terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO


AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

Créditos : AS
por:Lino A. Guirrungo (Jan, 2019)

Eu nasci pouco depois que o nosso país aprovou a nova constituição do sistema multipartidário. Meu tio diz que, quando nasci, a minha família acreditava imensamente que o futuro seria melhor. Ele achava que a minha geração era a mais sortuda da história de Moçambique. Sinceramente, as suas ideias não eram equivocadas. Eu não fui colonizado como meu avô, nunca fui lutar como nossos heróis ou tive de fugir da guerra como o meu tio. No entanto, nos últimos anos, tenho vindo a me perguntar por que não sinto que a minha geração é a mais sortuda da nossa história?

Actualmente, consigo assumir sem reticências a resposta e a responsabilidade que acarreta: temos sido constantemente enganados pelos nossos políticos e, mais importante, perdemos a capacidade de agir de acordo com a nossa indignação. É uma resposta óbvia, no entanto, a juventude tem falhado em a levar seriamente.

No início dos anos 2000, o discurso mais comum dos nossos líderes políticos era que a nação é pobre por causa da guerra civil. Para ser mais específico, toda a culpa era colocada na RENAMO, da mesma forma que as nações vencedoras culparam sempre os perdedores (a RENAMO tecnicamente não perdeu a guerra, mas perdeu nas eleições subsequentes). Como todos sabemos, as razões para as origens e a perpetuação das guerras nunca são tão simples.

As consequências da guerra foram de fato terríveis, ainda vívidas na memória colectiva, incluindo nos meus familiares. Na altura, esta era uma desculpa aparentemente aceitável, até porque Moçambique era o "queridinho" da comunidade internacional e o crescimento do PIB estava imparável. Nossos políticos doutrinavam-nos para lembrarmos do período sombrio da guerra e contentarmo-nos com os ganhos marginais que estávamos a obter. Assim eu cresci, com um ressentimento contra a oposição e não ficaria surpreso em saber que há pessoas da minha idade que já sentiram o mesmo. Estávamos todos obcecados com o passado, acríticos ao presente, e ninguém lograva imaginar com profundidade o futuro. Depois disso foi eleito o Presidente Guebuza, o vendedor de patos e ilusões.

Provavelmente, a presidência de Guebuza foi o período mais conturbado do nosso país desde a guerra civil. Para ser justo, o período não começou tão sombrio. Ele prometeu melhorar as infra-estruturas, apoiar o empreendedorismo local, criar uma presidência inclusiva e, acima de tudo, findar a pobreza absoluta. Nos seus dois mandatos, ele falhou miseravelmente em cumprir sua promessa principal: erradicar a pobreza absoluta. Desde então, Guebuza e os vermelhos começaram a culpar o povo. “Os moçambicanos são também afligidos pela pobreza espiritual”, asseverava Guebuza em 2010. No mesmo ano, o país ficou em 165.º no Índice de Desenvolvimento Humano, ou seja, Moçambique era o 5.º país mais pobre do mundo. Se você assistiu a muitos noticiários da TV na época como eu, poderá lembrar-se do quanto os nossos políticos tentaram colocar em causa a validade do relatório. E isso não foi o pior.

Gradualmente criticar a presidência e o partido no poder tornou-se sinónimo de falta de patriotismo e servidão a interesses estrangeiros. Procuradores, comentaristas políticos e outras vozes críticas começaram a ser silenciados por ameaças de morte, prisões ilegais e assassinatos. Obviamente, somente os escritores escaparam porque quase ninguém lê. Enquanto isso, os jovens mais formados nunca foram aos protestos contra a subida do preço do pão e do petróleo. Talvez essa tenha sido a razão pela qual, na época, um dos ministros chamou os grevistas de “vândalos e marginais”.

Os jovens começaram a se dividir em dois grupos: i) aqueles que aceitaram a propaganda do governo e se tornaram ferozes defensores do partido no poder; ii) aqueles que simplesmente abandonaram o interesse pela política e pararam de se importar. Eu estava no segundo grupo. Presentemente, eu sei que todos perdemos independentemente do grupo e recuso-me a continuar apolítico.

O Presidente Nyusi ascendeu ao poder, mas o status quo manteve-se. O partido no poder, com ou sem fraude, continua ganhando as eleições e o governo está se tornando cada vez mais autoritário.

Os jovens que se juntaram ao partido governante continuaram a receber camisetes, subsídios e lanches durante as campanhas eleitorais. Os de mais pujança tornaram-se em vice-ministros. Eles propagaram a mensagem de que a incompetência recorrente do nosso governo é algo normal porque todos de qualquer forma podem cometer erros. A lógica perversa: o erro de uns inocenta a todos, como se ninguém pudesse ser alvo de responsabilização. Tente ver num desses vídeos virais como o secretário-geral do partido no poder vergonhosamente tentou explicar a catástrofe das dívidas ocultas. No entanto, as mentiras já não são mais fáceis de digerir.

Herdámos do Presidente Guebuza e do partido no poder uma dívida ilegal, não há comida nas nossas mesas, agora há até demasiados MyLove que chapas, terroristas estão a invadir no norte, e a guerra com a RENAMO é, bom, complicada. A realidade é cristalina: o partido governante falhou com todos nós no passado e está a falhar connosco no presente.

Muitos jovens seguiram por diferentes trilhos, mas com características em comum: evitar falar a verdade aos centros do poder e acentuada falta de fibra ou indignação. Temos títulos universitários sem valor na nossa economia fracassada, alguns têm empregos oferecidos por seus padrinhos, uns são voluntários para as organizações da sociedade civil cujas causas não acreditam mas precisam de seus subsídios e outros desapareceram na ampla marginalização. O país está paralisado, mas muitos seguiram em frente. “Poderia ter sido pior”, diz o adágio popular.

A nossa geração pode não ser a mais sortuda como o meu tio já pensou. Entrementes, não teremos futuro se o curso dos eventos continuar o mesmo. O partido no poder não é a solução, mas parte essencial do problema e a sua remoção é dever histórico de todo o moçambicano, hoje ou amanhã. As soluções adequadas para os problemas mais prementes dos nossos tempos não residem exclusivamente no passado nem nalgum lugar no futuro. Presumivelmente, o passado será sempre pior comparado ao futuro. Mas é no presente que podemos começar a criar a diferença decisiva entre o passado e o futuro.

Os jovens não farão a diferença apenas assistindo a TV e depois reclamar nas redes sociais ou nas conversas privadas em bares. Não salvaremos o nosso futuro se os nossos guias forem só aqueles que lutaram pela independência ou seus sobrinhos. Acredito que a sociedade civil é indispensável para uma democracia vibrante, mas ela não será suficiente se os jovens estiverem buscando mudanças políticas direccionadas às suas necessidades mais urgentes, como boa educação, saúde, emprego e investimento no empreendedorismo juvenil sem restrições políticas.

Precisamos de ler a nossa história não apenas para enaltecer os nossos heróis e muito menos só para legitimar um partido corrupto, mas também para tomar lições sobre bravura e o poder da indignação. O Presidente Machel, Chissano, e até o Presidente Guebuza eram jovens demais quando decidiram mudar o rumo da nação moçambicana. Nenhum deles tinha 40 anos quando abraçaram a causa do povo.

O futuro de Moçambique pertence a todos moçambicanos (crianças, mulheres, jovens e adultos), não apenas àqueles que defendem o batuque e a maçaroca. Recuso-me a aceitar que o nosso futuro passa apenas por vozes dissidentes dentro do regime, o país tem muitas outras vozes que precisam ser ouvidas e ver suas as ideias em prática. A juventude precisa de igualmente assumir o poder político e instituir as suas próprias prioridades. Isso, no entanto, não é a panaceia para os nossos problemas como um país, mas o começo de um futuro radiante e diferente.


FIM!

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A Tomada do Frelimigrado


A Tomada do Frelimigrado

            CHOQUE! Essa é palavra que corre o mundo nesta manhã para descrever o que aconteceu ontem em Moçambique. E não poderia ser outra. Foi com choque que li as notícias. Dediquei-me a dois artigos de dois jornais nacionais. “Revolução ou Golpe de Estado? A tomada do Frelimigrado” questionava-se um deles na capa, enquanto o outro, num longo artigo de opinião, proclamava “O Povo no Poder: Caiu o reino do batuque e da maçaroca”.

Em pouco menos de 24 horas, o país mudou de regime, tem novo um Presidente Interino, metade dos governantes estão presos e a quase toda outra metade fugiu para o estrangeiro. Ninguém sabia ao certo explicar como tudo aconteceu tão rapidamente, mas havia certeza de como tudo havia começado. A mensagem estopim foi espalhada por telemóveis.

Juraria ainda ontem que ia ser mais uma dessas promessas de marchas e protestos que nunca chegavam de acontecer. Agora não consigo parar de rir com ironia ao lembrar de um trecho de uma dessas músicas do rapper Azagaia “se fosse o 25 de Junho, nem ias à Machava”. O novo 25 de Junho havia acontecido e eu não participei do processo.

Tudo começou no início da noite quando foram descobertos 7 carros contendo boletins de voto. Ninguém sabe ao certo a que partido político os boletins favoreciam. No entanto, quando os primeiros resultados eleitorais foram anunciados indicando uma onda vermelha em mais um ano eleitoral, parece que as pessoas perderam sono e não quiseram dormir. 

As mensagens começaram a ser partilhadas nessa altura. Dizia a mensagem do texto: “Povo no poder! Mandemos todos eles correr. Que venha connosco o corajoso que puder. Do Norte. Do Centro. Do Sul. De Todo Moçambique para todas praças e gabinetes.” De repente. A mensagem já estava no Whatsapp, Twitter e Facebook.

Enquanto eu me distraía na TV vendo diversão escapista Hollywodiana ignorando as mensagens de texto, o estopim havia sido ateado. As pessoas inundaram praças, entraram nas assembleias provinciais, invadiram esquadras e quartéis e, para a surpresa geral, os soldados e polícias reagiram como se fossem os mesmos da Rússia em 1917. Não houve gás lacrimogénio, alguns membros da FIR protestantes foram neutralizados.

À meia-noite parece que metade do governo havia fugido para o estrangeiro. Foi aí que último bastião foi tomado: a capital. Tal como na luta de libertação, a capital era o destino final da revolta. Marchantes de Manhiça, Marracuene, Matola, Magoanine, Maxaquene e até Sommerschield saíram de casa e foram a marcha. E tomaram tudo.

Nossos políticos na valem nada e porque não sabem se comemos antes de dormir, não devem falar por nós. Ontem todo moçambicano subitamente reconhecia isso e fizeram uma revolução. Aliás, todos menos eu, pois a meia-noite eu já dormia.
 Lino A. Guirrungo
(Julho, 2018)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Literatura: D’A Curva do Rio. Partir. para Hinyambaan


D’A Curva do Rio. Partir. para Hinyambaan


Três narrativas sobre existências africanas. A primeira pertence ao escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho e se intitula Hinyambaan. Trata-se duma breve novela burlesca, em que se define o conceito de imprevisibilidade. A vida é o conjunto de acontecimentos imprevisíveis – é o que se pode dizer no desfecho na narrativa em questão.
A diegese, que se debruça sobre a viagem de uma família bóer-sul-africana com destino à província moçambicana de Inhambane, apresenta-se como uma paródia da nossa existência. No entanto, a mesma pode ser tomada como uma espécie de interpretação das concepções que outrem tem sobre Moçambique e a sua condição linguístico-cultural, mas também sobre a ineficiência das autoridades para servir o utente. Hinyambaan, escrito a grau zero como A Água. Uma Novela Rural, da autoria do mesmo escritor, faz-nos conhecer a família Odendaal que se debate com empecilhos para chegar ao seu destino turístico.
Em parte, os obstáculos são colocados pelas próprias autoridades de trânsito e, por outra, os acontecimentos ao longo do percurso é que os tornam possíveis, dado que as vias de acesso não são favoráveis. Há quem diria, entretanto, que esses obstáculos não teriam existido se não tivesse surgido um personagem denominado Djika-Djika, que ajuda os Odendaal com as coordenadas geográficas de Inhambane.
Mas não só os ajuda, assim como os desvia do destino fazendo com que se atrasem e desfaçam os planos anteriormente traçados. É ao longo desse desvio que essa família sul-africana trocará impressões com a cultura, a língua e os habitantes duma alargada família e, daí, surge a imprevisibilidade porque estes, os Odendaal, não faziam ideia de que, ao longo da viagem, se acomodariam no meio duma mata, nutrindo-se de comida e bebida fabricas por aquela população tradicional-rural. Para esses bóeres, que vêm duma grande cidade moderna Sul-africana, aquele cenário rural era uma perdição, da qual se queriam ver livres. É no contexto desta hélice que o leitor se embriaga na novela Hinyambaan de Borges Coelho.
Tahar Bem Jelloun escritor africano de origem marroquina, radicado em Paris, que a qualquer momento pode ser condecorado com o Prémio Nobel de Literatura, apresenta-nos outras existências africanas na região do Magrebe. Jelloun é autor de diversas obras, tais como: o Último Amigo e a memorável Noite Sagrada, que lhe tornou vencedor do Prémio Goncourt de 1987. No entanto, sobre esta nossa viagem sobre existências africanas, a obra em questão intitula-se Partir – romance de quase 300 páginas, que coloca em análise um dos grandes assuntos dos nossos dias, principalmente nesta administração de Trump, a imigração. Sem oportunidades de empregos nem para os recém-formados nem para a metade da população marroquina - jovens, crianças e idosos querem partir, abandonar o Marrocos.
Ainda existirá uma nação se todo mundo partir? O protagonista, Azel, não está preocupado em responder essa questão, apenas quer, de qualquer maneira, atravessar o Mar Mediterrâneo e estrangeirar-se na Espanha, assim como boa parte da sua juventude. E para atingir esse objectivo, Azel, mulherengo e inteligentemente formado em Direito, acionará todos mecanismos ao seu alcance, mesmo se for para se relacionar com Miguel, um rico espanhol apaixonado por ele.
Mas o preço dessa ambição será a perda da virilidade. Jelloun, através dos seus personagens, chega a mostrar que muitos magrebinos nem se consideram africanos, mas sim uma parte da Europa. Todavia, por ironia, os europeus trancam as fronteiras e acionam cães e cabos elétricos, afirmando que não querem ser incomodados por africanos muçulmanos responsáveis pelo terrorismo e mendicidade no seu território. É nesta ordem de ideias que o escritor marroquino dá-nos a conhecer uma existência africana.
Um outro escritor, Prémio Nobel de Literatura 2001, recorre à Historia para narrar a vida de pessoas africanas perturbadas pela subjugação europeia, quando desenvolviam uma série de atividades comerciais com os árabes. Chama-se V.S. Naupaul caribenho de Trindade, radicado em Londres, e a sua obra é intitulada A Curva do Rio, com 337 páginas.
Nesta obra, Naupaul narra a existência de um país africano, que após a proclamação da independência e uma guerra civil, dispõe de um novo presidente. Um presidente que mete medo e nojo aos cidadãos - uma mão autoritária, na verdade. Em termos comparados, esse presidente ditador que se instalara naquele país africano, que não chega a ser referenciado, não se diferencia do Big Brother do 1984, escrito por George Orwell.
Pela imagem, o cenário dramático que se apresenta se assemelha a vários países africanos, em que os governantes mostram-se intolerantes e opressores para com os seus povos. A questão relativa às guerras civis que Naupaul explora, lembra-nos o filme Beasts of No Nation, baseado na obra com o mesmo título, da autoria de Uzodinma Iweala, em que não se sabe se o herói é o governo ou os rebeldes liderados por Commmandant, interpretado por Idris Elba. No final de A Curva do Rio é possível vislumbrar países africanos e as suas patologias – guerra, corrupção, autoritarismo e analfabetismo.

                                                                                                                            Autor: Albert Massango

                                                                 

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Opinião:Maldito Boletim!



Maldito Boletim!


Meia noite  é  , exactamente,  a  hora que os ponteiros  do meu relόgio  marcam. Estou aqui,  como sempre, escutando  minhas “estranhices”. Até chega  a  ser  divertido  ser  estranha,  pois  todo  mundo  quer  ser  considerado  normal, então,  porquê ser  normal?

Prefiro ser  estranha mesmo,  por  preguiça, dá uma trabalheira  enorme ter  de convencer  a  sociedade que sigo  as  regras  para  ser  politicamente aceite.  Mas  o  que  seria  ser  normal? Bem, na verdade, nem pretendo falar disso, pouco me importa mesmo, talvez  numa  outra  altura, se  disse  lembrar . Vamos ao  que  interessa!

Encontro-me deitada  de barriga, lendo o autor de  que  tanto gosto  e do qual  não me dispo: Auster.  Tenho como  harmonia  perfeita  para  acompanhar  a  minha  leitura   a  tão dócil voz  de  Birdy,  cantora, compositora   britânica,  interpretando o seu  primeiro  álbum,  cujo título é o seu próprio nome.

Continuo viajando a convite de Auster na sua obra: “ O  Homem  na  Escuridão”,   um dos  seus  memoráveis trabalhos,  até   que,  repentinamente,  pauso. Fecho o  livro e  o  atiro-me   à cama,  pois o  sono  começara a  apoquentar-me.

Mas, antes de  me  deitar ponho-me  sentada  em  frente  ao computador e com o  objectivo  de fazer nada,  senão um  comportamento estranho  repetitivo  que tenho e calho com  um  boletim científico que levara, há semanas,  num  amigo com o  objectivo de,  nas  horas  vagas,  lê-lo.

Por uns 20 ou 25   minutos, não me lembro  precisamente  e  não preciso:   Prendi a  atenção na  leitura  do mesmo e pus-me  a conversar  sozinha  com  o  meu intelecto  sobre  o  que  se  discutia  no  mesmo. O   boletim  defendia a  despenalização  do  aborto  por  Ergimino Mucale.

Antes que eu  me  esqueça,  eu  “era”  contra a  posição  de  Mucale  porque  do   meu  ponto  de vista fazer  aborto  é um  crime  e  tal.Novamente, o sono voltou a  atormentar-me  e,   dessa  vez,  não resisti e  me  rendi saindo  do  computador  e com  o  frio  a  tocar  no  meu  corpo sem excepções ,  uma vez  que  vesti  uma  roupa  leve  para  dormir.  

Atirei-me  à  cama  e enrolei-me  como  uma  cobra  no  meu  cobertor  e,  sem  mais  nem  menos,  apaguei,  sim,  caí  no  sono. Entrei  para o  mundo  do  além,  sim,   falo  dos  sonhos.  Lá estava  eu  e,  desta  vez,  foi-me  tão  nítido  que  decidi  contar  o  que  me  acontecera nos   sonhos: É  assim, repentinamente,  eu  me  encontrava  grávida   junto  da minha  amiga Laurinda  e  lá  estávamos nós  desesperadas,  pois  não  estava  dentro dos  planos  de  nenhuma  de  nós  engravidar  sem  terminarmos  a  nossa  licenciatura  e,  o  facto  mais  incrível  é que  nenhuma  de  nós  tinha  o  conhecimento dos pais  destas crianças que carregávamos.

Obviamente, estávamos fustradas e sem  saber  o que  fazer  e  a  quem  recorrer,  pois  nas  nossas  famílias essa  notícia  não seria  de  bom  agrado  e,  principalmente, para  o  meu  pai que apostou tudo  em  mim  e  na  minha  formação.

Nunca  se  pode  recordar tudo  que  acontece num   sonho,  mas  o  que me  marcou e  não ficou  nos sonhos  é  que  eu  me  encontrava,  junto  da  minha  amiga,  na  fila  de  um  hospital pronta  para  fazer  um  aborto.

Chegou  a  minha  vez  na  fila    e  a  drª Joana,  uma  médica-chefe e amiga  da  minha  mãe  desde  a  época das  suas  gravidezes,  estava  ali  pronta  para  fazer  o  aborto,  mas,  exactamente,  na  hora  em  que  ela  ia  começar  com  os  procedimentos  senti  o  meu  ventre  a  doer  e,   afinal  de  contas,  era   a  minha  bexiga  já a  reclamar  e  logo  despertei correndo para  casa  de  banho  aliviar  a  minha  bexiga.  

Ainda continuava  desnorteada e  quase  chorava,  mas  depois  apalpei  a  minha  barriga  e  percebi  que  aquilo  fora  um  pesadelo.  Pocha!  Nunca  mais  leio  coisas dessas  antes  de  dormir - disse   eu  respirando  de  alívio.


Mas agora surge a questão:  afinal,  qual  é  a  minha  real posição sobre o  aborto? Pois   estive a    ponto  de  fazê-lo  no  desespero  de  um  sonho.       

Fim 

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO Créditos : AS por:Lino A. Guirrungo (Jan, 2019) Eu nasci pouco depois que...