segunda-feira, 27 de março de 2017

Livre: Marina

Marina

                                                                                               Por :Cowen da Conceição 


Iniciei cedo a caçada, como um homem faminto de liberdade. Nunca me prendi aos relacionamentos, fui um “galanteador” hábil e que tão cedo tirou de si o que apelidou de deficiência, a virgindade. Foi com a Anabela, que só tinha de Ana e nada de bela.

Por curiosidade me senti Homem e satisfiz a vontade. Quando dei por mim era um “caçador”. Fiquei com a Júlia, boa de cama, bem magrela e com um corpo escultural que me entontecia de prazer e fazia-me suspirar alegremente. Porém, como de costume, me cansei dela.

Depois dela fiquei com mais Júlias, tantas outras Anabelas e também algumas Cacildas e assim, nesse ar de curtição, levei a vida. Provei de tudo um pouco, até as coisas inebriantes. Fui capaz das piores atrocidades só para alimentar minhas futilidades. Troquei mais de mulheres do que escova de dentes em um ano e quis mais. Então voltei para o manancial em pensamento e vi que realmente iniciei cedo a devastação que perdi a conta de quantos corpos toquei, quantos corações machuquei. Chego a pensar se fui insano.

Enfim, continuei agindo como se eu fosse imune a tudo e a todos, até que, num dia ensolarado, conheci Marina, miúda de um nome com algo que me fascina, o mar com o seu ensejo que me intriga. Marina era uma doce e meiga miúda, ingénua e inocente. Ela, sim, foi a minha mais excitante conquista engatada pelo meu lascivo ar arrogante revestido de bom moço.

Fui na mansidão, afinal esta era mesmo especial, minha donzela. Com ela tive mais trabalho e mesmo assim não desanimei muito. Pelo contrário, encarei tudo como um desafio, que nem mesmo quando pensei que jamais conseguiria o tão querido fruto prossegui na maior frieza e fui muito bem calculista.

Eu queria uma transa como nunca, então, ressuscitei em mim todo tipo de palavras de carinho. Na verdade, só mentiras, palavras baratas. Menti como ninguém para explorar aquele casto corpo. Algo de que sinceramente não me orgulho e num belo dia a convenci finalmente. Quebrei suas crenças de um amor puro “casamento com virgindade“. Sem dúvidas esta foi a que mais sofreu comparativamente com as outras. Só não sei porquê não parei, porquê fui tão cruel.

Foi tudo bem arquitectado. Cuidadosamente, a maçã passou de verde para maturada e suculenta. Quanto mais perto da Marina eu ficava, mais distante me sentia e me cansei mais rápido e fugi dela.
Ela me procurava e eu inventava inúmeras desculpas. Estava mais é me divertindo como sempre e como nunca. No fundo, tudo isto que eu fazia, só me fazia sentir-se infeliz. Principalmente quando lembrava que Marina pensava que estávamos a namorar. Então resolvi abrir o jogo para ela e ali vi no seu olhar a desilusão que eu plantei. Foi uma grande catástrofe, uma enxurrada inexprimível de sentimentos. Com certeza ela sentiu e, mesmo assi, virei e fui embora.~

Continuei assim incansavelmente, provando até do proibido com um gosto ardente. Se calhar até pode ser um comportamento doentio este desencadeado por mim, mas estou levando a vida como posso e o ganho nisto tudo é experimentar o novo.


Não sou o único, nem o primeiro e, muito menos, o último. O que difere a mim dos outros é que eu conto aqui a minha história sem vanglória. Fiz-me vagabundo  e bem lá no fundo só caiu na minha lábia quem quis. Talvez devesse arrepender-me e buscar perdão, mas pau que nasce torto assim permanece.

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