Bauman chamou de era do amor líquido, um tipo de apego leviano e instável, um sentimento superficial e condenado à rápida dissolução. A ideia que até o século XX dominou, do casamento como a união sagrada, salvaguarda pelo Senhor, parece assistir o seu fracasso na atualidade e, em posição, instituímos como direito a liberdade de separação.

Na corrida desenfreada rumo ao liberalismo, desfizemo-nos de toda uma tradição, eliminando a obrigação que nos foi imposta pela sociedade de eternizar os matrimónios e elegendo o “amor” como condição basilar para manter um relacionamento. Com este argumento, fizemos de nojentos sapos belos príncipes e de nojentos príncipes belos sapos, na busca desmedida de uma ideia platónicade um tal amor.

Meus caros, esquecemo-nos, no entanto, de uma dura e cruel realidade. O amor romântico foi uma invenção histórica necessária, defendida pelas principais instituições sociais (Estado, Religião e Família), na conjuntura de um projeto falhado de construção de uma sociedade nova, com raízes afetivas mais seguras e relações humanas mais duradoiras.

Tal como a ideia de Deus, o amor não existe como elemento coletivo e concreto, pelo contrário, é uma criação subjetiva e abstrata, em que cada um deposita seu significado particular, resultante da globalização e da influência da cultura ocidental sobre o homem desesperadodos nossos dias.


Todas as juras de amor que fizemos, as cartas de amor que escrevemos e as provas de amor que mostramos nada são senão subterfúgios, na linguagem existencialista, uma tentativa miserável de dar sentido ao absurdo existencial a partir de um elemento exterior a si (o Outro), suavizando o peso de ser o responsável pela tua grande obra-prima, a tua vida.

É o fim do amor romântico e a culpa é nossa. Fomos nós que ingenuamente substituímos o interesse pragmático pela ignorante ideia de que uma relação não é movida por interesses. Uma relação deve sim ser movida por interesses. A nossa carência coletiva, associada a incapacidade de aceitar a realidade bruta e utilitarista do novo mundo, não nos deixou perceber que nós estamos num outro paradigma, um momento em que o homem é convidado a reinventar os modelos de vida, seus princípios e suas motivações, tendo em conta toda a conjuntura do mundo contemporâneo.

Hoje, as nossas relações afetivas estão condenadas ao fracasso porque, do alto do nosso idealismo, criámos protótipos e o outro só é “amado” quando se encaixa perfeitamente no modelo por nós idealizado.

Esta perspetiva, excêntrica e narcisista, é um cancro para as nossas relações afetivas e obriga-nos a reinventá-las, submetendo-nos a uma busca ridícula e infinita de relação em relação, na medida em que ninguém se adequa exatamente ao nosso protótipo, simplesmente porque é uma ideia nossa.

O mito grego de hermafrodita, apresentada no “O Banquete”,  de Platão, refere que um dia homem e mulher eram um só,  um ser bissexual, feliz e completo. Mas, por vontade dos deuses, o ser foi divido em dois, tornando-o um ser incompleto. Por este motivo, escreve-se na obra, o Homem sabe-se um ser incompleto e vive buscando encontrar a sua outra parte, um processo complexo, se pensarmos na imensidão do mundo.


Nota-se, com este mito, que os gregos tinham noção da importância da aceitação da outra pessoa como um elemento subjetivo e singular, sustentando, de certa forma, que a robustez de uma relação reside na aceitação da autonomia do Outro, uma premissa contrária ao conceito do amor romântico atual.

Como pensou EmanuelLevinas, é fácil “amar” quem, como puzzle, se encaixa perfeitamente no teu mundinho, o difícil é aceitar a manifestação do Outro, no seu mundo, com os seus defeitos.


Somos, portanto, convidados a destruir as grandes idealizações românticas. Somos chamados a reinventar o amor, a partir de elemento concreto, a vida possível, os amores possíveis. 

NB: Escrito à luz do novo acordo ortográfico.
Publicado em http://www.fasdapsicanalise.com.br/author/estevao-azarias-chavisso/ , a 14 de dezembro de 2015.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CRÓNICA: EU SOU “MATRECO”




                                    Rito Nobre

Estava eu a andar na rua, a voltar de um pequeno encontro que tive com meu parceiro das “boladas” Gamito.Vestido das minhas calças jeans azuis, camisa cinzenta de marca Timberland que o meu amigo Dinho ofereceu-me, porque engordou de repente e já não cabia nela, com os auriculares pretos que a Marcinha emprestou-me, conectados ao meu telemóvel, sintonizado uma estacão de rádio que já não me recordo qual, mas o certo é que eu ouvia uma notícia sobre o ataque das tropas do Governo à base da Renamo em Satungira|Gorongoza.

Passei de um contentor de lixo, logo depois de uns dez metros, passa uma moça linda, vestida invulgarmente, (entenda-se invulgarmente como fora do comum, o comum, nesse caso, seriam roupas apertadas que deixam parte do corpo das mulheres nu) provavelmente seja isso que me chamou atenção, o impacto foi tão grande que nem um simples “oi” saiu-me da boca, só consegui olhar e contemplar.

Ela continuou a sua caminhada, atravessou a estrada e foi comprar credito - digo isso porque ela foi em direcção a um jovem que trazia um daqueles coletes amarelos. Eu continuei a minha caminhada em direcção a paragem, com a imagem dela na mente e a pensar comigo mesmo: “se aquelamoça me aparecer a frente de novo, juro que não perco a oportunidade e vou falar com ela, e, quem sabe, até consigo o número de telemóvel dela”.

Cheguei à paragem, no Museu, e fiquei ali, à espera do chapa do Fomento ou Liberdade, isso porque para a minha casa qualquer uma das rotas dá-me jeito. Eu estava bem certo de que não viria mais aquela moça, tão diferente das que eu estava acostumado a ver por aí, em todos os cantos dos bairros da cidade e da periferia.

Devo ter ficado parado ali por uns cinco minutos, tempo suficiente para terem passado chapas de todas as rotas menos os das minhas. Aliás, o único chapa da Liberdade que passou não parou ali, foi parar em frente as barracas do museu, onde o motorista e o cobrador desceram e entraram no mercado, provavelmente para almoçar.

Já estava a ficar conformado com situação, quando, para minha surpresa, a moça veio a caminhar na minha direcção e parou justamente ao meu lado. 

Àquela hora, catorze, não havia bicha na paragem, aliás, acho que em todas as paragens da cidade não há bichas e nem luta para apanhar o chapa porque os alunos e trabalhadores ainda estão a exercer as sua actividades.

Confesso que a coragem que eu jurei ter se ela aparecesse a minha frente de novo foi embora, e até tremi um pouco quando ela parou ao lado de mim.

Eu virava discretamente a cabeça para apreciá-la, mas a vontade que eu tinha era de falar com ela, só que a falta de coragem me possuía, fiquei naquela situação por uns quatro minutos, até que chegou um chapa do Fomento.

Fiquei triste por saber que iria embora sem ao menos ter dado um oi a aquela moça linda e diferente, mas só podia ser assim, visto que o meu estômago já implorava por comida desde às treze horas, e como estava sem dinheiro, a solução seria comer em casa mesmo, porque se não estivesse faminto não me importava nem um pouco de ficar mais algum tempo na paragem a olhar para ela.

Fomos em direcção ao chapa, por ai sete ou oito pessoas, fiquei espantado quando vi que ela fazia parte do grupo das pessoas que subia o mesmo chapa que eu.

 Nesse momento, olhei para cima e agradeci aos céus por aquilo tudo, mais uma vez ela passou a minha frente, subiu e sentou-se no segundo banco, contando de frente para trás, aquele que vem a seguir ao banco do cobrador.

Ela acomodou-se no canto, ao lado da janela, e eu não quis me fazer de “matreco”, fui rapidamente me sentar ao lado dela antes que alguém ocupasse o lugar.

O chapa ficou cerca de vinte segundos antes de arrancar, e eu, durante esse tempo, tentava conter o meu nervosismo, mas ficava cada vez mais nervoso.

Nesse momento, tirei os auriculares dos ouvidos porque o som do chapa estava alto e já não conseguia ouvir bem o noticiário das catorze. De repente o cobrador assobiou e o motorista pôs o carro a andar.

 Estávamos no primeiro semáforo, logo depois de entrarmos na avenida 24 de Julho, quando me surgiu a ideia de aproveitar o volume alto da música do chapa para iniciar uma conversa, assim eu não corria o risco de alguém, além de nós dois, ouvir, mas, mais uma vez, a coragem me faltou.

Depois pensei em aplicar um truqueque vi meu amigo Mandinho usar num chapa um dia desses, que consiste em tirar o telemóvel, entrar no espaço de mensagens escrever uma mensagem e entregar a moça, assim estaria a dar início a uma conversa escrita, já que eu não tinha coragem de falar.

Isso funcionou com Mandinho várias vezes, mas como eu não tenho a coragem dele não me atrevi a fazer isso, depois disso pensei comigo mesmo, “se eu estivesse bêbado talvez perdesse um pouco de vergonha e conversaria com ela sem problemas”, mas recordei-me que tentei fazer Isso uma vez e a tal moça simplesmente ignorou-me e ainda reclamou do cheiro do álcool.

Durante a viagem, também desejei ser meu amigo garanhão Bud, para poder usar a facilidade que ele tem para falar com qualquer mulher que lhe aparece pela frente, o chapa chegou a portagem com a minha mente ainda a arquitectar estratégias e/ou manobras para ver se conseguia dizer um simples “oi” a aquela moça, eu estava com um nó na garganta que chegava até a doer.

 Passamos a portagem, e eu sem tomar nenhuma iniciativa. Mas, logo depois, dei uma olhada discreta e vi que ela estava com os olhos fechados, cabeça encostada ao vidro da janela e mão no queixo, aproveitei esse momento para olhar para ela por uns cinco segundos, por mim ficaria a olhar mais tempo para ela, mas os outros passageiros, certamente, notariam que eu estava a apreciá-la.

Durante a viagem, cheguei a imaginar nós dois a caminhar num jardim de mãos dadas bem apaixonados no final de tarde, em direcção a uma árvore onde sentaríamos e ficaríamos aos beijos.

Nesse momento, o cobrador pediu para prepararmos o dinheiro, porque estávamos quase para chegar ao terminal. Pensei em inventar algo para falar logo, porque já estava a ficar com medo que ela descesse sem eu lhe ter dito um “oi” e, quem sabe, lhe elogiar pela sua beleza. Se possível, em última hipótese, conseguir o seu número de telemóvel. 

Quando faltavam quatro ou cinco paragens para o terminal, o cobrador já a terminar de cobrar, o desespero começou a tomar conta de mim. Me enchi de coragem e olhei para ela, já que ela havia aberto os olhos graças ao cobrador que avisou a todos que ia cobrar, ela também olhou para mim e ficamos com o olhar fixo um no outro.

Dois segundos a olhar para ela nos olhos foram suficientes para eu desviar o olhar, e ficar cabisbaixo, mais uma vez, repito: ela era linda. Não consigo descrever o que senti ao olhar para ela naqueles longos dois segundos.

Eu desceria no terminal e, por isso, a cada paragem que o chapa passava sem que ela descesse era como se fosse uma vitória misturada com alívio, porque estaria ao lado dela por mais algum tempo. Não sei se foi destino ou coincidência, mas o certo é que chegamos no terminal juntos.

 A chapa parou e começamos a descer. Eu desci primeiro porque estava mais próximo a porta, caminhei alguns passos e olhei para trás e percebi que ela estava a vir na mesma direcção que a minha, e eu disse para mim mesmo, “é agora ou nunca”.

Reduzi a velocidade dos passos para permitir que ela me alcançasse, assim eu acabaria com o meu sofrimento, e para o meu azar ela parou numa daquelas barracas da paragem para comprar algo.

Fiquei desmoralizado de tal forma que já não conseguia caminhar de cabeça erguida, andava com as mãos no bolso a olhar para o chão e, as vezes, olhava para trás, na esperança de vê-la novamente a tomar a mesma direcção que a minha.

Para minha surpresa ela tomou a mesma direcção que a minha, retomei ao plano anterior, de reduzir o passo para acabar com o meu sofrimento, ela deve ter percebido a minha acção e intenção porque, quando voltei a olhar para trás ela estava com o passo acelerado e isso acelerou os meus batimentos cardíacos...

 

Continua…

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Crónica: As Brasileirinhas (pornografia nos finais dos anos 90)



 
                           Por: Estêvão Azarias Chavisso


Embora tenha crescido dentro de uma família conservadora e professante dos valores cristãos, sempre tive uma forte inclinação para o “profano”. Eu tinha pouco mais de dez anos quando meu primo apresentou-me sua “inocente” colecção das Brasileirinhas - os melhores vídeos pornográficos produzidos no Brasil. Meu primo, cinco anos mais velho que eu, foi uma das primeiras pessoas que, nietzschianamente, estimulou os fervorosos apetites sexuais escondidos por detrás dos óculos daquele menino inocente, mas de natureza selvagem. Na época, finais dos anos noventa, não tínhamos a sorte de ver as brasileirinhas em HD (Alta Definição), víamos numa qualidade lamentável, mas a vontade era maior. Aliás, se na altura era difícil ter um vídeo cassete em casa, era mais complexo ainda ter uma cassete das brasileirinhas escondida entre os livros da estante.

Meu primo, milagrosamente, possuía tal “preciosidade”, pelo que, pelo menos ao nível do seu bairro, tinha a fama, o respeito e, sobretudo, a legitimidade necessária para falar das mulheres entre os seus. Ele vivia no Bairro de Chamanculo, um dos mais perigosos da Cidade de Maputo e com alto índice de natalidade. Durante os finais de semana, principalmente nos finais do mês, os meus tios (pais do meu primo) saíam para festas familiares, deixando livre o território para “reuniões clandestinas” – sessões de exibição de filmes pornográficos com mais de sete homens na sala.

Em parte, para mim, aquela realidade era traumatizante, na medida em que cada um tinha sua forma particular e, por vezes, inusitada de responder a determinados estímulos. A sessão tinha pouco mais de 30 minutos, entretanto, muitos mostravam-se já satisfeitos nos primeiros dois –  não entendia porquê.

Depois do ritual sagrado, o meu primo, o líder da “congregação”, fazia um breve resumo do que foi a sessão, lembrando algumas passagens marcantes do filme – desde as posições das actrizes até aos gemidos dos actores. Eu, o mais novo do grupo, suspeitando de tal atitude, pouco dizia. Aliás, nem tinha muito a dizer, entretanto, observava cada momento calma e atenciosamente. Era uma situação estranha, mas muito interessante. Engraçado, apesar de ser o líder, meu primo, tal como todo o grupo, não tinha uma namorada. Ora, embora tivéssemos um respeito pelo nosso majestoso líder, sabíamos que ele não colocava em prática nenhuma daquelas brilhantes técnicas.

Apesar disso, eu gostava de estar com ele, e, principalmente,  ouvi-lo explanar os segredos do sagrado corpo feminino. As visitas ao bairro do meu primo começaram a ser frequentes, principalmente nos finais do mês. Minha mãe, desconfiada deste repentino sentimento de irmandade, chegou a questionar-me sobre as constantes visitas ao Bairro de Chamanculo. Eu, olhando para os seus olhos e abanando a cabeça com ar de adulto, limitei-me a respondê-la nos seguintes termos:“ Experiência, experiência, troca de experiência”.

Hoje, depois de tanto tempo, minha paixão pelas artes pornográficas continua a mesma de há dez anos, embora os filmes contemporâneos agridam a minha sensibilidade - tomando em consideração a forma desumana como as actrizes são tratadas. Apesar da qualidade ter evoluído, as maquinas terem sido aperfeiçoadas e os cenários terem sido readaptados com estilo moderno, falta sensibilidade por parte dos actores, que destroem o momento sublime do contacto entre  corpos que clamam por prazer. Este problema legitima, em larga escola, a indignação do movimento feminista que floresce, principalmente, a partir da primeira década deste século, liderado por escritoras como Andrea Rita Dworkin, assumidamente em oposição à pornografia.

Eu, em respeito à minha infância e a minha actual condição, sou a favor da 7ª arte, seja ela pornográfica ou não - como bem disse numa entrevista o cineasta Sol de Carvalho. Aliás, a realidade manda-me questionar, o que seria de nós, actualmente, sem um bom filme pornográfico?

Actualmente, a indústria de pornografia cresceu demasiadamente, pelo que, nalguns centros principais de produção de filmes pornográficos, foram estabelecidas até regras para gerir tão “delicada” actividade. Graças às artes pornográficas, a clássica troca de fluidos orgânicos, actrizes como Tori Black, Audrey Bitoni e, a minha favorita, Belladona, entram nas “telinhas” dos nossos computadores, assiduamente, para nos fazerem companhia durante alguns minutos nas longas madrugadas solitárias. Hoje, a indústria está mais organizada e lucrativa, tanto que atores como Evan Stone, Evan Seinfeld e Lexington Steele já possuem fortunas estimadas em 3 a 4 milhões em património líquido.

Infelizmente, o meu primo (meu mestre) já casou-se. O grupo desfez-se e, por tal, não mais temos nossas sessões fervorosas de sábado à tarde. Aliás, não mais nos vemos com frequência e muito pouco conversamos. Hoje, nas primeiras horas da manhã, cruzei-me com ele na rua, está gordo e já trabalha. A primeira coisa que fiz foi questionar-lhe sobre a nossa sagrada cassete das brasileirinhas e  ele respondeu: Está lá, no mesmo lugar de sempre, à espera de uma nova geração para dar continuidade à tradição.
Fim

terça-feira, 12 de maio de 2015

Opinião/ Sociedade :Os Nossos Tempos




                                     Os Nossos Tempos

                             Por: Estêvão Azarias Chavisso

Comummente, no seio das nossas sociedades, é notável uma tentativa de distinguir qualitativamente as gerações anteriores das atuais. Assistematicamente e longe de uma periodização científica, ouvimos, com frequência, os “velhotes” defenderem a ideia segundo a qual as gerações anteriores eram melhores que as atuais. Na verdade, tal discurso, por vezes exasperante, pretende simplesmente alertar a juventude hodierna para uma suposta deterioração de valores morais na contemporaneidade. Porém, analisando o cerne deste desta discussão, percebemos que a referida deterioração é extensiva a todas gerações da própria época contemporânea, inclusive a dos “velhotes”, se pensarmos que a época inicia com a incontornável revolta dos franceses em 1879.

Realmente, nós vivemos hoje um grande paradoxo, um dilema entre os conceitos evolução e desenvolvimento. Enquanto seres humanos, será que estamos a evoluir? Se sim, o que é evolução? 

Estamos no “auge” do que alguns chamam de pós-modernidade ­- embora não haja consenso na periodização desta época. Vivemos a alvorada da evolução tecnológica, o dito mundo da técnica. É um período, por excelência, complexo e de demasiado relativismo, que submerge o homem nas suas sucessivas e variadas novidades apresentadas à velocidade da luz.

Uns, nos finais da década 80, defendendo a história da humanidade como um processo singular, coerente e evolutivo que atravessa os tempos, consideraram-no um prelúdio do fim das “grandes ideologias”, a morte das metanarrativas, acreditando que o triunfo “inequívoco” da democracia liberal e o fim das contradições entre povos, depois da queda do Muro de Berlim (1989), criariam as condições necessárias para o brotar de um suposto “ último homem”.

Outros, ainda às portas do século XX e em ofensiva assumida contra uma moral cristã em eminente decadência, gritaram do alto de uma montanha a morte de um suposto deus, que culminaria com a ascensão triunfal de um tal de Ubermensch (super-homem).

Todo este panorama enquadra-se no mesmo contexto social, que evolui gradualmente à luz de em pluralismo cultural, dentro de uma única “aldeia global”, como dissera Mashall Mcluhan. De certa forma, a luta pelo reconhecimento da dignidade do Outro (homem) teve êxito, entretanto, com o seu triunfo, perdemos as grandes referências, o Ideal de sociedade.

Em oposição a um etnocentrismo ocidental, uma aparente contraofensiva libertária foi desencadeada pelos considerados continentes ‘’descobertos’’, que ambicionavam alcançar a sua soberania política, social, económica e cultural, condição sine qua non para legitimação da sua Humanidade. 


O tempo passou, mais rápido do que se previa. Hoje, o mundo já não está dividido em apenas dois blocos claramente opostos. No mundo atual, existem vários blocos, que representam várias ideias políticas, económicos e, sobretudo, culturais. São várias experiências que fundem-se num só contexto e em tempo real, unindo povos de realidades totalmente diferentes, mas com a similaridade de serem todos seres humanos.

Estava em Maputo (Moçambique), quilómetros e quilómetros de distância do Quénia, mas ouvi, em tempo real, o grito dos 147 estudantes da Universidade de Garissa, mortos pelo grupo islamita somali al-Shebaab. A senhora de um dos prédios da Av. Venceslau de Morais em Macau soube que Mohammadu Bohari é a nova aposta dos nigerianos para combater a temida seita terrorista Boko Haram. Isto prova que estamos cada vez mais próximos, porém, e felizmente, cada vez menos unidos.

Melhor ou pior, deteriorada ou decadente, esta é a nossa época, que apresenta questões tipicamente nossas, num contexto que nos é próprio. Cada época é (e sempre foi) singular no universo da existência humana. Cada período tem seus paradigmas e seus problemas, aos quais cabe a sociedade no geral apresentar suas respetivas soluções. 

A única verdade é que a história, como sempre, não perdoa, pelo que caberá às futuras gerações julgar e condenar as nossas atuais escolhas, como também fizemos com as épocas anteriores.

NB: Escrito à luz do novo Acordo Ortográfico  
 publicado em http://www.fasdapsicanalise.com.br/os-nossos-tempos/, a 26 de dezembro de 2015.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Opinião/ Educação: Educação em Moçambique: sem escrita e semleitura



                                       Educação em Moçambique: sem escrita e sem   leitura




 

                            por:Albert Massango
Realizou-se na primeira quinzena do mês passado, em Maputo, a II reflexão sobre o actual estágio da educação em Moçambique. A reflexão contou com a presença de várias figuras de renome, desde académicos, ministros, investigadores e muitas outras individualidades. Uma vez feita a reflexão, achei relevante trazer ao nosso jornal um ponto interessante sobre a mesma.

 

Durante o encontro, a antiga ministra da Educação e ex-esposa do primeiro presidente de Moçambique, Graça Machel, trouxe uma abordagem interessante, que criticava severamente o sistema nacional de ensino. A activista social afirmou que o principal problema da nossa educação começa da base e prossegue até ao nível superior.

 

Uma intervenção sábia e feliz, se analisarmos a raiz da nossa educação. Concordo plenamente com os pronunciamentos da antiga ministra da Educação, pois, observando o nosso sistema de educação, acabamos por constatar que do ensino primário até ao superior existe uma serie de problemas.

 

Esses problemas, na sua maioria, estão ligados à escrita e, consequentemente, à leitura. Ou seja, o “greatest nightmare” dos estudantes e, também, professores moçambicanos, para não dizer da sociedade moçambicana em geral, são a leitura e a escrita.   

 

Um professor, independentemente da classe que lecciona, deve ter a cultura de leitura e, principalmente, de escrita, sendo que esses dois elementos são as suas ferramentas de trabalho.

 

Em Moçambique, porém, a maior parte dos professores não têm a cultura de leitura e, muito menos, a de escrita. Tomemos como exemplo alguns professores da Escola de Jornalismo, que nunca redigiram, sequer, uma ficha de leitura para os seus alunos, limitando-se apenas a produzir cópias de obras alheias.    

    

Então, sendo que o desleixo pela leitura e escrita começa do professor, o que se pode esperar de um simples aluno que tem o professor como espelho? Obviamente, o aluno passará a copiar o que vê do professor. Com isso, não quero culpabilizar o professor pela “podridão” da educação em Moçambique, pois somos todos culpados, o Governo, a família, o professor e o próprio aluno.

 

Em jeito conclusivo, acredito que, enquanto o Governo moçambicano estiver “engajado” no cumprimento de metas estabelecidas pelos doadores (Banco Mundial, Fundo Unitário Internacional, União Europeia, etc), preocupado com a quantidade e não com a qualidade, a educação em Moçambique enfrentará os mesmos problemas.

 

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segunda-feira, 23 de março de 2015

Opinião/Sociedade:O Aborto em Moçambique



                                                        O Aborto em Moçambique 

                                                       
                    
                                        Por Lancerda Matavel 


Nos últimos dias, tem se verificado no nosso país um aumento do número de mulheres, jovens e, sobretudo adolescentes praticantes do aborto. Nalguns casos, esta interrupção voluntária da gravidez é causada pela gravidez precoce e ou indesejada, causada, por sua vez, pela falta de aconselhamento ou planeamento familiar.

Muitas mulheres adoptam essa prática sem nenhum acompanhamento médico. Jovens e adolescentes fazem aborto às escondidas, isto é, não contam aos seus pais e nem às pessoas mais velhas para um acompanhamento. Mesmo cientes das prováveis consequências, preferem correr o risco de contrair doenças ou, em último caso, correr o risco de vida.

Sendo o aborto uma atitude que vem sendo tomada já há longos anos, em 1886 tornou-se penal a sua prática. Com a medida, as autoridades coloniais ambicionavam reduzir o número de mortes causadas pelo aborto clandestino.

Numa notícia publicada em 25 de Outubro de 2012, sobre a despenalização do aborto, a Lusa (Agência de Notícias de Portugal) informou que num documento recebido pelo órgão os bispos católicos em Moçambique  afirmavam que “o aborto provocado, seja quais forem as razões, é sempre uma violência injusta contra o ser humano e nenhuma razão o justifica eticamente”.

Os bispos teceram este comentário numa altura em que o parlamento moçambicano pretendia discutir a despenalização do aborto no país, visto que estava ainda em vigor, a lei colonial da penalização do aborto de 1886.

No mesmo documento, os bispos acrescentavam que pensar na despenalização do aborto seria “aniquilar o património cultural do povo moçambicano, que desde sempre apostou na defesa deste preciosíssimo tesouro da vida que lhe vem como uma bênção de Deus”




Esta visão sociocultural dos bispos, sobre a problemática da legitimação do aborto em Moçambique, é muito relevante pois reflecte na preservação dos princípios éticos e morais.

Se, em todo o país, muitas pessoas são a favor da despenalização do aborto, até as as autoridades governamentais,  para a felicidade de muitos, o aborto foi legalizado. Isso é benéfico, até certo ponto, uma vez que irá reduzir, pelo menos, o número de mortes causadas pelo aborto clandestino. Muitas mulheres, em particular, jovens e adolescentes, praticantes do aborto inseguro, não mais o farão sem recorrer a assistência médica,  desde já, evitando doenças.

Segundo a página da intenet da Rádio Moçambique, o antigo Presidenta da República, Armando Guebuza,  promulgou, a 18 de Dezembro de 2014, um novo código penal  que legalizou o aborto terapêutico. Com a medida, Moçambique torna-se o quarto país africano a legalizar o aborto depois de Cabo Verde, África do Sul e Tunísia.

Entretanto, se esta prática foi despenalizada, não significa que deve aumentar o número de praticantes da mesma, pois esta não deixa de ser “imoral” para a sociedade. É necessário que se pense seriamente neste assunto (o aborto).

As mulheres devem recorrer a métodos contraceptivos, fazendo o devido planeamento familiar, através de órgãos como à SAAJ (Sociedade de para o Aconselhamento do Adolescente e Jovem), como forma de melhor se informar sobre os métodos de prevenção da gravidez precoce e ou indesejada para melhor evitar a interrupção voluntária da gravidez, prevenindo-se assim do risco de vida e contracção de doenças.

A despenalização do aborto cria, de certa forma, uma “falsa segurança” nas mulheres que aderem ao aborto seguro. Mesmo que o processo corra bem, colocam-se em risco as vidas das pessoas que se submetem ao aborto.

A gravidez na adolescência é uma realidade lamentável na nossa sociedade. Muda de forma autêntica a vida de uma adolescente e, em muitos casos, elas optam pelo aborto. Sendo algo evitável, para quê correr risco? Melhor prevenir-se ou, até mesmo, abster-se.




                             



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