Não
estou à mercê de Ninguém
Autor:
Albert Dalela
Fodas! Estou aqui sentado, não me pergunte onde, pensando
na vida. Penso quase em tudo - na família, amigos, namorada, prostitutas,
cigarros, faculdade e etcétera- os dias tornaram-se longos de mais, 24 horas
parecem 72. Quando acordo, rezo para que o dia acabe logo. A minha rotina é
mesmo uma foda, se não fico em casa lendo, vou à faculdade assistir às aulas ou
tentar me apaixonar por uma garota que me mereça. Algumas aulas são boas e
outras uma autêntica merda, só dão vontade de bocejar e dormir. Na verdade, só
tenho respeito por um único professor, um tal Arturo, por este não dar
relevância às burocracias curriculares e por se preocupar com o bem-estar dos
estudantes.
- Pra mim, não interessa muito a nota do teste, quero ver
a aplicação do estudante na aula, diz o professor Arturo, acrescentando que a
nota não prova o quão um aluno é inteligente ou interessado em aprender e que
nem sequer constitui item que demonstra coeficiente de inteligência.
Bons pedagogos ainda existem, aqui está o Arturo, um
senhor baixinho, careca, gay e homofóbico. Nunca percebi como é que um tipo gay
era ao mesmo tempo homofóbico. Deixando disso, entretanto, tenho uma enorme
admiração pelo professor Arturo.
O resto dos professores constitui um grupo de merda,
verdadeiros burros que fingem ser génios. Um dia, durante a aula, discuti
seriamente com um dos professores, um tal chamado Couto. O motivo da discussão
foi o seguinte: eu estava no quadro, resolvendo um exercício daí que não o
acertei completamente tendo sido, para Couto, um motivo para chamar-me nomes.
-Tu és um burro mesmo, como foste capaz de errar este
exercício? Vocês não estudam, pah, seus filhos da puta – disse aquele Couto. A
partir de já, recuso-me a tratá-lo como professor, aquele gajo é um filho da
mãe que não merece nenhum título. Porque tudo que começa finda, eu queria pôr
um fim naquilo, estava cansado de ser insultado. Posso até ser um quadrado mas
nego que me chamem filha da puta, daí que respondi aos insultos.
- Você é um filho da puta também, senhor, por isso é que
está entre nós teus alunos, que o senhor prefere chamar de filhos da puta.
Estava com muita raiva, já fazia tempo que o Couto nos humilhava.
- O que disseste? A partir de hoje, estás proibido de
assistir às minhas aulas. Assim sendo, saia daqui e não volte mais – foi o que
Couto disse de imediato. Não pensei duas vezes para dizer alguma coisa após ter
sido mandado embora da minha sala, infoestrutura construída com o dinheiro do
povo.
- Não há problema, vou-me embora. Levo tudo que me
pertence e me despacho daqui, fica o senhor com esses imbecis que aceitam ser
chamados de filhos da puta. Eu não sou um deles, por isso, não se preocupe,
saio daqui e nunca mais volto e, já agora, Tchau, filho da mãe. Pus-me fora da
sala com os meus pertences. Pude ver o semblante do Couto, irritado. Em parte,
pensei que ele estivesse arrependido mas, como se sabe, idiotas nunca se
arrependem – pensam que arrependimento e redenção só devem constar do
dicionário e ponto final.
“Dizem que faço parte duma geração perdida e sem futuro,
uma geração de miúdos que não sabem nada, por isso ninguém se importa. No
entanto, pergunto, como sou capaz de aprender se tenho um professor que me
insulta ao invés de me mostrar o correcto?”, foi o que andei a pensar, quando
já me encontrava bem distante da sala, matutando no perigo que professores como
Couto significavam para o nosso sistema de educação, se realmente tivermos
algum. Já não quero falar sobre o Couto, basta, pois não estou à sua mercê.
Ainda estou aqui sentado, já disse para não me
perguntarem onde, agora com o pensamento concentrado na minha namorada. Aliás,
não tenho namorada, sempre achei ridículo ter uma namorada – nunca gostei de
dar relatórios, dizer o que faço, onde estou, com quem estou e etcétera.
Namorar significa ter tempo para dar relatórios, pelo menos é o que tenho visto
por aí. Para falar sério, com os meus vinte e um anos, só tive uma namorada e
umas quatro meninas que fingi serem minhas namoradas, isso sem dar referência à
miríade de gajas que andei a pegar. Não me levem a mal, não sou o que vocês
pensam que sou - um mulherengo ou algo que o valha – meti-me com todas essas
tipas na tentativa de encontrar um grande amor mas, para o meu azar, só conheci
tontas e viciadas em sexo.
Falando em viciadas, vem-me a mente uma moça que a
conheci numa livraria, em Maputo. A tipa chamava-se Madalena, tinha um óptimo
corpo, uma face meio artificial mas interessante, seios que chamavam atenção,
se interessava por livros apesar de serem aqueles cor-de-rosa – os que se
debruçam sobre moda, com um daqueles títulos: como andar de mini-saia durante o
inverno. Essa tipa foi uma daquelas que fingi ser minha namorada. Andamos
juntos por três meses, víamo-nos quase todos os dias e fodíamos no mínimo dez
vezes por semana. Enquanto “namorados” só abdicávamos do sexo quando ela
estivesse de período. Mesmo assim, ela se mostrava interessada em trepar mas a menstruação
não permitia tal acto.
Ainda nos estávamos a conhecer, eu na expectativa de me
apaixonar e ela já firme na ideia de que eu era o seu amor. Assim sendo,
constatei que seria melhor terminar, pois não a amava e não fazia sentido mantê-la
na expectativa de ser amada. A Madalena entrou em crise, mudou-se de Maputo
para Beira e nem sequer pensa em regressar. Essa foi a última tipa que
“namorei”. De lá para cá sou solteiro e gosto disso, não quero saber de
mulheres nem amor. Não dependo deles.
“Mamã, estou a chegar”- um minuto, volto já, a minha mãe
me chama. Volto logo para continuar...
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