sábado, 20 de maio de 2017

Crónica: Uma noite cheia

Uma Noite Cheia
Autor: Mariano Mucueia
Todo começou naquela manhã, quando fui à faculdade. Novo ambiente, novas tendências, novas dinâmicas; diferentes das que vivi na escola de proveniência. Agora, o medo emocional exterminou a minha felicidade inabalável de ter admitido à Universidade. Como sempre, os repetentes e os “não-caloiros”, têm discursos assustadores. Merda! estou trémulo, não consigo me equilibrar.  um grande frio aperta a minha barriga.
─Aqui se chumba para caramba, putos!.. Acham que é escola secundária? Esqueçam. Vocês devem colaborar com os colossos…
Bom dia…! O professor chegou. Armando, aquecemos mais tarde estes calas. Retirava-se o Sérgio, balbuciando como quem sabe mais. Uma grande tremura dominava o Saraiva. E perguntou ao Bonzinho.
─ Que disciplina lecciona o professor que acaba de chegar? O Bonzinho respondeu com uma cara amarfanhada, como quem não gosta do professor. ─ Ele será seu professor na cadeira de Viagens do pensar Humano. Viagens do pensar humano? Perguntou Saraiva , perplexo.
─ Estou doido para ouvir dele estas viagens! Pois o homem é um ser muito complicado de entendê-lo.
O professor, como de hábito, no primeiro dia da aula, entra pela porta de traz.
Bom dia estudantes! Bom dia Dr.! Respondermos em uníssono quase todos felizes. O professor foi alto fuinho forte, na verdade quando entrou pensei que fosse um militar, mas estava enganado. Eu esperava um senhor gordo, barrigão calçando um sapato da última qualidade, porém foi o mais simples comparativamente aos meus colegas. Onde percebi que os que têm não estão preocupados com o que os outros falam, apenas fazem o seu trabalho.
A aula começou. Com o seguinte tópico: Qual a espécie mais inteligente, animal ou Humana? Esta questão pareceu-nos a mais fácil de responder. A ciência nos ensina que o Homem é a espécie mais privilegiada e inteligente. Esta resposta era do senso comum, mas o professor não concordou, consequentemente deveriam levar a questão como trabalho para casa. 
Depois de largar, tive que ir à biblioteca mas sem sucesso voltei. Já eram 18 e meia, tive que voltar para casa, todo cansado. Uma pasta grande, cheia de textos de apoio. O telefone tocou. Já, tive medo que fosse Nélio pedindo ajuda, mas foi outra pessoa.
Um número estranho até que não cheguei de atender, pois, não foi fácil, me desconcentrar e pegar no telefone, decidi desligar para não ser distraído novamente, o silêncio da noite me ajudara a ser bom estudante. Bem, não foi fácil, arrumei naquela noite, todos manuais que falam da obra de Platão e Aristóteles. Merda! Não gosto de leitura e hoje estou, aqui, à mesa, rodeado de livros, além disso, nem gosto de fazer trabalhos também, dado que, para mim, sempre foi um caus. 
O meu professor da terceira classe sempre reclamava. Mas essa não é a boa, a boa é que sempre que viesse queixar ao meu pai, eu recebia boas chapadas. Mesmo assim, com cada chapada parecia tornar-me cada vez mais burro. E agora, se o meu irmão mais velho encontrar-me logo rodeado de livros quase que não vai acreditar. “Logo! você preocupado com o dever de casa?”, perguntaria. Minha praia sempre foi ver filmes que, no final, o vilão vence, e sempre gostava de ler livros, não por recomendação, mas por vontade própria, é claro livros clássicos portugueses. Meu pai estaria orgulhoso por isso, acho que mudei muito.
Estou a ficar sonolento! Logo penso em tomar uma xícara de café. Enquanto preparo-me, o telefone toca. Afago o nariz, aproximando a mão direita para atendê-lo. É uma mensagem da minha namorada. “Tudo bem, meu amor? Escrevo-te para desejar bons estudos”. Que é isso? Ela só escreveu-me para desejar bons estudos! Franzo a testa com a mão esquerda, coçando-a. Tenho uma grande responsabilidade. Penso.
Na mensagem vejo seus lábios formosos, seu andar atlético que me lembram as ondas do mar, seus seios picantes contra o meu peito, o seu olhar angelical, a soar voz rítmica, suave da timbila,  que os meus ouvidos dizem sim, sim. Quando fala singela para mim… Que Deus me livre! Já é meia-noite, e eu distraído pensando na minha namora ao invés de voltar a fazer o meu trabalho.
Ed/AM
Continua…




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