sábado, 8 de julho de 2017

Literatura: Banalização do Símbolo Norte-americano no Leviathan, de Paul Auster

Banalização do Símbolo Norte-americano no Leviathan, de Paul Auster
Harold Broom, um dos maiores críticos literário dos nossos tempos e que criara polémica ao ridicularizar a narrativa sobre Harry Potter e o escritor Stephen King, já se referia à genialidade de Auster. Para Bloom, o autor de “Timbuktu” e “Música do Acaso” consta da lista dos escritores contemporâneos que deve ser lido, ou seja, é aconselhável que um amante de literatura o conheça. Desta feita, no presente artigo, pretendemos argumentar sobre uma das suas criações literárias.  
A obra intitulada Leviathan, da autoria desse escritor americano, reintroduz-nos ao conceito de puzzle, como se de um romance policial se tratasse. Na verdade, cabe ao leitor rotula-la, sendo que a mesma parece estar preocupada em se debruçar sobre diversos assuntos, mas, principalmente, sobre as relações humanas - a forma com que as pessoas lidam umas com as outras.

Nesta obra, com recurso à uma escrita simples mas introspectiva, Auster, autor traduzido em mais de trinta línguas, raciocina sobre amizade, fidelidade, amor, digressão, traição e morte. No que toca à morte, logo nas primeiras página da narrativa, o vencedor do prémio Príncipe das Astúrias de Literatura 2006, brinda-nos com uma prolepse, que constitui fio condutor da diegese no seu todo, pois quando se busca compreender a morte do personagem, surgem mais questões.
“Há seis dias, um homem foi morto por uma explosão na berma de uma estrada algures do Wisconsin […] junto ao seu carro, quando a bomba que estava a montar explodiu acidentalmente”, assim inicia a narrativa, com ingredientes básicos para hipnotizar o leitor, seja ele assíduo ou não.      
Na obra, são-nos apresentadas personagens redondas e extremamente inusitadas, como é o caso de Sachs (o homem morto) – revoltado consigo mesmo, bem como com a sua sociedade, aliás, chamá-lo-emos “antipatriota” por se rebelar contra os símbolos americanos, a Estátua da Liberdade. Para este, aquele símbolo não tem nada que ver com a liberdade senão com a exibição da “supremacia” da democracia norte-americana.
 É sabido que Auster, nas suas obras, nos traz sempre reflexões atinentes à sua paixão desenfreada pela escrita e literatura e, neste livro, não será diferente, dado que Sachs, preso e condenado dezassete anos por se recusar a combater na Guerra de Vietname, escreve um romance subversivo, que o intitula The New colossus. 
“Tendo em conta que a guerra grassava no Vietname e que Sachs fora preso por causa dela, não era difícil perceber de onde lhe viera essa raiva”, conta o narrador.    
Provavelmente, essa é uma crítica ao ideal americano de ser “o berço da democracia”, sendo que Sachs é demasiado descontente com o sistema e todas suas acções colocam em causa a integridade da “grande nação”.

Sob o ponto de vista biográfico, o protagonista chega a ter traços semelhantes que os do autor, na medida em que é também escritor e tradutor, regressado da França. Talvez seja uma manifestação do um ulter ego. Ao observarmos atentamente, a ideia de ulter ego pode ser sustentada nas passagens em que o protagonista esbanja comentários sobre os autores que o teriam influenciado no seu processo de escrita; e tais autores são os mesmos que Auster dá referência em suas entrevistas: Mark Twain, Nathaniel Hawtron e Fiódor Dostoiéviski.  
Em linhas gerais, ao nos debruçarmos sobre Levithan é inadmissível contornarmos ao código ideológico que nos faz constatar que o autor nesta obra, através das acções levadas a cabo pelas suas personagens, tinha como pretensão questionar o sistema político vigente nos Estados Unidos e “matar” a ideia de se ser nacionalista.

Autor: Alberto Massango

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