segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Crónica: It’s all Fucked


It’s all Fucked 
                                                                                       Autor: Albert Massango
‘It’s all fucked up. Quando a tempestade bate na porta, o vento e chuva arrastam-nos e nos transformam em novos seres, bons ou maus’, estas palavras passavam-me pela mente quando acordei à madrugada de hoje, com perturbações mentais que me escravizavam e, em parte, me faziam duvidar da minha própria existência (penso logo existo, como disse Descarte, mas eu pensava duvidando da minha própria existência).   
       
Não conseguia pensar em mais outra coisa senão no passado, presente e futuro, três tempos com idades diferentes, um mais velho que o outro. Conhece-se o passado através da mente, aliás, o pretérito é um caminho que nos guia ao presente e o futuro, por seu turno, constitui um mistério se não uma incógnita complexa e indecifrável.
Ergui-me aos poucos, entretanto sem ideia de o que fazer. Daí que matutei e a primeira ideia que me surgiu foi dirigir-me ao livro que lia, O Ladrão que Estudava Espinosa, de Lawrence Block.

 Já estava com o livro nas mãos, lendo a página que me introduzia ao quarto capítulo, quando repentinamente constatei que não fazia sentido prosseguir com a leitura porque me faltava atenção, (quando dei por mim estava a repetir o mesmo parágrafo pela quarta vez).  
Descobres que a vida faz pouco sentido quando estás sozinho enclausurado em pensamentos que te escravizam e que te levam a pensar na própria existência – às vezes me dava vontade de parar de pensar no que realmente me tirava atenção e o sono mas, damn, eu era incapaz.

Atirei o livro ao chão, tendo, de imediato, ficado deitado de costas pensando em todo aquele cenário que na minha mente se projectava criando uma frustração, uma espécie de imagens e vozes que me perseguiam mesmo quando tentava me distrair.       
Porque não sabia se tinha de me levantar ou continuar a dormir, optei em ficar de cócoras no centro da cama, absorto em pensamentos indecifráveis. (até agora, sou incapaz de te dizer o que me teria passado pela mente, para além dos três tempos)
Notando que uma dor de cabeça e um sentimento de solidão me invadiam, pego no celular para falar com alguém, à procura de um antídoto, mas esta simplesmente não responde à chamada.

 ‘Estou simplesmente cansado. Estou farto do trabalho, da faculdade e dos abraços fervorosos’, passou esta frase pela cabeça, para significar que estou farto de ser parte destas falsas relações – que me enchem de abraços fervorosos mas, no fundo, vazios.
Talvez faça sentido ser um ser único. Daí distancio-me do celular, tento cobrir-me com os lençóis mas sinto um calor infernal, que me cria uma macabra vertigem. Fecho os olhos, vejo uma escuridão, volto a abri-los e o brilho da lâmpada causa-me uma outra vertigem.

‘O que faço nesta solidão dolorida?’- questiono-me, entretanto, a resposta não me vem. Talvez a solidão faça sentido, pois nascemos e morreremos sós. Aliás, não vou conseguir viver assim por muito tempo.                             


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