DAMN, o Ego de Kendrick Lamar
Autor: Alberto
Massango
Tudo começou em
2012, quando kendrick Lamar lançou o seu segundo álbum de estúdio, intitulado: Good Kid M.A.A.D City, que na verdade
parece ser o seu primeiro, dado que foi a partir do mesmo que o rapper obteve
mais visibilidade no mundo do Hip-Hop e foi positivamente aclamado pela
crítica. O seu álbum de estreia, Section
80, também teve uma boa recepção, entretanto será com Good kid M.A.A.D City que
Kendrick Lamar se tornou mais popular, com músicas como – “Poetic Justic”, com a participação de Drake, e “Bitch don’t kill my Vibe”, com Lady Gaga - esta última tendo merecido uma remix de Jay-Z. Após esse álbum, rondaram vozes cépticas questionando
se o miúdo de Compton, Califórnia, poder-se-ia ou não reinventar (a mesma
questão que se levanta quanto se fala sobre o rapper português Valete, após ter
alcançado sucesso e influenciado uma geração de rappers, nos países lusófonos,
com os álbuns Educação visual e Serviço Público).
No entanto, pelo visto, Lamar
conseguiu calar tais vozes, pois o seu terceiro álbum posto no mercado em 2015,
To Pimp a Butterfly (TPABF), um disco que mistura Hip-Hip e elementos
de jazz e funck, na faixa “I”, por exemplo, resgata o lendário grupo The Isley
Brothers, mostrando criatividade e fluidez no seu esquema rimático. TPABF chegou
ao topo da Billboard 200, com 363 mil cópias vendidas na semana de estreia, só
nos EUA, tornando-se um dos álbuns de Hip-Hop mais vendidos e relevantes –
razões suficientes para afirmar que Lamar convenceu uma boa parte da crítica e
não só. Aliás, TPABF, com temas que se debruçam também sobre questões raciais e
políticas, teria levado Kendrick à Casa Branca, a convite pessoal de Obama,
dado que este teria escolhido a faixa “How Much a Dollar Cost” como a sua
preferida de 2015.
Até agora, dentre os álbuns citados acima, o TPABF é a
obra mais importante de Kendrick Lamar, pois, segundo a crítica, é um disco que
aborda diversas temáticas, com diferentes variações rítmicas, misturando
diversos géneros musicais. Já ano passado, o rapper lançou o Untitled Unmesked, que, na verdade, é
uma colectânea de músicas compostas durante secções de gravação do To Pimp a Butterfly – tendo sido
destacado como um dos melhores álbuns de 2016.
Lamar, como um bom soldado que não adormece e nem deixa
de se reinventar, em Abril do presente ano, exactamente na semana santa,
brinda-nos com uma outra obra musical – que já é uma das melhores lançadas em
2017. A mesma chama-se DAMN., álbum
que contorna a linhagem dos álbuns anteriores, dado que o rapper, desta vez,
optou, na maior parte das faixas, em falar do seu ego, dos seus medos, cobiças,
ambições e sentimentos. Nesse disco, temos um Lamar mais maduro e franco,
afirmando na faixa, “Fear”, trabalhada por Alchemist, produtor influente no
sistema underground, que teme perder a criatividade.
DAMN. inicia com uma
bela narrativa, “Blood.”, mostrando o quão Lamar é um bom contador de histórias,
em que um homem se dispõe a ajudar uma mulher cega e frustrada, a encontrar
algo que ela teria deixado cair mas esta, simplesmente, tira uma arma e dispara
contra o homem. Metaforicamente, Lamar quer significar que não vale a pena ser
altruísta ou honesto para com as pessoas, pois sempre nos trairão. K-Dot, na
segunda faixa, afirma que no seu DNA. possui lealdade, paz, guerra, veneno e
ambições – o mesmo que dizer que o bem e o mal são intrínsecos ao ser humano.
Depois
segue-se “YAH.”, que só pelo título o rapper parece estar cansado de dar
satisfações, afirmando que os media ouvem suas opiniões para, na verdade, ganharem
prestígio. Na quarta faixa, “ELEMENT.”, Kendrick reafirma o seu pacto com a
música, gritando, nos primeiros versos, que está disposto a morrer por ela. É
na música “FEEL.”, a quinta e uma das introspectivas, que Kendrick se sente
inseguro e medroso, pois, segundo este “as pessoas querem que eu reze pelo
mundo mas ninguém reza por mim”. Numa batida um pouco calma e lenta, Lamar, na
faixa “LOYALTY.”, convida Rihana para pedir confiança e lealdade à sociedade,
acrescentando que “It’s so hard to be humble” – esta é uma daquelas faixas que
merece ser repetida sempre. Em seguida, na “PRIDE.”, teremos um Lamar mais
deprimido, que não ama suficientemente as pessoas para confia-las. Mais uma vez
uma questão direccionadas às relações humanas.
Após ter-nos nutrido com sons introspectivos, o miúdo de
Compton, numa instrumental agitada e ideal para se dançar, brinda-nos com “HUMBLE.”,
a mais popular do álbum – nesta, Dot não pede muita coisa senão humildade.
Aliás, há quem afirma que essa é direccionada aos rappers Big Sean e Drake. “I
just need you to want me/ am i asking too much?”, Lamar questiona na nona
faixa, intitulada: LUST. Depois da cobiça surge o amor é, desta feita, que temos em
seguida “LOVE.”, com a participação de Zacari, um som mais relaxado à
semelhança de “LOYALTY”.
Até agora faltava um aspecto comum em Kendrick, que é
dar referência à questões políticas, assim sendo, na décima primeira faixa, “XXX.”,
Lamar vai manifestar sua simpatia pelo ex-estadista Obama em detrimento de Trump.
A décima segunda é a faixa “FEAR.”, em que King Kunta questiona a Deus: Qual é
a razão para tanto sofrimento na terra. Estamos quase no fim do álbum e Kunta
está mesmo farto de dar satisfações e, na música “GOD.”, pede não ser julgado
pelos seus actos.
Com essas faixas, já é suficiente para afirmar que DAMN, da autoria de Kendrick Lamar, é um
álbum bem conseguido à semelhança de To
Pimp a Butterfly e Good Kid M.A.A.D City. No entanto, para encerrar, ainda somos
brindados com a música “DUCKWORTH.”, produzida por 9th Wonder, um monstro do
Hip-Hop que já trabalhou com artistas de alto calibre como: Common Sense, kanye
West, Beyoncé, Mary J Blige e outros. “DUCKWORTH.” é uma das melhores músicas
do álbum, que nos últimos segundos, através
duma analepse, guia-nos ao início do álbum. Na maior parte das músicas, Dot
trabalhou com o seu habitual produtor da Top Dawn Enterteinment Sounwave.
Fim//
Nenhum comentário:
Postar um comentário