sexta-feira, 1 de julho de 2016

Opinião: Desilusão





                           
                             Desilusão

 Por: Alberto Massango

Em Moçambique, país da África Austral, onde me encontro e resido, as coisas estão de pernas para o ar. O sistema político corrompido, as instituições de ensino não funcionam devidamente, alguns académicos são instrumentalizados, ou seja, estão a mercê do poder político. Os órgãos de comunicação social, na sua maioria, funcionam à favor do sistema, diabolizando os que opinam contra o regime, apelidando-os de “agentes da mão externa”.

Aliás, é em Moçambique, à semelhança de alguns países africanos, em que “analista de assuntos sociais”, que se pronunciam publicamente, são perseguidos e brutalmente assassinados.       

Apara além das situações acima citadas, temos, ainda mais, outros problemas, nomeadamente, as dívidas avultadas, contraídas à revelia da Assembleia da República, por um grupo de governantes munido de interesses próprios, bem como a crise político e militar entre o Governo e a Renamo, o maior partido da oposição no país, e a descoberta de valas comuns com corpos humanos sem vida.

Quando mais tento perceber o porquê destes problemas, fico conturbado e indignado, pois, há poucos anos, as expectativas sobre um Moçambique melhor eram enormes, na medida em que se tinha em conta os benefícios dos hidrocarbonetos, que ao longo do tempo, foram descobertos.

Com os tais hidrocarbonetos, esperava-se, e ainda se espera, que a vida dos cerca de 25 milhões de moçambicanos ganhasse novos rumos de melhoria, entretanto, ao longo dos dias, vai-se notando que estamos entregues a uma grave crise financeira, que coloca em causa as boas expectativas de todos moçambicanos.

Quando criança, os meus pais me falavam sobre a necessidade, bem como da importância de ir à escola, com o argumento de que só assim poderia obter um emprego melhor futuramente e, consequentemente, uma vida estável. Entretanto, mesmo sem acreditar muito nos argumento levantados pelos meus progenitores, devido a terrível realidade que me rodeia naquele meu bairro periférico, fui à escola e, nos dias de hoje, frequento a universidade.

E, na sequência disso, tenho-me questionado, o que encontrei na tal universidade, que se acredita ser o laboratório de conhecimento? E a resposta é simples, nada senão um grupo de colegas medrosos, passivos e obedientes, demais, aos professores.

Partindo do princípio de que a universidade é um centro de debate de ideias, juro que esperava, naquele circo, encontrar pessoas emancipadas dos seus enredos. Mas, infelizmente, são colegas medrosos, sem senso crítico, aliás, alguns nem conhecem as inclinações/objetivos do curso que frequentam. E, com isso, levam-me a argumentar que, em Moçambique, só se estuda por questões de sobrevivência, não para se obter conhecimento para o desenvolvimento do país e dos seus cidadãos.           

Os professores, por seu turno, alguns deles, metem-me nojo e repugnância, na medida em que nada fazem senão retardar, cada vez mais, o nosso sistema de educação, que por si só já está retardado e deteriorado, tal como o de justiça, que se tem mostrado incapaz de julgar os maiores ladrões e corruptos da pátria.

Os professores, assim como os seus estudantes, estão todos preocupados com as notas dos testes, como se nos conferissem algum grau de conhecimento. São os estudantes a culparem os professores pela má qualidade do ensino e aprendizagem e vice-versa. Todavia, a verdade é uma e única, isto está uma merda.             

Meus irmãos, estou num país em que quase tudo corre mal, são os altos índices de desemprego, desnutrição crónica, prevalência do HIV/SIDA, isso sem contar com os níveis de corrupção e criminalidade. Por um lado, todas minhas expectativas foram profundamente defraudadas, pois esperei por um ensino superior diferente do básico mas, pelo visto, o nosso sistema de educação é imutável, desde do básico ao superior. Por outro, deixei de acreditar no actal sistema político, já não confio nas instituições públicas, nem mesmo na divindade e nas suas instituições, a Igreja.

Ou simplesmente, a sociedade em que me encontro, juntamente com as suas instituições e pessoas, conseguiu sugar todas minhas expectativas. Fim de expectativas!     

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