domingo, 26 de maio de 2013

Opinião


Moçambique nas Trevas da Escolástica, Enquanto o Mundo já Vive o Renascimento   


                                                                                               Autor: Estêvão Azarias Chavisso
                                                                                                Estevaohamurabi@gmail.com  


Estava eu e alguns colegas na biblioteca da Universidade Pedagógica de Moçambique (UP). Como de hábito, no final das aulas da Escola de Jornalismo, o grupo dirige-se a uma das bibliotecas mais próximas – visto que a biblioteca da escola é uma das mais pobres a nível regional. O objectivo destas visitas às bibliotecas não está centrado apenas na resolução de trabalhos dados a nível interno – trabalhos que só servem para atrasar a evolução do estudante, pois o estudante quer aprender a escrever, o que é primordial para se ser um bom jornalista, e não perder tempo com trabalhos sobre o feudalismo na idade média ou périplos da antiguidade – mas reside na tentativa de percorrer os diversos labirintos que a ciência nos proporciona. De salientar que a própria biblioteca da Universidade Pedagógica deixa muita a desejar, é inconcebível que uma biblioteca universitária não tenha a Constituição da República. Mas este não é o foco do artigo.  

Da filosofia, acompanhados por Giovan Real e Nicola Abbagnano, à historia, com Jean Carpentier e Francois Lebrun e não só, também abordávamos a literatura moçambicana e muito mais na biblioteca da UP. Numa análise prévia, percebemos o quão atrasado estávamos, e o quão, o nosso sistema de ensino estava a contribuir para nosso atraso. Os melhores pensadores aparecem em épocas e contextos diferentes mas o que realmente marca a sua estadia, os imortalizando, é a contextualização dos seus pensamentos. Portanto, é importante que definamos a contextualização da qual tanto se faz referência neste artigo.

Deste modo, a contextualização seria a capacidade de adequar os pensamentos, as reflexões aos problemas vigentes numa determinada sociedade, numa dada época. Cada época tem os seus problemas, cada sociedade tem as suas preocupações. Sendo assim, cabe ao pensador, ao cientista social, com base no passado, formular ideias e reflexões com objectivo de responder aos problemas actuais.

As ciências sociais e humanas não podem de forma alguma tornar-se algo estático. Aliás, a ciência não é estática. É por isso que o cenário actual é catastrófico para qualquer mente atenta: as instituições de ensino superior e não só, estão a formar decoradores e não pensadores.

Analisando as áreas nas quais me estou a formar, que são, por um lado, a Filosofia e, por outro lado, o Jornalismo, noto um tremendo atentado à integridade das ciências sociais e humanas. Os currículos vigentes estão totalmente fora do contexto, não observando a evolução que o mundo regista. É inadmissível que uma escola de comunicação já com mais de 6 anos de existência não tenha uma sala de informática. Está-se a formar jornalistas, publicitários e homens das relações públicas desactualizados. Como consequência disso tem-se um jornalismo fora dos padrões internacionais, abominável, partidário, infantil e com direito a editoriais mal escritos. É como se o mundo estivesse em pleno renascimento, no borbulhar do clássico iluminismo, e nosso país continuasse na escolástica da idade média.

Por outro lado, tem-se o dilema da filosofia moçambicana. Está-se a formar filósofos do silêncio. É ridículo mas é o que está acontecer, está-se a formar filósofos habilitados em decorar teorias de Sócrates, Platão e Aristóteles. Esquece-se que estes grandes homens viveram numa época diferente, num contexto diferente. Não deve-se, por exemplo, abordar os problemas actuais da mesma forma que foram abordados na Grécia antiga. O que existe actualmente, são filósofos fascinados por Montesquieu, Hegel, Ludwig Feuerbach, Karl Marx, Emanuel Kant, Descartes, John Locke, Thomas Hobbes, Friedrich Nietzsche e outros, entretanto, simplesmente incapazes de discutir e resolver problemas actuais de Moçambique.

Os grandes nomes acima citados influenciaram revoluções, moldaram regimes; uns foram mortos, outros acabaram com problemas mentais; enfim, marcaram o mundo e inspiraram massas.
Fala-se tanto de filosofia africana, no entanto, faz-se muito pouco por ela. Contudo, ela não pode ser vista como uma tentativa de fazer face a filosofia ocidental, pelo contrário, ela deve ser o caminho lógico racional para resolução dos problemas actuais africanos.  

E enquanto o sistema de ensino continuar a formar decoradores e não pensadores continuar-se-á na idade das trevas. Enquanto uns vão mudando o mundo exigindo políticas governamentais sérias, influenciando revoluções e destruindo regimes, Moçambique continuará a brincar ao som do batuque e ao sabor da massaroca.      
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