terça-feira, 12 de julho de 2016

Música/ Notícia (Lusa): Rockfellers prepara regresso aos palcos

 

foto:Arquivo

Emblemática banda moçambicana Rockfellers prepara regresso nove anos depois

Estêvão Azarias Chavisso, da agência Lusa 

Maputo, 26 jun (Lusa) – Os Rockfellers, emblemática banda que dominou o rock moçambicano nos finais da década de 1990, preparam-se para pôr fim a nove anos de pausa e Maputo foi o palco escolhido para o regresso dos autores da “Vida de Cão”.

“Trata-se, na verdade, de um regresso às origens”, disse, em entrevista à Lusa, Xavier Machiana, vocalista e guitarrista da banda, acrescentando que, na nova temporada, valorizar elementos locais na criação musical é a palavra de ordem.

Considerada, por muitos, a principal banda de rock em Moçambique, mais do que um grupo de cinco jovens “apaixonados pela música”, os Rockfellers foram um símbolo para a dinâmica juventude da década de 1990, com temáticas que refletiam os desejos e as frustrações da época.

Com temas que aludiam à revolta contra o tédio gerado pela falta de perspetivas dos jovens, as letras da banda, que abarrotou, por várias vezes, o Centro Cultural Franco-Moçambicano, conquistaram o público moçambicano rapidamente, num tempo em que a musicalmente conservadora Maputo estranhava o rock, visto como “coisa do ocidente” e ligada às drogas.

“A nossa missão sempre foi usar a música para mudar as pessoas”, declara Xavier Machiana, observando que os preconceitos que o grupo enfrentou, devido à visão errada que as pessoas tinham do rock não foram fortes o suficiente para apagar “a paixão pela música”.

O desaparecimento da banda em 2008 significou o ocaso de um grupo que “só funciona na presença de todos” e que, por motivos profissionais, obrigou os membros a seguirem caminhos diferentes para dar seguimento às suas carreiras fora da música.

“Apesar de amarmos a música, nós eramos pais, estudantes e profissionais e tínhamos de seguir com as nossas vidas”, justifica o vocalista, admitindo, no entanto, que a vontade de voltar sempre dominou o seu coração.

Os 16 anos de carreira, entre estrada, poeira, guitarra, bateria e microfone resultaram em dois álbuns bem recebidos pela crítica, nomeadamente “Vida Dura”, de 1999, e “Tempo”, de 2000.

“Foi uma novidade para nós ver que a nossa música foi aceite e assumida como música local”, refere o vocalista, admitindo, no entanto, que a longa passagem por Lisboa teve muita influência no seu estilo musical.

Passados nove anos sem a banda, Xavier Machiana entende que pouco mudou no panorama musical moçambicano e o rock continua a ser um estilo ostracizado.

Para o vocalista, a tendência ortodoxa de afastar o rock do 'mainstream' musical obriga as bandas moçambicanas deste estilo a assumir a missão de desmistificar a falsa ideia que o associa às drogas e ao vandalismo.

“Isolar o rock e fazer dele uma ilha é uma ideia ignorante”, declarou o artista moçambicano, acrescentando que a música deve procurar ir ao encontro do contexto e dos anseios locais.

O vocalista diz que o grupo “está a afinar as cordas” e revela que os primeiros concertos estão agendados para setembro e novembro em Maputo, a cidade onde “tudo começou”.

Quanto a um novo álbum, Xavier Machiana prefere não avançar detalhes, mas garante que em 2017 o grupo voltará ao estúdio.

“Isto é o mesmo que reunir a família”, refere o artista, prometendo “muito rock” para os amantes do estilo e para os fãs incondicionais da banda, que “nunca vai morrer”.


EYAC // EL
Lusa/Fim

domingo, 10 de julho de 2016

Música / Opinião: Everything In Between, uma terapia musical para o bom ouvido de qualquer mente aberta




Everything In Between, uma terapia musical para o bom ouvido de qualquer mente aberta



A frontalidade foi sempre uma marca específica da cultura hip-hop. Mais do que qualquer outro género musical, o perfil artístico metópico é, sem dúvida, a mais peculiar das características desta arte, um elemento que torna o rap uma forma de expressão artística polémica e, talvez, incisiva. 

Mesmo com as metamorfoses que o género vem sofrendo, esta marca continua, eternizando, de certo modo, os tradicionais objetivos deste estilo musical nos mais respeitados álbuns da história. 

Lançado a 24 de junho de 2016, o álbum Everything In Between, do coletivo norte-americano Ugly Heroes, é uma prova concreta desta posição.

Em 14 faixas, os Ugly Heroes apresentam-nos um trabalho denso, mas, ao mesmo tempo, acessível, dentro de um esquema convencional do estilo clássico designado underground

O simpático esquema rimático de Red Pill associado à profundeza do conteúdo das letras de Verbal Kent fazem uma aliança perfeita com modelo clássico de produção de Apollo Brown, exibindo a autenticidade de um projeto rústico e promissor em tempos de “seca” no panorama ortodoxo do underground.

Desde o “Today Right Now” até ao “Fair Weather”, trata-se de uma terapia musical de abordagem holística com uma escrita de teor nostálgico, num misto onde dor e alegria desfilam na mesma arena.

Fortemente expressivo, em algum momento, o Everything In Between convida-nos a uma reflexão sobre a nossa condição existencial, questionando a nossa passividade face ao atual momento.    

A simplicidade na organização de cada música não elimina a qualidade do trabalho, pelo contrário, é desta característica que Red Pill, Verbal Kent e Apollo Brown distinguem-se no panorama underground dos becos de tão respeitada Detroit, com letras que retratam a bravura que existe por debaixo da humildade da juventude suburbana amante da cultura hip-hop

A sintonia e maturidade patentes no Everything In Between denunciam a cumplicidade de uma equipa que estava à espera de uma oportunidade há anos, um grupo que agora parece ter conseguido chamar a atenção da tão exigente crítica norte-americana.

O Everything In Between é uma sugestão para os bons amantes do “hip-hop de raiz” e, ao mesmo tempo, uma terapia para o ouvido de qualquer mente aberta que procura luz a partir da arte.

Boa escuta: thttps://www.youtube.com/watch?v=LAtewjFVgvkch?v=LAtewjFVgvk 


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Opinião: Desilusão





                           
                             Desilusão

 Por: Alberto Massango

Em Moçambique, país da África Austral, onde me encontro e resido, as coisas estão de pernas para o ar. O sistema político corrompido, as instituições de ensino não funcionam devidamente, alguns académicos são instrumentalizados, ou seja, estão a mercê do poder político. Os órgãos de comunicação social, na sua maioria, funcionam à favor do sistema, diabolizando os que opinam contra o regime, apelidando-os de “agentes da mão externa”.

Aliás, é em Moçambique, à semelhança de alguns países africanos, em que “analista de assuntos sociais”, que se pronunciam publicamente, são perseguidos e brutalmente assassinados.       

Apara além das situações acima citadas, temos, ainda mais, outros problemas, nomeadamente, as dívidas avultadas, contraídas à revelia da Assembleia da República, por um grupo de governantes munido de interesses próprios, bem como a crise político e militar entre o Governo e a Renamo, o maior partido da oposição no país, e a descoberta de valas comuns com corpos humanos sem vida.

Quando mais tento perceber o porquê destes problemas, fico conturbado e indignado, pois, há poucos anos, as expectativas sobre um Moçambique melhor eram enormes, na medida em que se tinha em conta os benefícios dos hidrocarbonetos, que ao longo do tempo, foram descobertos.

Com os tais hidrocarbonetos, esperava-se, e ainda se espera, que a vida dos cerca de 25 milhões de moçambicanos ganhasse novos rumos de melhoria, entretanto, ao longo dos dias, vai-se notando que estamos entregues a uma grave crise financeira, que coloca em causa as boas expectativas de todos moçambicanos.

Quando criança, os meus pais me falavam sobre a necessidade, bem como da importância de ir à escola, com o argumento de que só assim poderia obter um emprego melhor futuramente e, consequentemente, uma vida estável. Entretanto, mesmo sem acreditar muito nos argumento levantados pelos meus progenitores, devido a terrível realidade que me rodeia naquele meu bairro periférico, fui à escola e, nos dias de hoje, frequento a universidade.

E, na sequência disso, tenho-me questionado, o que encontrei na tal universidade, que se acredita ser o laboratório de conhecimento? E a resposta é simples, nada senão um grupo de colegas medrosos, passivos e obedientes, demais, aos professores.

Partindo do princípio de que a universidade é um centro de debate de ideias, juro que esperava, naquele circo, encontrar pessoas emancipadas dos seus enredos. Mas, infelizmente, são colegas medrosos, sem senso crítico, aliás, alguns nem conhecem as inclinações/objetivos do curso que frequentam. E, com isso, levam-me a argumentar que, em Moçambique, só se estuda por questões de sobrevivência, não para se obter conhecimento para o desenvolvimento do país e dos seus cidadãos.           

Os professores, por seu turno, alguns deles, metem-me nojo e repugnância, na medida em que nada fazem senão retardar, cada vez mais, o nosso sistema de educação, que por si só já está retardado e deteriorado, tal como o de justiça, que se tem mostrado incapaz de julgar os maiores ladrões e corruptos da pátria.

Os professores, assim como os seus estudantes, estão todos preocupados com as notas dos testes, como se nos conferissem algum grau de conhecimento. São os estudantes a culparem os professores pela má qualidade do ensino e aprendizagem e vice-versa. Todavia, a verdade é uma e única, isto está uma merda.             

Meus irmãos, estou num país em que quase tudo corre mal, são os altos índices de desemprego, desnutrição crónica, prevalência do HIV/SIDA, isso sem contar com os níveis de corrupção e criminalidade. Por um lado, todas minhas expectativas foram profundamente defraudadas, pois esperei por um ensino superior diferente do básico mas, pelo visto, o nosso sistema de educação é imutável, desde do básico ao superior. Por outro, deixei de acreditar no actal sistema político, já não confio nas instituições públicas, nem mesmo na divindade e nas suas instituições, a Igreja.

Ou simplesmente, a sociedade em que me encontro, juntamente com as suas instituições e pessoas, conseguiu sugar todas minhas expectativas. Fim de expectativas!     

Opinião: AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO

AS MENTIRAS DO NOSSO TEMPO E O CAMINHO PARA O FUTURO Créditos : AS por:Lino A. Guirrungo (Jan, 2019) Eu nasci pouco depois que...