quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Opinião/ Educação: A Família e a Escrita: Um dia Mudo





A Família e a Escrita: Um dia Mudo

             

                                Por:Tsemba O Archeiro* 

                             E-mail: tsembah@gmail.com


Como um pai pode incentivar seu filho a gostar de escrever, sobretudo, de escrever bem? Eis um quesito a que procuro responder com uma brincadeira entre o pai e o filho que chamo de “um dia mudo”. Porque “também se aprende, brincando”, proponho essa brincadeira aos pais engajados na melhor cultura e alfabetização dos seus   filhos.

Há diversas maneiras que possam ajudar no desenvolvimento da escrita do seu filho. A mais eficaz foi sempre o incentivo ao gosto pela leitura. Quem gosta de ler, melhor escreve e fala. E saber escrever, nos dias deste século marcado pela mídia, as redes sociais, a internet, o jornal, etc., é indiscutivelmente importante. Através da escrita do caro leitor, é possível a um homem assaz e culto suspeitar do seu nível intelectual ou académico, tal como fazia Sherlock Holmes com os seus clientes.

Uma escrita bem cuidada suscita-nos mais apreço pelo emissor. Quando horrível, causa-nos, obviamente, o desagrado da pessoa que nos escreve, quando nos é uma pessoa já escolarizada. Ouso destarte afirmar que escrever bem torna-nos intelectualmente atraentes. E, se calhar, o que faz as meninas guardarem as cartas de amor não seja somente o sentimento belo que há nelas, mas também a estética da palavra. Ademais, o mero acto de escrever ajuda-nos a compreender os nossos sentimentos e pensamentos como já alegara a filósofa Hannah Arendt. E é, deste modo, que quem escreve sobre suas intimidades amiúde se encontra num estado de introspecção e de desabafo – escrever alivia e muito. Portanto, ensinar seu filho a escrever bem quanto mais cedo possível é mesmo que o munir dum instrumento de grande valor no auto-conhecimento.

Retomando a minha brincadeira de “um dia mudo”, a mesma convém às crianças que já saibam minimamente construir uma frase simples, ainda com erros gramaticais. Quanto mais escreverem, mais oportunidades terão para rectificar seus erros, do que quando se limitam na simples leitura. Sendo assim, os pais devem encarregar-se pelo acompanhamento dos filhos no processo da exploração do universo da escrita, ajudando-os sempre a melhor expressar-se. E a brincadeira jovial de “um dia mudo” consiste em o pai arranjar um dia da semana em que ele e outros membros da família devam servir-se unicamente da escrita para comunicar-se com o filho. Ou seja, nesse tal dia, eles têm de se comportar como mudos, ninguém se vale da voz para falar com a criança, toda a comunicação deve decorrer na troca de bilhetes. O filho escreve, o pai e a família correspondem-lhe escrevendo.

Neste processo de diálogo escrito, o pai deve ir anotando as possíveis falhas gramaticais que seu filho for a cometer. Ele não precisa mandar o filho corrigir-se no exacto momento. Melhor guardarem-se as correções para o dia seguinte. E, quando estiver a fazê-las, nunca deve repreender o filho de modo impolido. Deve-se, sim, mostrar-lhe a forma correcta das expressões e ensina-lo a consultar as palavras no dicionário. Por outro lado, deve saber elogiar os avanços do menino, por pequeníssimos que sejam. O elogio é mais motivador que a crítica.

No princípio, o desafio pode ser meio fatigante. Se assim o for, preconizo que se reduza o tempo de comunicação escrita para meio dia. No entanto, tem de haver sempre a tendência de se aumentar o tempo da mudez. Faça a brincadeira com fé de que o exercício é a mãe do aperfeiçoamento. E, lembre-se sempre, o envolvimento da família na educação da criança é responsável por uma considerável porcentagem no rendimento escolar da criança  e, principalmente, fá-la permanecer no sistema escolar com bel-prazer. Faça do dia mudo, um momento fotográfico entre a família e o filho.




*(estudante de filosofia na UEM)
(27 de Outubro de 2014)
E-mail: tsembah@gmail.com

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