domingo, 18 de agosto de 2013

Cultura:Uma Associação Estancada no Tempo




   Foto: Cau Fontes





Secretária da Associação Moçambicana de Fotografia, Manuela Balate, denúncia negligência administrativa no seio da agremiação.



Fundada a 21 de Fevereiro de 1981 pelo primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, Associação Moçambicana de Fotografia é uma coligação de fotógrafos nacionais com objectivo de promover e valorizar a artes plásticas e fotográficas em Moçambique. A mesma é, actualmente, composta por 150 sócios – fotógrafos, sendo presidente o fotógrafo João Costa. A associação  encontra-se situada na Av. Júlios Nherere prédio 612 rés-do-chão. 

Esta galeria fora, outrora, a catedral do fotojornalismo moçambicano, chegando a expor obras de personalidades desta arena. Caso nítido de Ricardo Rangel, Kok Nan, José Cabral, Sérgio Santimane, Naita Ussene, Joel Chisiane, entre outros.
      
Entretanto, a mesma encontrase actualmente num estado deplorável, esquecida e mal conservada, segundo afirma Manuela Balate, secretária da galeria há 4 anos. A AMF sobrevive do pouco subsídio extraído do aluguer da própria galeria. Manuela Balate sentese abandonada e sem condições mínimas de trabalho. 

secretária aceitou conceder ao grupo do F.I uma entrevista em que, durante algumas horas, falou abertamente dos problemas que A.M.F  enfrenta. Veja a entrevista em discurso directo. 

                                                                                                      

                                                                                                       Foto: Cau Fontes
 
Fórum Ímpar: Manuela, qual é estado da Associação Moçambicana de Fotografia?

Manuela Balate: O estado da Associação Moçambicana De Fotografia é mau, de associação resta-nos o nome pois ele já não tem aquela união de outrora. Dos mais de 100 fotógrafos que compõem a A.M.F apenas o secretário-geral faz-se, de vez enquanto, à galeria. Os outros já não dão as caras, talvez porque a tecnologia, que anda muito avançada, contribui. Hoje cada um tem seu material em casa, é só uma questão da pessoa ir á rua, fazer as fotos e edita-las em casa. 

Porém, isto acaba destruindo o próprio sentido que uma associação deve ter. Entre os fotógrafos internos não acontece nada, aliás, para além da falta de união, é notável muita intriga entre eles. Pois quando há exposições colectivas o responsável pela A.M.F (João Costa) tende a chamar os fotógrafos mais próximos, o que aborrece os outros fotógrafos.

A associação enfrenta muitas dificuldades actualmente, como podem ver, as paredes degradadas dão péssimo aspecto ao recinto. Dos quatro computadores que temos apenas funciona um, que até semana passada não funcionava, eu é que tive de repara-lo com fundos próprios. A iluminação, como podem notar, é precária. Ela, que foi por mim improvisada, não é própria de uma Galeria. E sempre que singulares vêm alugar a galeria para uma exposição, reclamam pela iluminação e eu fico sem muito a dizer.


Primeiro, porque não sou eu quem responde pela galeria, a única coisa pela qual sou responsável, quando a pessoa quer alugar o espaço, é de fazer a cotação e a factura. Sendo assim, a pessoa traz o cheque e eu vou depositar o dinheiro na conta. Não tenho legitimidade para ir assinar um cheque para obtenção de novas lâmpadas.

Contudo, a associação conhece muito bem todas dificuldades por nós enfrentadas, mas mantém-se indiferente. E a pergunta sem resposta é a seguinte: para quê serve o dinheiro que está na conta desta associação? As próprias paredes desgastadas revelam negligência por parte da administração, não que não haja dinheiro para uma nova pintura, simplesmente ninguém mais se importa com isto. 



Foto: Cau Fontes
 

 F.I: Tendo em conta que a própria galeria sofre este tipo de problemas, quais as condições de trabalho que a Manuela encontra?

 Manuela Balate: São várias as atrocidades que sofro, por exemplo, eu trabalho sem contracto. São 4 anos servindo a A.M.F sem contracto algum. E eu mantenho-me calada, porém, não falta-me vontade de apresentar esta questão ao Ministério do Trabalho.Por vezes trabalho encima da hora, e sem horas extras. Não há aqui subsídios de nada, recebo apenas o valor estipulado e nem se quer tenho direito ao décimo terceiro salário. São alguns pontos que me fazem “detestar” trabalhar na A.M.F.



Foto: Cau Fontes
 

  F.I: Tendo em conta todas estas atrocidades, o que é que prende a Manuela a A.M.F?    
 
Manuela Balate: A falta de opção, não posso abandonar o trabalho e ficar em casa desempregada. E no fundo existe ainda aquela esperança de um dia as coisas mudarem a nível da associação, melhorarem e ganhar-se a consciência e o respeito pelas pessoas.   

F.I: A falta de união que a associação enfrenta não acaba atrapalhando o desenvolvimento de projectos ou dos planos pela associação desenhados? Aliás, existe algum planeamento?  

Manuela Balate: Do momento não, mais cá entre nós, eu estou aqui a 4 anos e não me lembro de ter presenciado uma reunião entre eles. Não há aqui discussões sobre assuntos inerentes a própria galeria. Eu, em particular, gostaria imenso que houvesse mais empenho e entrega por parte dos fotógrafos que fazem parte da associação. Esta galeria é muito bonita para ser desvalorizada deste jeito, existem tantas pessoas que querem alugar este recinto para fazer bancos, lojas etc. Mas, por pertencer a associação não se pode fazer isso, então, não faz sentido mantermos uma galeria desta forma.

F.I: Qual é período laboral desta galeria?
Manuela Balate: Esta galeria esta aberta de segunda a sexta das 8 as 17h, isto quando não há exposição. Porém, quando há exposição da associação, sendo eu a única pessoa que fica aqui, ela esta aberta das 10 as 19h.


F.I: Na ausência da Manuela a galeria fecha?
Manuela Balate: Quando me quero ausentar, aviso o secretário, porém, ele está disponível somente de manhã. Logo, se eu tiver de sair de tarde a galeria estará fechada.  

F.I: Quanto a questões de segurança das obras de arte?
Manuela Balate: Bem, temos 3 guardas que fazem a segurança do recinto. Também porque desde a sua criação a associação nunca registou nenhum tipo de assalto a esta galeria. Os moçambicanos parecem não dar muito valor a esta arte, muitos até nem se quer conhecem a localização da própria A.M.F.    

 
   Foto: Cau Fontes


F.I: Partindo do pressuposto que para manter uma associação são necessários custos, de onde vem o valor que mantém a A.M.F?

Manuela Balate: É obrigatório que cada membro da associação participe com uma cota mensal, por sua vez, este mesmo valor seria usado para manter a associação. Porém, dos 150 sócios da A.M.F apenas 5 tem as suas cotas em dia, os restantes não mais contribuem. Se dependesse apenas dos sócios já teria falido. Então, a A.M.F sobrevive do aluguer da galeria. Tudo que é cá feito é custeado por este valor, o pagamento dos salários, a luz e a manutenção – que nem é lá grande coisa. 

Sem o aluguer a mesma já teria fechado suas portas. Não temos nenhum doador, Não há financiamento algum. Antigamente a FUNDAC ajudava-nos com um montante de 100 mil meticais que no final do ano este valor tinha de ser justificado. O tempo passou e a mesma teve de passar a dar-nos 50 mil, porém, ano passado a mesma acabou parando – e não se sabe porquê. 

F.I: Das poucas vezes que visitamos a galeria percebemos que a mesma andava fraca em termo de adesão – no que concerne ao público. O que está a falhar?   

Manuela Balate: O problema da pouca adesão está na publicidade. Quando a exposição é da A.M.F, sem sombra de dúvidas, o que compromete a própria exposição é a pouca publicidade. As pessoas só descobrem por acaso que há uma nova exposição quando passam de frente a galeria, não se faz aquela promoção da exposição como deve ser. Diferentemente de quando é uma exposição de alguém de fora que simplesmente aluga a galeria, estas pessoas publicitam muito mais. Consequentemente, tem maior aderência.

F.I: A Manuela esta aqui a 4 anos, No âmbito geral, em que áreas notaram-se progressões de lá para cá?

Manuela Balate: Desde que cá estou a A.M.F nunca mudou nada. Segundo eles – os administradores – de dois em dois anos deve ser eleito um novo presidente e um novo secretário. Contudo, eu estou aqui a 4 anos, porém, eles ainda são os mesmos. E a as mesmas pessoas – desculpa dizer – são cabeças quadradas, ou seja, não têm visão alguma. Por exemplo, nos anos anteriores – falo-vos de 5, 6 anos atrás – tínhamos Workshops e exposições com o intuito de promover não só a A.M.F mais também a própria galeria. Actualmente, existem até exposições, entretanto perdeu-se o sentido da união. Então, isso também depende da pessoa que está no comando. Na verdade, este espaço só está aberta porque ele pertence, de facto, a A.M.F, porque se fosse alugado tenho certeza que já estaria fechado.

                                                                                               
                                                                                           Autor (a):
                                                                      Equipa de Redacção do Fórum Ímpar
                                                                                          Artur Linda Júnior  
                                                                                          Dércia Ndjindje
                                                                                    Estêvão Azarias Chavisso
                                                                                                                            
                                                                                                     
                                                                                                    





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