segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Conto:Renegado Pelo Suicídio






Renegado Pelo Suicídio 

Por:Alberto Massango


Já andava taciturno e indignado quando chegou à conclusão de que o antídoto para as suas úlceras era o suicídio, pois, a medicina, desde a moderna à tradicional, não tinha argumentos para responder às suas inquietações.

Presta atenção, tu que agora me lês, o episódio que agora te vou contar, sucedera a um amigo, chamado Djimo. Sei que te questionas, neste exacto momento, o seguinte: “qual é a relevância de ele me falar sobre a vida do seu amigo, o Djimo?”

Bem, até que te poderia contar uma outra história bem interessante sobre um grupo de cinco putas da Baixa, todavia, hoje, quero contar a história do Djimo, pois é mais interessante que a das meretrizes. No entanto, juro que da próxima contar-te-ei a história das putas, ouviu?   
        
Tal como dizia, a priori, há muito tempo que o nosso amigo, Djimo, andava indignado com tudo e todos. Os filósofos diriam que ele se encontrava numa crise existencial, entretanto, eu prefiro afirmar, simplesmente, que aquele tipo não estava bem consigo mesmo.

Depois de um dia cansativo de trabalho, e um banho de insultos que tomara do seu patrão, Djimo, que era casado com uma bela dama de peitos três vezes mais empertigados que os comuns, voltara para casa com o intuito primário de tomar um banho quente, em homenagem a uma mulher de seios gigantes que lhe sufocava no xapa, bem como tomar uma chávena de chá, logo após o jantar preparado pela sua amada esposa.

Esqueci-me do nome da esposa do Djimo, quando me lembrar, digo-te, mas espero que não seja no último parágrafo deste texto.     
 
No “xapa”, onde o Djimo fora sufocado pela mulher dos seios gigantes, tivera que fazer um esforço enorme para respirar, lobrigar as paragens, suster o monco que descia lentamente do nariz, mexer os lábios e, até mesmo, ouvir os sons emitidos pelos passageiros, pois o “xapa” estava tão cheio à semelhança duma lata de sardinha.

Ali dentro, Djimo, uma vez que não se podia mexer, só lhe restava pensar na nudez da mulher dos seios gigantes, que mantinha, igualmente, as coxas grudadas no seu falo, causando-lhe uma erecção. Portanto, ele matutava, de si para si, que a melhor opção era descer imediatamente do “xapa”, encontrar um sítio privado, para se masturbar e despejar o seu sémen numa garrafa qualquer.
Reparem que a sua esposa e a mulher do xapa têm, ambas, peitos empertigados e gigantes. Daí que Djimo, ao ser agasalhado pela massa peitoral da mulher do xapa, se imaginava em casa, na cama, fazendo a sua esposa gemer que nem uma cadela em plena noite de lua cheia.

Estou pouco me lixando para os preconceituosos, aqueles tipos com tabus para falar de sexo, mas, uma vez que a vida é uma cadeia perpétua, tal como dizia o velho do Cus de Judas, espero que se libertem do preconceito, falando da vagina besuntada e do pénis teso, como deve ser.
      
“Foda-se, foda-se, quem me dera fazer-te chupar o meu pau teso castigado pelas tuas coxas, mulher do xapa”— pensava o Djimo, mas, sem articular nenhuma palavra, tendo de imediato constatado que, ao descer do “xapa”, passaria pela casa do seu amigo, de idade indecisa, entre os trinta e quarenta e cinco anos, com o intuito de contá-lo o quão o seu dia laboral fora cansativo e irritante.   

Tendo já descido do xapa, Djimo caminhava lentamente, sem pressa, como um camaleão, em direcção a casa do amigo. No entanto, antes de lá chegar, passou por uma barraca, que tresandava a preservativos usados e excrementos de homens ébrios, comprou dois cigarros e fumou-os em três minutos.

Na casa do nosso amigo, o tido como braço-direito, normalmente, entramos sem receios a qualquer hora, portanto, foi da mesma forma, sem rodeios, que ele se direccionou ao quarto do companheiro, passando pela sala de estar. O tal amigo morava sozinho.

Quando as coisas estão predestinadas a acontecer, acontecem. Quem poderia pensar que, logo naquele dia, o Djimo passaria pela casa do amigo ao invés de ir directamente para casa encontrar a sua companheira? Nem o seu amigo e muito menos a sua esposa, pois não era seu costume andar em paragens, depois de um longo dia de trabalho.

Quando o Djimo empurrou a porta do quarto, sem pedir licença, como era de costume, sentiu-se sepultado e cremado ao mesmo tempo, pois a sua esposa amada e o seu melhor amigo, estavam na cama, levando a cabo a maior orgia sexual que se pode imaginar.

Finalmente lembrei-me do nome da esposa do Djimo, chama-se Esperança. Bem, mesmo sem querer, quando oiço falar de putas, neste país, vem-me o nome dela, Puta Esperança.

A Esperança, que gemia histérica, sobre o falo do amigo do Djimo, ficou gelada ao ver bruscamente a cara do seu esposo naquele quarto. O ambiente tornou-se silencioso como se de morte se tratasse, ninguém falava, nem o Djimo, nem a sua esposa e, muito menos, o braço-direito. Ninguém explicava nada a ninguém, apenas se olhavam sem mais nem menos, nem um “oi” pelo menos.

Dali, cheio de raiva, melancolia, Djimo pôs-se fora da casa, passou por uma outra barraca, comprou um maço de cigarros para se aliviar da dor, Afinal de contas, encontrara a sua amada e o seu braço-direito numa viagem sexual.

Quando chegou a sua casa, após ter pensado e chegado a conclusão de que o suicídio é a única solução para a sua dor, nas gavetas do armário, pegou num frasco que continha uma substância química usada na matança de ratos, misturou com wisk e bebeu. Tomada a dose, Djimo ficou deitado de barriga na cama, com a sensação de que as lombrigas lhe saiam pelo nariz e orelhas, esperando pela morte que tardava chegar.

Passados trinta minutos, o veneno perdera o seu potencial e o Djimo continuava vivo, mas só queria morrer. Sem demora, pegou numa corda que lhe fora oferecido pelo avô para sei lá o quê — a corda era grossa, com três metros e uma penugem. Desta vez, ele queria matar-se ao modelo tradicional, na medida em que o primeiro não dera certo nem se sabe porquê, pois com os outros funcionou em fracções de segundos.

Tratou de fazer o nó da corda, que depois colocou no seu longo pescoço, arranjou uma poltrona, pendurou a corda no barrote, acendeu um cigarro, contou três vezes, e deixou-se a baloiçar lentamente.


Bruscamente, o barrote, que já estava cansado à semelhança de todo material que cobria a casa, que data desde os anos sessenta, e com sinais de podridão e ruína, partiu-se fazendo desabar todo telhado do edifício. Mais uma vez, tentativa falhada, o Djimo não conseguira se suicidar apenas fracturara a maxilar.

AM//EAC

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