terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Opinião/ Educação:O Curso de Licenciatura em História: Realidade e Utopia (ou simplesmente “Ecos da Segunda Oficina de História”)



O Curso de Licenciatura em História: Realidade e Utopia (ou simplesmente “Ecos da Segunda Oficina de História”)

                                                       Por: Lino António Guirrungo*

No dia 18 de Dezembro de 2015 participei da „2ª Oficina de História‟, que teve lugar na Sala de Leitura do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), subordinada ao tema „Como arranjar emprego em História?‟. O evento foi organizado pela “Oficina de História (Moçambique)”, um movimento criado por jovens estudantes do Departamento de História da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e da Universidade Pedagógica (UP).

A singularidade do evento está no facto de ter conseguido reunir um painel de jovens recém-licenciados (dr. Herman Tinosse & dr. Maider Mavie), que singraram no mercado laboral, associados a um professor já com larga experiência (Prof. Dr. Eléusio dos Prazeres Viegas). Para além disso, a „2ª Oficina de História‟ foi notavelmente transversal ao campo do Curso de História ao conseguir atrair diferentes grupos de pessoas, muitos deles formados em áreas alheias àquela ciência social.

Do que se pôde depreender da cerimónia, não existe uma, fórmula mágica‟ que garanta que todos os formados em História possam automaticamente conseguir um emprego. Ainda assim, num olhar mais optimista do problema, os intervenientes concordaram que é possível criar diferentes soluções que proporcionam maiores possibilidades de sucesso no ramo laboral. Na minha opinião, as soluções apresentadas podem ser sintetizadas de duas maneiras: i) soluções estruturais e ii) soluções conjunturais.

O primeiro grupo de soluções aponta para o melhoramento do currículo do Curso de Licenciatura em História. Nesta perspectiva, decepcionante para aqueles que já fizeram a formação dado que não seriam afectados pela solução, o Curso de História, particularmente leccionado na UEM, deve ser reelaborado no sentido de permitir que o mesmo esteja mais próximo das exigências do mercado. Pelo que notei dos participantes, os estudantes formados em História na maior universidade pública do país, ainda mesmo no ingresso na universidade, ficam a saber que o seu curso é uma espécie de „limbo‟, isto é, um curso que não permite indicar de forma certa em que áreas poderão actuar (tal como ocorre com os formados, por exemplo, em Contabilidade ou Direito).



Se, por um lado, os estudantes formados na Universidade Eduardo Mondlane não podem ser considerados professores por excelência, uma vez que a Universidade Pedagógica já oferece aquela especialidade, ou ainda, por outro lado, documentalistas ou arquivistas, dado que existem também escolas de formação que se dedicam exclusivamente nessas áreas, estes ficam no vazio alimentado apenas pela retórica de que «o formado em História pode trabalhar em qualquer lugar».


É por isso que falo da condição de limbo na qual os estudantes de História da UEM estão inseridos. Eles podem actuar em qualquer sector (ou seja, nada está „prédefinido‟), desde que se reinventem nesse sentido. Creio que esta característica da História é bastante vantajosa dado que permite aos seus formados encontrarem um enquadramento em diferentes sectores laborais. A prova disso pode se encontrar nos próprios oradores da „2ª Oficina de História‟, já que dois deles actuam em áreas indirectamente distanciadas da História. No entanto, considero perigoso que os estudantes em História se acomodem aos lugares-comuns, como indicado pela frase citada no parágrafo anterior.

É preciso uma reinvenção curricular do Curso de Licenciatura em História que indique de forma relativamente clara e realista em que áreas poderão actuar os seus formados. Obviamente que não se pode esperar que isso ocorra da mesma forma como decorre com os estudantes de Veterinária, Contabilidade ou Direito. Não obstante, contrariamente ao apontado por um dos intervenientes do evento, não acredito que o facto de eu estudar a História da Logística em Moçambique ou a História das Transacções Comerciais faz de mim um especialista em gestão ou contabilidade. Não me parece realístico colocar as coisas dessa
forma.

O segundo grupo de soluções aponta para a criatividade individual na busca pelo emprego. Como mencionado no evento, o desemprego é um problema geral mas também apresenta especificidades para os formados em História (por algumas razões já acima indicadas). Neste sentido, foi apelado que os estudantes (ou os já formados) estejam bem claros daquilo que querem dos seus futuros profissionais de modo que criem soluções inovadoras na busca pelas oportunidades de emprego.



A solicitação apresentada na cerimónia é bastante salutar porque incentivou que os estudantes (ou formados) em História procurem criar projectos de pesquisas que mostrem viabilidades para a mudança social. Além disso, dada a transversalidade ou „omnipresença‟ (como sarcasticamente cunhada por um dos intervenientes do evento) da História, foi dito que era possível os formados em História trabalharem em áreas que de antemão fogem da sua zona de conforto (pesquisa, documentação/arquivística, ensino). Ainda nesta segunda perspectiva de soluções, acredito que os intervenientes da „2ª Oficina de História‟ tenham ignorado ou deixado de enfatizar alguns aspectos na solução do problema em questão.
 
O primeiro aspecto que importante é o apoio que os formados em História devem receber, tanto institucional como de particulares. Por apoio institucional refiro-me à criação de estágios profissionais para os estudantes do Curso de Licenciatura em História, organizados por parcerias da própria Universidade (ou do departamento que tutela o curso) com as empresas. O apoio de particulares, dependente das relações sociais que os estudantes criam ao longo da formação, está ligado ao apadrinhamento por parte de professores ou outras individualidades aos estudantes tidos como esforçados.

Entretanto, reconhecendo a dificuldade de implementar as soluções acima, é preciso que os formados aprendam com urgência a fazer os documentos necessários na busca por oportunidades de trabalho (CV‟s, cartas de apresentação, cartas de pedido de estágios, etc.). Em caso de desconhecimento, hoje em dia, a internet é uma excelente plataforma para iniciar as primeiras buscas. Ou, como indicado por um dos participantes da cerimónia, os formados devem procurar obter as informações sobre como redigir tais documentos em pessoas mais experientes. Em virtude da pouca experiência que os formados possuem, é essencial que estes participem de grupos voluntários ou de formações gratuitas ou monetariamente acessíveis como forma de enriquecer os seus currículos.

É igualmente importante que os formados em História não se desesperem mas que permaneçam firmes e convictos na busca por oportunidades de trabalho. Até porque aqueles que não concebem utopias as quais se agarrem, facilmente temem o futuro ou vivem de remorsos do seu passado.

* (Licenciado em História pela Universidade Eduardo Mondlane [UEM])

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