Capicua (2012): a invasão
de uma “Comandante da Guerrilha Cor-de-rosa”
Por: Telcínia dos Santos e
Estêvão Azarias Chavisso
O grito da mulher no "Hip-Hop" feito na lusofonia está cada vez mais alto. Um pouco por todo lado, entre os
países falantes da língua de Camões, é comum uma voz feminina captar a atenção
dos amantes deste estilo, contrariando a arcaica opinião de quem sempre viu o
rap como um estilo masculino.
M7, Pamelloza Carvalho,
Ivete, Odisseia das Flores, Issa Paz, Kmila Cdd, Marita Venus (aposentada), Fat
Lara (falecida), Dory De Oliveira são alguns exemplos de nomes da “velha” e
“nova” geração que têm merecido respeito entre os nossos países, numa presença
que, pelo menos na lusofonia, tem deixado evidente a necessidade de uma
estratégia conjunta para a expansão e internacionalização do rap feito em
português.
Entre as vozes femininas da
música rap da lusofonia, se é que assim se pode pensar, seria impossível não
fazer menção a rapper portuguesa Capicua (Ana Matos), uma das mais notáveis
vozes do rap nos últimos anos em Portugal.
A “Comandante da Guerrilha
Cor-de-rosa” ou simplesmente a Abelha Rainha do Hip-Hop “Tuga” “tomou” a liderança da
“frente feminina” em 2012, com a edição do seu primeiro álbum (homónimo).
Sutil, astuta e vibrante, em
14 faixas, Capicua ensaiou, no álbum, a sua própria marca, chancelada por
produtores respeitados tanto em Portugal bem como na lusofonia, entre os quais
destacam-se Sam The Kid, Makoto Yagyu e Pedro Geraldes.
O toque poético, porém, por
vezes, pouco expressivo estava lá e dava início a um processo de consolidação
que culminou com a criação de um “flow” próprio, que hoje, anos depois, está visivelmente
mais sólido, como é notório no álbum “Medusa”, de 2015.
Apesar de existir quem
observe influências de Valete e Sam The Kid, em “Capicua”, a Comandante da
Guerrilha Cor-de-rosa esbanja originalidade e unicidade, abstendo-se, ate certo
ponto, da construção convencional que carateriza notáveis álbuns do rap
lusófono, com temáticas que tabelam quase sempre entre política, sexo e amor.
A Abelha Rainha do Hip-Hop
“Tuga” vai um pouco mais longe neste álbum, numa viagem livre sobre melodias
leves e que casam perfeitamente com a audaz simplicidade de um esquema rimático
simpático – mesmo à cor-de-rosa.
Há aqui um toque de
modernidade e inovação num estilo caracterizado por rimas abstratas, que exigem
de quem ouve uma atenção especial para decifrar suas mensagens de teor profundo
e, por vezes, rústico.
É um álbum de muitas facetas
(cor-de-rosa, autobiográfico e cheio de narrações inusitadas) e nisso nota-se a
capacidade da “menina” do Porto de ser volátil, encaixando, no entanto, nos
temas, até certo ponto, incomuns.
Talvez, por consequência da
sua formação (Sociologia), reflexões em torno de alguns dramas sociais mereceram maior evidência e exposição. A prova disso está na emoção que a
rapper deposita em temas como “Terapia de grupo”, “Medo do medo” e “Heróis”.
Mas, ao mesmo tempo, a Maria Capaz do rap tuga
dá espaço às fantasias de uma mulher igual a tantas, ao pedir, na faixa 12, uma
simples “Casa no Campo”.
A construção estética do
álbum editado pela Optimos Discos revela uma mulher sem tabus e que almeja
quebrar os estereótipos do género no hip-hop. “Luas”, “A Última” e, obviamente, “Maria Capaz” são faixas que expõem esta pretensão, que, em nossa opinião, esconde
um dos seus maiores trunfos: ser um símbolo e a inspiração para um género por muito tempo ostracizado no Hip-Hop (a mulher).
Boa escuta :
https://www.youtube.com/watch?v=p0rvPVDnZD4&spfreload=10
Interessante! Nunca me dei tempo para escutar devidamente os sons de Capicua, mas depois dessa matéria terei que fazê-lo chance...
ResponderExcluirAgradecido , meu caro. Era essa mesmo a nossa intenção.Forte abraço.
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