quinta-feira, 23 de junho de 2016

Opinião/Sociedade:O Fim do Amor Romântico (II)



                                               
                                               O Fim do Amor Romântico (II) 



A crise 

Por: Estevão Azarias Chavisso 

É unânime a ideia de que a época em que vivemos mudou, por completo, o paradigma das nossas relações afetivas. Da Asia até à Europa e da América até à África, certamente, corroboramos todos com a nova visão que compreende o mundo como uma “grande aldeia global”, um espaço que, fazendo uso do poder da era digital e das anuências da globalização, cria plataformas de debate dinâmicas e de difícil controlo.



Instantaneamente, a informação está em todo lado e, de certo modo, aberta ao questionamento, num debate aparentemente livre e que desafia as formas convencionais da comunicação.

Os homocíclicos, evidentemente, sofrem influências destas mudanças e, num processo que atravessa fronteiras, é questionada a sua capacidade de responder às exigências dos novos ventos. 

Mais do que o direito à opinião, as pessoas são hoje incumbidas o dever de assumir uma posição ativa nas suas próprias vidas, debatendo os seus problemas e questionando as suas formas de organização social.

O amor, tema controverso e que atravessa épocas na história da humanidade, também é obrigado a reinventar-se diante de uma mundo dinâmico e que, à luz dos novos ventos, questiona a fundamentação de qualquer conceito que o homem pressupôs entender. 

As nossas relações afetivas são espicaçadas e, sob espetro de um profundo questionamento, desfazem-se aos pés do homem desesperado dos nossos tempos, revelando a debilidade de um protótipo que fracassou perante o mais enigmático mistério de sempre, o tempo.

É o que Geanni Vattimo chamou de Época do Pensamento Débil. É um período caracterizado pela superação contínua. Em outros termos, é o movimento desenfreado que questiona continuamente os fundamentos de tudo, procurando ultrapassar o que foi comumente assumido como verdade. Como diria Nietzsche, é a Radicalização - uma imposição que tem por consequência o Niilismo. 

Ora, se o amor romântico fracassou, como afirmara, a crise é iminente. Mais do que uma crise de valores, como normalmente é declarado, trata-se de uma crise de referências, na medida em que descobrimos que a verdade que pensamos conhecer é uma fantasia.

Os alicerces que, por séculos, fundaram as nossas relações afetivas mostram-se débeis perante o novo mundo, justificando, em muitos casos, as cíclicas desilusões nas nossas relações afetivas. 

Confrontados com o novo paradigma, a aflição toma conta de nós e, sem qualquer recensão, abraçamos primeira ideia que nos parece minimamente plausível. Amamos o primeiro que nos parece próximo das nossas idealizações, sem um posicionamento crítico e sem, pelo menos, questionar o que realmente é o amor. 

É uma crise à escala mundial, resultante do medo que hoje temos de encarrar a realidade cruel do absurdo existencial. Mesmo no meio de tantas pessoas, enquanto os fundamentos das relações afetivas continuarem débeis, o homem sentir-se-á solitário e, como ontem, a invenção de subterfúgios será incapaz de eliminar o nosso mais temido inimigo, a solidão. 

Ontem inventamos Deus e hoje, pelos mesmos motivos, criamos o Facebook, o Twitter e o whatsapp. Na verdade, é tudo um grito de um homem desesperado, um clamor de quem, a todo custo, quer fugir da solidão e, para tal, não vê limites, tanto que até fantasia intimidade do modo mais desprezível possível.  

É tudo uma tentativa deprimente de estabelecer uma lógica à existência e fugir da miserável solidão que nos acompanha no cotidiano, mesmo no meio da multidão. Trata-se, na realidade, de mais um débil subterfugio, criado por nós mesmos (usando uma linguagem bíblica) à imagem e à semelhança de tudo o que nós queríamos ser, mas não somos.

Somos cobardes de mais para aceitar a verdade e, como no Mito da Carverna, de Platão, as sombras parecem-nos mais familiares do que as imagens verdadeiras, na medida em que, por muito tempo, a escuridão foi o nosso mundo.  

Assim sendo, reinventar o amor não será tarefa fácil. Pelo contrário, exigirá, antes de tudo, a coragem para aceitar a nossa medíocre condição, rompendo com toda uma tradição idealista que fundou a nossa educação.

É preciso desdramatizar uma ideia que, durante séculos, orientou as nossas vidas. Em outros termos, somos chamados a desconstruir o castelo de areia que decorou os sonhos da nossa humilde infância.

O amor fracassou e, à luz dos novos tempos, reitero, somos intimados a reinventar os fundamentos das nossas relações afetivas.

Escrito à luz do novo Acordo Ortográfico

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Opinião/ Educação: A MORTE DAS ILUSÕES

                   A MORTE DAS ILUSÕES

Por :Lino A. Guirrungo*



No mês de Maio de 2016, exactamente no dia das graduações de uma das universidades mais populares do país, eu recebi uma carta do meu melhor amigo. Ele ia graduar no mesmo dia, após quatro anos de uma extenuante licenciatura em Antropologia. Estranhei que ele me desse uma carta porque não é um hábito enraizado entre os moçambicanos partilhar cartas (ainda mais entre dois jovens!). 


Depois de ler a carta fiquei espantado com o que vi. Sabendo que uma carta é algo muito pessoal, pedi-o para partilhar o conteúdo com todos porque achei que, provavelmente, o meu amigo não é o único a passar pelo que descreveu. Felizmente, ele me autorizou a partilhar, entretanto, com a condição de eu não alterar a carta mas apenas dar um título a mesma. Se alguém se opuser ao título que dei à carta é livre de escolher o seu em função da sua própria interpretação. Eu preferi intitulá-la: “A Morte das Ilusões”.
A MORTE DAS ILUSÕES
“Querido amigo,
Há dois meses que venho pensando em te escrever. Sei que deves pensar que dois meses é demasiado tempo para uma carta como esta, mas deves entender que nunca escrevi uma carta antes. Escolhi escrever especialmente para ti porque acho que és, entre os meus amigos, o que mais é capaz de me entender, embora, em abono da verdade, quisesse gritar para todo mundo me ouvir.
Se eu tivesse que escolher o dia em que indubitavelmente fui feliz na vida, escolheria o dia em que tomei conhecimento da minha admissão. Eu sempre considerei a universidade o lugar em que se conquistavam sonhos e se consagravam os académicos e os indivíduos. Não acreditava que todos os estudantes universitários fossem (ou viessem a se tornar) verdadeiros cientistas mas, pelo menos, sempre os considerei pessoas bastante distintas.
Com o tempo, a universidade mostrou-se um espaço amalgamado de muitas contradições. Esquecendo os conhecidos males estruturais do país e das instituições universitárias, fiquei verdadeiramente surpreendido pela apatia colectiva que afecta não só aos estudantes mas também aos professores.
Conheci muitos estudantes completamente indiferentes aos seus cursos. No meu curso, por exemplo, num universo de quase cinquenta, apenas cinco estudantes queriam fazer a formação como sua primeira opção.
Muitos dos meus colegas queriam fazer os famosos cursos de Direito e/ou Administração Pública, mesmo sem saberem ao certo a razão da ambição desses cursos tão badalados. Era simplesmente indisfarçável o rosto triste dos meus colegas. No entanto, parece que isso é um mal colectivo da universidade.
Um dia eu estava na biblioteca central da universidade e vi uma bela estudante com “Os Maias”, de Eça de Queirós. Aproximei-me e disse-a que o livro era uma boa escolha. Ela olhou-me inicialmente com espanto e depois com muita pena respondeu-me: «Moço, eu sou estudante de Literatura mas não gosto de ler. Na verdade, estou a fazer um trabalho de uma disciplina e faço este curso porque não quero ficar em casa sem fazer nada». Embaraçado, afastei-me dela sem dizer uma palavra.
Ignorando o absurdo injustificável de ela ter mencionado ‘não gostar de ler’ mesmo fazendo Literatura, confesso que me encantei com a franqueza daquela estudante. Naquele dia, percebi a hipocrisia da instituição universitária, da minha e de outros estudantes universitários. Como somos capazes de exigir excelência académica quando as pessoas não estudam o que desejavam cursar? Como esperar que alguém crie sonhos futuros em torno de um curso que no presente representa a morte das suas ambições, esperanças e ilusões? Simplesmente é injusto!
A universidade apresentou-me um outro fenómeno ainda mais grave que a apatia dos estudantes. Excepções sejam feitas, mas aqueles que têm dinheiro e não estudam “compram” o conhecimento e os que não têm dinheiro e estudam “vendem” o conhecimento. A sofisticação do mercado de venda de trabalhos académicos é tal que chego a sentir vergonha pela minha ingenuidade de nunca ter desconfiado que tal prática era comum nas nossas instituições superiores de ensino. Meu amigo, eu não sei como isso acontece na cara de todos?!
Os professores não estão interessados em combater a prática (talvez porque provavelmente não lêem a maioria dos trabalhos) ou simplesmente, tal como os estudantes, estão apáticos e conformados com a situação. Sinceramente, esta prática faz-me pensar que o ensino no pós-laboral devia ser abolido porque a maioria dos “compradores” estudam nesse período. No entanto, estou consciente que tal acção seria inconveniente e arbitrária.
Falando em professores, tenho de te dizer que a minha maior desilusão com eles não é académica mas pessoal. Eu acho aceitável que um professor não seja o protótipo de intelectual de primeira (até porque acredito que seria pedir demais dos nossos professores!), mas não acho admissível que eles não inspirem os estudantes como um modelo de cidadão a ser seguido. Eu encontrei professores completamente conformados com a sociedade e a vida, não lidos e arrogantemente alheios a essa imagem que transmitiam aos estudantes. Não obstante, neste jogo de “esconde-esconde” e “joga a culpa ao outro”, ninguém ousa falar do comportamento nada inspirador dos professores.
Quatro anos foram-se e do jovem enérgico que fui restam cinzas. Sinceramente, eu não queria ir a esta graduação. A graduação representa, além de muito, o fim de um ciclo preparatório. A universidade de quase nada me preparou para esta minha nova fase da vida. A coisa que a universidade fez certamente foi destruir a maioria das minhas fantasias. Ao mesmo tempo, actualmente as exigências são enormes. O desemprego é uma prova viva desta miséria preparatória. A minha mãe é muito compreensiva, tu bem conheces a dona Lurdes, mas até quando ela continuará a ser? Os meus irmãos e a minha namorada aguardam pelo tal futuro, que eu próprio acreditei nele, há quatro anos, mas não sei se conseguirei atingi-lo.
Estou preocupado, meu amigo.
Carinhosamente,
Teu amigo, Milton Ivaca.
(27 de Maio de 2016) ”
 * (Licenciado em História pela Universidade Eduardo Mondlane [UEM])

quinta-feira, 9 de junho de 2016

George Benson está vivo!



  George Benson está vivo / Mr. unforgettable/ Um virtuoso em Maputo

Por:  Hilário Taimo


Em 1952, Nat King Cole cantou “Unforgettable. That's what you are, Unforgettable. Like a song of love that clings to me.” Meio século depois, George Benson (GB) faz uma homenagem a Nat King Cole e, logicamente, incluiu esta música. E Maputo vai, certamente, todos os dias cantar, em homenagem ao GB, “Unforgettable. That's what you are”, pois é o que GB é para todos os que estiveram naquela tenda abarrotada da Universidade Eduardo Mondlane, na capital moçambicana. 



Eram 19 horas e duas enormes filas, fora da tenda, já demonstravam a ansiedade que os amantes de jazz tinham em assistir ao concerto do Mestre Benson.

Tenda abarrotada, gente em pé é a descrição que se faz de uma noite “unforgettable”.
Após a actuação do Seth Swazi e Majescoral, que não tive a oportunidade de assistir, George Benson entra no palco e dá um show inesquecível. Aliás, isso é o mínimo que se podia esperar do GB.

Maputo não podia esperar outra coisa de um virtuoso do nível do GB. Com temas como “Breezin”- uma música que tenho uma preferência de escuta-la, num trabalho entre GB e Al Jarreau, um velho que Maputo precisa ver, - “Affirmation", “Living in high deffinition” George Benson deixa a sua marca em Maputo.

Mas foi com “Monlight”, “The greatest love of all”, inicialmente cantada por GB, mas depois “popularizada” pela “Whitney Houston” e “Give Me The Night” que Maputo entrou em transe.
Do álbum “Inspiration: A Tribute to Nat King Cole” GB cantou “Nature boy”, numa versão smooth, bem diferente a do álbum, deixando a nu a sua criatividade. Isto faz-me pensar que nas suas apresentações a este álbum GB, para surpresa dos fãs, provavelmente, apresente todo álbum, ou parte dele, em versões smooth.

O pianista e a percussionista do GB, a meu ver, foram fantásticos. O espectáculo foi o que, em conferência de imprensa, GB prometeu “uma noite fantástica”.

E as 22 horas o show acabou. Fecharam-se as cortinas, mas Maputo ainda canta “Unforgettable. That's what you are, Unforgettable. Like a song of love that clings to me.” esperando que mais “caducos”, que não são desejados nos seus países, venham cá cantar e tocar para malta. Caducos como GB, Al Jarreau, Bob Mc Ferrin… George Benson está vivo.

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

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