domingo, 29 de setembro de 2013

Página da opinião (Setembro de 2013)




A Política de não Política na Escola de Jornalismo

Qualquer governo que se preze sabe que a educação é um ponto de extrema importância para desenvolvimento de um país. As consequências de um sistema de educação deteriorado não são de imediato sentidas, todavia, condicionam o desenvolvimento futuro da própria nação. Em outros termos, se hipoteca o futuro deste mesmo povo. Sendo Moçambique um estado ainda muito jovem (com menos de 40 anos de independência), os problemas que o sector da educação apresenta são muitas vezes atrelados a este factor. Por outro lado, facto do país pertencer a lista dos mais pobres do mundo (o terceiro mundo) é também apontado como causa para a existência de um sistema educacional deteriorado.  

São vários os problemas que o sector da educação nacional apresenta, dentre os quais podem ser apontados como os mais nocivos os seguintes: a falta de escolas secundárias em determinadas zonas rurais, a falta de condições mínimas para o processo de aprendizagem (salas condignas e material de estudo), a qualidade do próprio ensino e a incapacidade de desenvolver a visão crítica e interventiva do estudante aos paradigmas da sociedade. No entanto, para uma abordagem profícua pretendemos pegar apenas no último ponto e dilacera-lo ao máximo. Para tal, é necessário que o nosso pequeno estudo apresente a objectividade exigida para estudos do género. Sendo assim, o mais recomendável é fragmentar a análise, pegando numa instituição de ensino nacional à título de exemplo. Com efeito, tomemos a Escola de Jornalismo como “objecto de análise ” – visto que os problemas da mesma afectam-nos directamente.                    
A Escola de Jornalismo é uma instituição de formação em comunicação, ela lecciona os cursos de Jornalismo, Publicidade e Marketing e Relações Públicas. Presume-se que os agentes da comunicação por esta formados, respondam, imparcialmente, às demandas da sociedade moçambicana. Porém, a formação destes agentes da comunicação no seio da Escola de Jornalismo é de índole duvidosa.  

O regulamento “ditatorial” desta instituição está a degradar o pensamento crítico do estudante. De acordo com as regras internas, os estudantes não podem em nenhum momento escrever sobre política no jornal interno (ABC). Porquê e Como? Se homem, como bem dizia grande estagirita  “Aristóteles”, é um animal político por natureza. Com regimes do género não estaríamos a agredir um dos princípios maiores, a liberdade de expressão?    

Alicerçados por este tipo de regime, apenas estar-se-ão a formar jornalistas que tendem a ser passivos em todas as acções governamentais. Jornalista parciais, que, ao invés de defender com unhas e garras a profissão, vergam-se aos pequenos trocados que lhes são oferecidos pelo governo com vista a ofuscar actos macabros por este perpetuados.

 Ao se instituir a “política de não política” na Escola de Jornalismo, esta a se assumir tecnicamente que os jornalistas que são formados nesta instituição de ensino não devem em nenhum momento expor o seu descontentamento em relação aos problemas política nacionais. Sendo assim, se desde a formação isso não lhes é permitido, é claro que mesmo na vida profissional enfrentarão vários problemas.

Conhecer as técnicas do LEAD, assim como dominar a terceira pessoa gramatical, não fazem de alguém um jornalista sério. É com capacidade de discutir pontos de carácter crítico que se molda um bom jornalista. Jornalismo é uma área que deve por natureza ser de carácter “contra-ofensivo” – por isso a denominação “contra-poder”. 

É certo que é preciso difundir a notícia, reportagem e publicidades, porém, e o artigo de opinião? É indubitável que um jornalista passivo e limitado de ter um pensamento crítico −  como o que é formado na Escola de Jornalismo, terá problemas sérios em trazer-nos uma abordagem interessante neste tipo de texto jornalístico. 

Como o caro leitor pode constatar, nossa posição é contrária ao regime vigente na Escola de Jornalismo - pelo menos quanto a política da não política. A liberdade de expressão é a base para qualquer sistema democrático. É inconcebível que um jornalista seja incapaz de fazer uma leitura concisa do panorama político nacional. A posição da Escola de jornalismo, quanto a política da não política, reflecte deterioração progressiva do sistema nacional de educação. Entretanto, o jornalista não deve assistir ao funeral do jornalismo imparcial de braços cruzados, há necessidade de se manifestar contra este tipo de regime ditatorial.          

                                                                                                                  Autor: Jeremias Chemane

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