segunda-feira, 1 de maio de 2017

Crónica: Não estou à mercê de Ninguém

Não estou à mercê de Ninguém  
Autor: Albert Dalela
Fodas! Estou aqui sentado, não me pergunte onde, pensando na vida. Penso quase em tudo - na família, amigos, namorada, prostitutas, cigarros, faculdade e etcétera- os dias tornaram-se longos de mais, 24 horas parecem 72. Quando acordo, rezo para que o dia acabe logo. A minha rotina é mesmo uma foda, se não fico em casa lendo, vou à faculdade assistir às aulas ou tentar me apaixonar por uma garota que me mereça. Algumas aulas são boas e outras uma autêntica merda, só dão vontade de bocejar e dormir. Na verdade, só tenho respeito por um único professor, um tal Arturo, por este não dar relevância às burocracias curriculares e por se preocupar com o bem-estar dos estudantes.

- Pra mim, não interessa muito a nota do teste, quero ver a aplicação do estudante na aula, diz o professor Arturo, acrescentando que a nota não prova o quão um aluno é inteligente ou interessado em aprender e que nem sequer constitui item que demonstra coeficiente de inteligência.

Bons pedagogos ainda existem, aqui está o Arturo, um senhor baixinho, careca, gay e homofóbico. Nunca percebi como é que um tipo gay era ao mesmo tempo homofóbico. Deixando disso, entretanto, tenho uma enorme admiração pelo professor Arturo.

O resto dos professores constitui um grupo de merda, verdadeiros burros que fingem ser génios. Um dia, durante a aula, discuti seriamente com um dos professores, um tal chamado Couto. O motivo da discussão foi o seguinte: eu estava no quadro, resolvendo um exercício daí que não o acertei completamente tendo sido, para Couto, um motivo para chamar-me nomes.

-Tu és um burro mesmo, como foste capaz de errar este exercício? Vocês não estudam, pah, seus filhos da puta – disse aquele Couto. A partir de já, recuso-me a tratá-lo como professor, aquele gajo é um filho da mãe que não merece nenhum título. Porque tudo que começa finda, eu queria pôr um fim naquilo, estava cansado de ser insultado. Posso até ser um quadrado mas nego que me chamem filha da puta, daí que respondi aos insultos.

- Você é um filho da puta também, senhor, por isso é que está entre nós teus alunos, que o senhor prefere chamar de filhos da puta. Estava com muita raiva, já fazia tempo que o Couto nos humilhava.

- O que disseste? A partir de hoje, estás proibido de assistir às minhas aulas. Assim sendo, saia daqui e não volte mais – foi o que Couto disse de imediato. Não pensei duas vezes para dizer alguma coisa após ter sido mandado embora da minha sala, infoestrutura construída com o dinheiro do povo.

- Não há problema, vou-me embora. Levo tudo que me pertence e me despacho daqui, fica o senhor com esses imbecis que aceitam ser chamados de filhos da puta. Eu não sou um deles, por isso, não se preocupe, saio daqui e nunca mais volto e, já agora, Tchau, filho da mãe. Pus-me fora da sala com os meus pertences. Pude ver o semblante do Couto, irritado. Em parte, pensei que ele estivesse arrependido mas, como se sabe, idiotas nunca se arrependem – pensam que arrependimento e redenção só devem constar do dicionário e ponto final.

“Dizem que faço parte duma geração perdida e sem futuro, uma geração de miúdos que não sabem nada, por isso ninguém se importa. No entanto, pergunto, como sou capaz de aprender se tenho um professor que me insulta ao invés de me mostrar o correcto?”, foi o que andei a pensar, quando já me encontrava bem distante da sala, matutando no perigo que professores como Couto significavam para o nosso sistema de educação, se realmente tivermos algum. Já não quero falar sobre o Couto, basta, pois não estou à sua mercê.

Ainda estou aqui sentado, já disse para não me perguntarem onde, agora com o pensamento concentrado na minha namorada. Aliás, não tenho namorada, sempre achei ridículo ter uma namorada – nunca gostei de dar relatórios, dizer o que faço, onde estou, com quem estou e etcétera. Namorar significa ter tempo para dar relatórios, pelo menos é o que tenho visto por aí. Para falar sério, com os meus vinte e um anos, só tive uma namorada e umas quatro meninas que fingi serem minhas namoradas, isso sem dar referência à miríade de gajas que andei a pegar. Não me levem a mal, não sou o que vocês pensam que sou - um mulherengo ou algo que o valha – meti-me com todas essas tipas na tentativa de encontrar um grande amor mas, para o meu azar, só conheci tontas e viciadas em sexo.

Falando em viciadas, vem-me a mente uma moça que a conheci numa livraria, em Maputo. A tipa chamava-se Madalena, tinha um óptimo corpo, uma face meio artificial mas interessante, seios que chamavam atenção, se interessava por livros apesar de serem aqueles cor-de-rosa – os que se debruçam sobre moda, com um daqueles títulos: como andar de mini-saia durante o inverno. Essa tipa foi uma daquelas que fingi ser minha namorada. Andamos juntos por três meses, víamo-nos quase todos os dias e fodíamos no mínimo dez vezes por semana. Enquanto “namorados” só abdicávamos do sexo quando ela estivesse de período. Mesmo assim, ela se mostrava interessada em trepar mas a menstruação não permitia tal acto.

Ainda nos estávamos a conhecer, eu na expectativa de me apaixonar e ela já firme na ideia de que eu era o seu amor. Assim sendo, constatei que seria melhor terminar, pois não a amava e não fazia sentido mantê-la na expectativa de ser amada. A Madalena entrou em crise, mudou-se de Maputo para Beira e nem sequer pensa em regressar. Essa foi a última tipa que “namorei”. De lá para cá sou solteiro e gosto disso, não quero saber de mulheres nem amor. Não dependo deles.    
     
“Mamã, estou a chegar”- um minuto, volto já, a minha mãe me chama. Volto logo para continuar...                                                                                                                                               

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